Gosto muito de conversar sobre música. Ainda encontro amigos meus puristas e cépticos em relação à música electrónica. Consideram-na insípida, não é música, porque é produzida por máquinas e não por humanos: tem que existir a guitarra, a voz humana. Laurie Anderson não percorreu caminhos exploratórios desse instrumento vocal? Pergunto eu. Outros fixaram-se em épocas: rock progressivo e não ovem mais nada. Eu pergunto: então os Doors, Yes, Pink Floyd, Jethro Tull, mesmo os Led Zeppelin não utilizaram teclados? Encolhem os ombros.
O que seriam os Depeche Mode e Kraftwerk se não foram também construtores de novos computadores, tal como nas épocas medievais até agora foram fabricadas diferentes guitarras? Outros questionam que a música electrónica nada lhes diz. É assimental. Estão errados. Quantos temas da synth-pop são tão românticos e emocionalmente arrebatadores como uma ópera de Verdi? "Forever Young" dos Alphaville, "Shout" dos Tears for Fears, "Biko" de Peter Gabirel. Há claramente uma qualidade dos instrumentistas e incomensuravelmente maior uma excelente orquestra, um maestro /maestrina magnífico(a). Aí concordo. Contudo, a música erudita foi-se adaptando aos tempos e por vezes na vanguarda da electrónica: Wim Mertens, Philip Glass, Iánnis Xenákis?
Fico triste que alguém chegue aos 73-75 anos e seja preconceituoso como Roger Waters, que disse, nesta semana, que não gosta de rock barulhento. Pois eu gosto: Metallica; Deep Purple, AC/DC, Black Sabbath, Slayer, Iron Maiden, Scorpions e vou até ao dark metal: Megadeth, Pantera. Gosto muito de King Diamond, Sepultura e Moonspell. Gosto muito do metal industrial: Fear Factory; Ministry; Nine Inch Nails; Ramstein; KMFDM, entre outros.
Aprecio imenso músicos que se inspiram nas ricas mitologias disponíveis: a nórdica, a germânica, a grega, a islandesa (Sigur Ros, Múm , Mammút, Bjork, Kælan Mikla). Gosto muito da Diamanda Galás. Como gosto de ouvir ao piano Maria João Pires a tocar Mozart, Chopin, Schubert, Bach, Brahms.
Outros amigos não entram no debate mais sério. Acham que a música deve ser lúdica e passar um bom tempo relaxante, sem ismos, nem classificações, nem merecer uma conceptualização mais abstracta e racional. Esquecem-se do imenso papel construtivo de uma nação inteira, que foram as óperas de Verdi, o unificador de Itália, um país difícil de gerar consensos. Até hoje. Quem não ama as óperas de Wagner? É difícil ficar indiferente. São muito criativas. As Lieder de Franz Schubert, cantadas especialmente por Dietrich Fischer-Dieskau?
Bem. Estamos a entrar no fim de semana. Hoje vou pelo encanto da música e o mais nobre sentimento que ela nos proporciona: prazer.
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