domingo, 23 de abril de 2017

Cheias de 1967 - entrevista com o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles


As cheias de 1967 terão sido a maior calamidade algesina desde o terramoto de 1755, tendo em conta a sua participação nos projectos de urbanização do vale de Algés, não haverá melhor pessoa para avaliar as causas e apontar os erros que a provocaram do que o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles [1][2]. A entrevista é dos arquivos da RTP e remonta a 1973, altura em que a urbanização de Miraflores e vale de Algés estava já a ser implementada há alguns anos. 44 anos depois, analisando a explicação de arquitecto as preocupações com que fico são muitas, ainda mais se considerarmos que tudo o que foi construído depois segue exactamente contra o que se seria correcto ter sido feito. As recentes construções do quartel dos Bombeiros Voluntários de Algés, do novo centro de saúde e de várias escolas em leito de cheia e em zona de perigo de tsunamis são um perigo a considerar ainda mais não existindo ainda o tão falado sistema de alerta de tsunamis, cataclismo que ameaça seriamente Lisboa e as zonas das suas ribeiras. Nada mais claro do que as sábias palavras do grande arquitecto que é Gonçalo Ribeiro Teles, o perigo existe ainda e será porventura mais grave do que em 1967 caso se venham a verificar os mesmo níveis de intensidade das chuvas na região de Lisboa. A recente autorização camarária de construção de uma nova urbanização em Miraflores com 1600 fogos de habitação irá agravar ainda mais esta situação pondo em sério risco todas as habitações na baixa de Algés, uma vez que irá servir de bloqueio ás águas provenientes da encosta do Alto do Duque.

[1] arquitecto paisagista, ecologista e político português. Foi Subsecretário de Estado do Ambiente nos Governos Provisórios de Adelino da Palma Carlos e Vasco Gonçalves e Ministro de Estado e da Qualidade de Vida do VII Governo Constitucional (AD, Francisco Pinto Balsemão), de 1981 a 1983. Criou as zonas protegidas da Reserva Agrícola Nacional, da Reserva Ecológica Nacional e as bases do Plano Director Municipal de Lisboa. Entre os seus projectos, são de assinalar o projecto de Urbanização do vale de Algés, o espaço público do Bairro das Estacas, em Alvalade; os jardins da Capela de São Jerónimo, no Restelo; a cobertura vegetal da colina do Castelo de São Jorge; os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, que assinou com António Viana Barreto e [2] — recebendo, ex aequo, o Prémio Valmor de 1975 —; o Jardim Amália Rodrigues, junto ao Parque Eduardo VII, em 1996; e o conjunto de projectos que concebeu, entre 1998 a 2002, por solicitação da Câmara Municipal de Lisboa, das estruturas verdes principal e secundária da Área Metropolitana de Lisboa, e que se encontram hoje em diferentes fases de implementação: o Vale de Alcântara e a Radial de Benfica, o Vale de Chelas, o Parque Periférico, o Corredor Verde de Monsanto e a Integração na Estrutura Verde Principal de Lisboa da Zona Ribeirinha Oriental e Ocidental. Em Abril de 2013 foi galardoado com o Prémio Sir Geoffrey Jellicoe, a mais importante distinção internacional no âmbito da arquitectura paisagista.

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