Cientistas e engenheiros da Universidade Tecnológica de Viena estão trabalhando numa brilhante estrutura de aço de quase dois andares. Trata-se de uma "usina de gasificação" de nova geração, tecnologia em que a universidade foi pioneira, algumas décadas atrás. Ela transforma biomassa em gás, usado na produção de eletricidade na Áustria e em outros países europeus.
O problema atual dessa fonte energética é a aquisição da biomassa para alimentar as usinas. Devido ao contínuo aumento dos preços de madeira e das plantas empregadas na produção de biocombustível, a tecnologia não consegue competir com outros combustíveis renováveis ou com os fósseis. Assim, a União Europeia está patrocinando um projeto para transformar em biocombustível o bagaço resultante do fabrico de azeite de oliva.
O pesquisador Stefan Müller integra a equipe da Universidade Tecnológica que explora esse potencial energético. Ele alinha sobre sua mesa garrafas com resíduos de azeitonas: alguns são facilmente identificáveis como restos dos frutos, outros mais parecem areia de praia escura. Essa "areia", que Müller denomina "olivina", é a matéria-prima das centrais de gasificação.
"O operador do moinho de azeite quer tirar o que puder da azeitona. Ele faz de tudo para extrair o máximo possível", comenta o pesquisador. "No final, sobram esses resíduos, onde quase não há mais nenhum óleo. É como o lixo dos moinhos de azeitonas, mas ainda contém uma grande quantidade de energia."
Fonte: Deutsche Welle 23.05.2014
Rico em energia
"O laboratório é especializado na análise de compostos fenólicos, em diferentes tipos de materiais brutos, para utilização em produtos como cosméticos, suplementos alimentares ou alimentos", relatou o diretor do Phenobio, Xavier Vitrac, ao site francês LaBiotech.O projeto Phenolive, cofinanciado pela UE, consiste em aproveitar até a última gota o potencial das azeitonas. Os cientistas do laboratório Phenobio, uma companhia startup iniciada em 2012 na Universidade de Bordeaux, também têm um papel fundamental. Eles identificam os compostos químicos que restam no bagaço, após a retirada do azeite e antes da transformação em energia.
Segundo ele, extrair os polifenóis adiciona valor ao bagaço da azeitona. As substâncias são usadas como antioxidantes em alimentos e cosméticos. Segundo o website do Phenolive, dentro de alguns anos esse mercado deverá movimentar na Europa 290 milhões de euros anuais.
"Somos bem conscientes quanto à utilização dos recursos que temos. Por isso, esses materiais residuais estão em foco agora, para os empregarmos em produtos de valor elevado", comenta o pesquisador Müller.
As pequenas proporções da usina de gasificação que está sendo desenvolvida na universidade em Viena permitem que ela seja montada in loco, em grandes plantações e moinhos de azeitonas. A energia produzida deverá ser consumida dentro das próprias fábricas de óleo de oliva.
"É importante que se use a energia próximo à usina onde os resíduos são gerados. O plano é cobrir a demanda de eletricidade e aquecimento dos moinhos com a gasificação do bagaço", enfatiza Stefan Müller. Ele acredita, ainda, que o projeto liberará os fabricantes dos custos da eliminação dos resíduos de produção.
Também combustível líquido
A equipe de pesquisadores menciona, ainda, suas pesquisas para a produção de combustível líquido a partir de biomassa. Isso permitiria à indústria de azeite de oliva abastecer seus veículos de transporte com combustível produzido a partir do bagaço de azeitona.O bagaço da azeitona já está sendo queimado como combustível em algumas regiões da Europa. Contudo a intenção de Müller é analisar o resíduo e investigar exaustivamente seu potencial energético. Ele pode ser também usado como adubo ou fertilizante.
Uma usina de gasificação em Güssing, Áustria, já está produzindo combustível líquido para veículos. "A ideia é que seja uma biorrefinaria. É a produção de combustíveis do futuro, a partir de fontes renováveis", diz o engenheiro Johannes Schmid, que tem como meta declarada provar que refinarias não precisam queimar combustíveis fósseis.
A Europa produz 80 milhões de toneladas de bagaço de azeitona por ano, segundo o Phenolive. Se os cientistas do projeto tiverem sucesso, o empreendimento poderá impulsionar o setor de produção de óleo de oliva e reduzir significativamente seus custos, sobretudo de energia.
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