segunda-feira, 16 de outubro de 2023

E se a crise Hamas-Israel ganhasse outra dimensão geográfica? O impacto na economia mundial poderia ser catastrófico


Com o conflito militar em curso na Ucrânia, e depois da pandemia de covid-19, desponta mais uma tragédia mundial: a guerra Hamas-Israel.
Nesta fase, como consequência do ataque inicial do Hamas e da resposta de Israel, são já milhares de vidas perdidas.
No plano económico, ainda antes do conflito Hamas-Israel, o contexto global era já de muita imprevisibilidade e apreensão. Ao contrário do que podia parecer, a economia mundial mantinha-se em suspenso e submetida a um elevado grau de instabilidade. O atual corte na produção de petróleo, estrategicamente levado a cabo pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, é um importante impulsionador da inflação. Por outro lado, a suspensão do acordo do Mar Negro, que impacta muito negativamente nos mercados de cereais, também configura um problema central à escala mundial. Com os preços dos combustíveis e dos cereais sob stress permanente, o ressurgimento da inflação manter-se-á latente. As partes que dominam petróleo, gás e cereais têm o poder de regular a estabilidade global.
Com a guerra Hamas-Israel, o enquadramento económico global agrava-se ainda mais. A agência de notícias financeiras norte-americana Bloomberg coloca em equação três cenários possíveis.
No caso de conflito permanecer confinado ao território palestiniano, o impacto nos preços do petróleo e na economia mundial será “reduzido”. Recorda-se que o recente desagravamento das relações entre EUA e Irão permitiu a este último aumentar significativamente a produção diária de petróleo. No entanto, como Teerão tem apoiado declaradamente grupos islâmicos que se opõem a Israel, qualquer envolvimento iraniano no ataque do Hamas a Israel poderia desencadear um confronto bélico de escala muito superior. Neste caso, o reforço das sanções dos EUA ao petróleo do Irão poderia penalizar os mercados mundiais em cerca de 700 mil barris desta matéria-prima por dia. Se assim fosse, segundo a Bloomberg, registar-se-ia um aumento estimado de três a quatro dólares nos preços do petróleo. O PIB mundial diminuiria 0,1 pontos percentuais. O impacto na inflação seria de 0,1 p.p.
Já se o conflito alastrasse ao Líbano e à Síria, o choque económico seria bastante mais significativo. O Irão apoia alguns grupos importantes nestes dois países. Um destes grupos é a organização política e paramilitar fundamentalista islâmica Hezbollah. O Hezbollah tem um papel central no Líbano. Com Líbano e Síria geograficamente envolvidos no atual confronto, as estimativas da Bloomberg apontam para uma subida de oito dólares no preço do barril de petróleo. O PIB mundial cairia 0,3 p.p. e a inflação registaria um aumento de 0,2 pontos percentuais.
Já um cenário ainda mais grave, de confronto militar direto entre Irão e Israel, poderia originar uma recessão global. A ameaça nuclear e a proximidade política e estratégica entre Irão e Rússia são dois pressupostos alarmantes. Por outro lado, a desestabilização efetiva de todo o Médio Oriente seria um acontecimento de consequências imprevisíveis e potencialmente catastróficas. Neste caso, segundo a Bloomberg, assistir-se-ia a um aumento de sessenta e quatro dólares no preço do barril de petróleo, a uma queda de 1,0 p.p. no PIB mundial e a um acréscimo de 1,2 pontos percentuais na inflação à escala global.
Independentemente dos três cenários traçados pela Bloomberg, o confronto Hamas-Israel é mais um acontecimento mundial que impulsiona a incerteza económica e financeira. Por esta razão, a volatilidade dos mercados começou já a fazer-se sentir.

3 comentários:

Carlos Faria disse...

Tirando a ameaça nuclear, vejamos: quanto maior o preço dos combustíveis fósseis, maior a procura e o investimento nas fontes de energia renováveis e tecnologias de eficiência energética.
Não há maior inimigo para a sustentabilidade do planeta que o vício do contínuo crescimento económico...
Agora que a guerra provoca sofrimento, é um facto, mas também é verdade que foram os construtores do estromatólitos que envenenaram a sua atmosfera com oxigénio.
Por outras palavras: a Terra assistirá o que acontecer e o Homo sapiens pode-se safar bem o mal no caminho que está a seguir, mas como geólogo sei que na estratigrafia e paleontologia me habituei a ter conhecimento dos fósseis de época... e este é o pior cenário para nós, mas será para a Bioterra?
Estou apenas a levantar questões incómodas amorais pois a Natureza não tem moral religiosa ou antrópica.

João Soares disse...

Carlos, sem dúvida. A Lyn Margulis, muito conhecedora das dinâmicas terrestres e das adaptações doa biosfera e a interação com a geosfera, delineou a Teria de Gaia.Está um pouco afastada dos debates sobre como obter energia. Soluções Baseadas na Natureza. Temos as tecnologias todas disponíveis: baterias de sódio, baterias de lítio, grafenos e queremos sempre mais. Este pensamento ultra-liberal e o "magic business" induz em erro se a sustentabilidade é mesmo real.
Um abraço

Carlos Faria disse...

Sim, li e sou próximo da teoria de Margulis e Lovelock sobre Gaia... falei de forma amoral para deixar claro que naquele raciocínio exposto expresssamente não coloquei o Homo sapiens acima de qualquer outra espécie existente nesta Gaia.
Ab