sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Ensaio - Contra a boçalidade, polarização, ódio, desinformação e reforço positivo nos jovens


Bom dia, amigos. Um dia de resistência. Uma greve geral!                            
Lembrei-me deste tema que se tronou um ícone da música gótica nos anos 80 e é muito actual.
Há músicas que falam de paisagens interiores — desertos de emoção, mares contidos, ventos que nos atravessam sem deixar rasto. “No Time to Cry”, dos Sisters of Mercy, é uma dessas paisagens sonoras: fria à superfície, mas pulsante por dentro.
Lançada em 1985, é uma confissão disfarçada de resistência. O narrador ergue-se entre ruínas afectivas e declara: “não há tempo para chorar”. Não por falta de sentimento, mas porque a dor já se tornou parte do caminho.
A voz grave de Andrew Eldritch ecoa como um mantra urbano — o cântico de uma humanidade que aprendeu a conter o pranto para sobreviver num mundo acelerado e distraído.
"I've got no time to cry" — sugere que o narrador tenta fugir das emoções, mantendo-se ocupado ou emocionalmente desligado.

Acontecimentos recentes daquele jovem de 14 anos que matou a mãe, ou ainda a filha que esfaqueou o pai. Chocou o País. Já foram ditas muitas opiniões. Na minha opinião a falta de barreiras na educação nos anos iniciais leva a que filhos pensem que podem tudo, que têm direito a tudo sem perceberem que têm igualmente deveres. Incapacidade de aceitarem o "não" às suas vontades, leva a comportamentos destes. Porém há que dizer sempre aos filhos que tal como a natureza, também o ser humano alterna entre ciclos de retraimento e renascimento. Há que dizer aos filhos o Não com convicção, para lhes fornecer ferramentas de integração social.  Há épocas em que o inverno domina a alma, e o gelo emocional é a única defesa possível. Nessa altura cabe à família a escuta e dizer-lhes sempre acreditar no Amor, porque na Natureza também há que sobreviver e as espécies, mesmo nesse silêncio, progridem e reinventam-se. Adaptam-se e avançam com novas estratégias.   

Claro que hoje em dia a tarefa dos pais é muito mais desafiante.. As redes sociais criam dependência, espalham violência, das mais variadas formas. A extrema direita está a alimentar o lado mais fraco que todos temos, está-se a banalizar o ódio, afectando a saúde mental de pais e filhos. Estas situações curam-se com pedagogia, da presença, dos bons exemplos, na família, amigos e até em comunidades. A comunicação social podia e devia ajudar. Porém o que se vê é explorar a violência até ao infinito (Correio da Manhã, p.ex.), dar palco à extrema-direita,  que alimentam o tal lado mau da humanidade. A média perdeu todo o seu sentido pedagógico: não fornece exemplos de altruísmo, de educação ambiental.  E também não podemos esquecer o espectáculo de boçalidade que ocorre com cada vez maior frequência e maior intensidade na AR. Porém, chegar a casa e conversar. Sem net, sem  TV. Ouvir os filhos, netos. 

Aos pais, avós e jovens, estou sempre a dizer: confiem, inspirem-se, leiam mais, adiram a alguma associação ambiental e ou de solidariedade. E façam actividades comuns junto da Natureza. Não adiem o Amor universal.

"No Time to Cry” é, assim, um espelho do nosso tempo: uma elegia à contenção, um hino à resistência emocional e, quem sabe, um lembrete de que até o mais frio dos corações espera pela primavera. É um processo individual e de escuta. E isso faz-se com activismo pró-activo, afectos, cooperação e gregarismo 🌿

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