quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Do FOGO POSTO escrito por Alexandre O´Neill ao fogo imposto?

O BioTerra está muito poético.Tenho tempos em que fico assim, mais mediditativo, mais zangado.Acredito muito na Poesia e os poetas são os meus pássaros: dão-me asas para os meus sonhos; elevam-me o espírito sem gastar um centimo; são como gosto de dizer os jardineiros da alma.
Os poetas descrevem com mais rigor todas as sensações e emoções que vivemos.Despem-nos sem ser preciso retirar máscaras nem a roupagem e por isso muitos os detestam ou viram-lhes as costas. Acontece o mesmo aos trovadores, malabaristas e ecologistas(?).
Os poemas são arvores, o chão, o ar que preciso de respirar por vezes...
Os poetas têm aquela mestria da economia das palavras que nos remetem ao sangue, à rectidão, à coragem, à dor, à flor, à floresta dos sentimentos, ao sexo, ao mundo tangível. Por vezes,há também aquelas palavras que nos tornam melhores, nos bajulam ou então humilham-nos, porque nos fazem rever o mal que fizemos...
Costumo dizer aos meus alunos que os poetas e alguns romancistas são meus amigos e também costumo dizer aos meus alunos que visitar os espaços e tempo em que os poetas viveram ou fazer fé das suas belas palavras nas acções que todos exercem no seu dia a dia são actos de amizade e de respeito e homenagem deles em relação ao poeta.
Há muitos fogos a apagar neste País, além dos incêndios: a incompetência, a falta de civismo, a corrupção, o laxismo, o quebrar de sonhos prometidos, o medo, a inveja....
Gosto de recitar poemas...tenho um extracto do grande poema-combate de Alexandre O´Neill - FOGO POSTO que quero partilhar convosco em termos de conclusão (curiosamente fui ao Google procurar se alguém teria antecipadamente transcrito para a netesfera e não havia referência a nenhuma página com este tão oportuno poema).

Estou no centro do País, rodeado de incêndios.
Os pinheiros em fogo esbraseiam o ar.
Reguei telhado e o quintal porque as velhas são muitas.
A vizinha cega, sem qualquer progresso, vai tocando o seu órgão Tornado 4.
A irmã apanha velhas, mostra-mas na mão,
apagadas ou parecendo quase,
e fala do carteiro- motorizada aqui,
saco acolá,sapato mais além-
que, presuntivo pirómano, a si mesmo se teria apagado nas águas do Tejo


in As Horas Já de Números Vestidas, 1981


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