quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Maria de Jesus Fernandes: "Portugal é o quarto país da Europa com mais espécies em risco de extinção"

No contexto de todas as formas de vida, as árvores são aquelas que mais peso de biomassa têm no planeta. Já o peso do ser humano é pequeno, porém, o seu impacto em todos os ecossistemas é avassalador.


Os últimos consensos científicos indicam que um milhão de espécies está em risco de extinção; apenas 13,2% dos oceanos estão em condições mais ou menos intactas; apenas 4% dos animais vivem em ambiente selvagem; e que, se a temperatura aumentar 1,5º, entre 70% a 90% dos corais irão desaparecer, e com eles também uma parte muito significativa da vida nos oceanos.

Foi com estes números que Maria de Jesus Fernandes, bastonária da Ordem dos Biólogos, abriu a sua participação como keynote speaker no debate ‘Preservação do Capital Natural – Preservar a Biodiversidade’, naquele que é o segundo ciclo de talks sobre sustentabilidade organizado pelo Jornal de Negócios.

"O problema é grave. Como podemos ultrapassar isto? Há duas soluções. Uma tem a ver com descarbonizar a economia e a outra com a reconstrução da natureza. De facto, se já não podemos preservar as condições naturais - porque já quase não as temos - temos mesmo de avançar para projetos de renaturalização, restauro e recuperação", referiu.

No caso de Portugal, o cenário também é muito preocupante. O Relatório Nacional de Aplicação da Diretiva Habitats indica que a conservação da maior parte das espécies, nomeadamente invertebrados, alguns grupos de peixes, mamíferos e habitats, está a deteriorar-se. "Portugal é o quarto país da Europa com mais espécies em risco de extinção. Isto também se deve ao facto de termos uma enorme biodiversidade, é verdade, mas é problemático que o risco seja já tão elevado", referiu a bastonária.

Para além do impacto das alterações climáticas, segundo a bastonária, a introdução de espécies exóticas está a impactar também as condições de vida das espécies autóctones.

"A quantidade de espécies exóticas que temos no nosso país e a quantidade de espécies exóticas que têm comportamentos invasivos relativamente às espécies nativas dos habitas é de tal forma grande e agressivo que põem de facto em risco muitas das nossas espécies endémicas, principalmente as mais sensíveis. Por exemplo, a erva das pampas é daquelas que neste momento invadiu o país. Foi trazida por razões ornamentais e hoje cobre grandes campos com uma capacidade de explosão imensa", explica Maria de Jesus Fernandes.

Sem comentários: