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‘Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental’ ainda não está concluída, mas os resultados da avaliação preliminar feita até agora permitem perceber que mais de metade das plantas vasculares (espécies da flora com vasos que transportam seiva para alimentar as células) nativas do continente português estão em risco de desaparecerem. Das cerca de 630 plantas já catalogadas no projeto liderado pela Sociedade Portuguesa de Botânica, 381 estão em risco, um quinto das quais “criticamente em perigo”, e 24 já se extinguiram em solo português.
Nesta lista incluem-se flores, árvores, fetos ou arbustos. Entre as que estão à beira da extinção, os investigadores destacam a Onosma tricerosperma (ver foto) uma planta cujo único núcleo populacional português (com apenas 20 “indivíduos”) existe apenas num local na região de Beja, depois de um outro ter sido destruído recentemente devido à instalação de um pomar.
Aliás, “a expansão e intensificação agrícola é efetivamente uma das ameaças mais graves que recaem sobre a flora do nosso país, afetando quase um terço das plantas avaliadas no projeto”, sublinha a Sociedade Portuguesa de Botânica, apontando o dedo ao olival e a outras culturas intensivas de regadio que estão a invadir o Alentejo e o Algarve.
À intensificação agrícola, juntaram-se as alterações no uso do solo associadas à expansão urbanística num “cocktail” explosivo para a extinção das 24 espécies identificadas. Entre estas constam a Armeria neglecta e Armeria arcuata (um pequeno arbusto que habitava exclusivamente clareiras de matos do Baixo Alentejo), a Ononis hirta, ou a Epipactis palustris, uma orquídea que outrora habitava prados húmidos nas regiões do Douro e Beira Litoral. Ver mais aqui.
Outra das plantas em declínio acentuado é o feto aquático Marsilea quadrifolia, mais conhecido como trevo-de-quatro-folhas, cujo último núcleo populacional conhecido em Portugal estava localizado perto da foz do rio Corgo, em Trás-os-Montes, mas não é observado desde 2014. Este feto ainda não foi declarado extinto, mas poderá vir a sê-lo se continuar a não ser visto até 2027. Também criticamente em perigo está o Narcisus cavanillessii, uma espécie de narciso que perdeu 80% da população nacional.
REDESCOBERTA DA VIOLETA HIRTA
Mas não há só extinções, já que se descobriram plantas novas ou que já se julgavam extintas, como a Viola hirta, um tipo de violeta que não se via desde a década de 90 do século XX e que foi reencontrada em Trás-os-Montes.
O projeto conta também com a coordenação da Associação Portuguesa de Ciência da Vegetação (PHYTOS) e a parceria do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, e a colaboração de botânicos amadores.
O trabalho de levantamento da "Lista Vermelha das Plantas Vasculares" começou em 2016 e deverá estar concluído até junho de 2019. Na Europa, apenas Portugal, Macedónia e Montenegro não dispõem de Listas Vermelhas da Flora, quando os outros já vão na sua segunda ou terceira revisão.
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