Militante socialista desde 1974, académico e defensor das causas ambientais, deixa um legado marcado pela combatividade cívica e pela defesa de Trás‑os‑Montes. Tinha 86 anos.
Nascido em Vila Real, em 1939, Eurico Figueiredo entrou cedo na vida política. Aos 16 anos aderiu ao MUD Juvenil e, dois anos depois, participou na campanha presidencial de Humberto Delgado, assumindo riscos reais perante a vigilância da PIDE. Em Lisboa, destacou-se no movimento estudantil, presidindo à Comissão Pró-Associação dos Estudantes de Medicina e desempenhando um papel central na Crise Académica de 1962. Foi o primeiro secretário-geral do Secretariado Nacional dos Estudantes Portugueses, estrutura que articulava a contestação académica ao regime. A repressão não tardou: foi expulso da Universidade de Lisboa por trinta meses e detido três vezes pela polícia política.
Transferido para Coimbra, ajudou a reorganizar a resistência estudantil e participou na criação do clandestino Movimento Sindical Estudantil. Em 1965, perante o agravamento da repressão, partiu para o exílio na Suíça, onde manteve ligações estreitas aos movimentos oposicionistas. Militante do PCP desde os 18 anos, rompeu com o partido em 1967, em protesto contra a invasão da Checoslováquia pela União Soviética.
Com o 25 de Abril, regressou a Portugal e integrou o Partido Socialista, onde militou desde 1974. Desempenhou vários cargos dirigentes e foi deputado à Assembleia da República nos anos 80 e ao longo da década de 90. Em 1999, afastou-se do PS, divergindo da linha política de António Guterres. Participou mais tarde na fundação do PDR e aproximou-se do MPT, pelo qual foi candidato a eleições legislativas e europeias.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu “com muita consternação” a notícia do falecimento, evocando Eurico Figueiredo como “um grande lutador pela Liberdade e pela Democracia, de uma verticalidade e de uma independência sem limite”. Numa nota divulgada este sábado, o chefe de Estado apresentou à família, aos amigos, correligionários e admiradores, bem como ao Partido Socialista, “o profundo pesar por uma perda de alcance nacional”.
Em reação à sua morte, o Partido Socialista lamentou a perda de um antigo deputado e ex-dirigente, recordando Eurico Figueiredo como “uma referência política incontornável para todos os socialistas”. Numa nota enviada às redações, o PS sublinhou a sua “tenacidade, combatividade e convicções”, mas também “uma imensa generosidade”, destacando ainda o seu papel como resistente antifascista, a participação ativa na campanha de Humberto Delgado e a intervenção nos movimentos estudantis de Lisboa e Coimbra.
O PS salientou igualmente o seu contributo pioneiro em áreas como a defesa do ambiente e a valorização de Trás-os-Montes e da identidade duriense, sublinhando que “a melhor homenagem” será a continuação do combate por “um país mais justo, mais coeso e solidário”.
Psiquiatra de formação, licenciado e doutorado em Medicina, Eurico Figueiredo foi professor catedrático e uma voz respeitada na área da saúde mental. A sua morte encerra o percurso de um resistente antifascista, académico e político que atravessou, com convicção e sentido cívico, algumas das páginas mais intensas da história contemporânea portuguesa.

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