sábado, 21 de outubro de 2023

Ansiedade climática: o síndrome das novas gerações

As alterações climáticas são cada vez mais uma questão de saúde mental, e a população mais afectada atualmente é a de faixa etária mais jovem.


É comum dizer-se que os jovens estão a ficar preocupados com o futuro do planeta e que isso lhes está a prejudicar o equilíbrio emocional e mental, mas na verdade este sintoma é comum a várias idades, com a diferença que os jovens se sentem mais inseguros e com menos poder de decisão.

Um estudo da revista Lancet, publicado em Dezembro 2021, revelou a primeira investigação com mais amplitude neste âmbito: foram entrevistadas 10 mil jovens (com idades entre 16 e 25 anos) em dez países (Austrália, Brasil, Finlândia, França, Índia, Nigéria, Filipinas, Portugal, Reino Unido e EUA). Mil participantes por país. Os jovens portugueses estavam entre aqueles que demonstravam mais ansiedade.

Nas conclusões do estudo face às alterações climáticas, 59% dos inquiridos “estavam muito ou extremamente preocupados e 84% estavam pelo menos moderadamente preocupados. Mais de 50% relataram cada uma das seguintes emoções: tristeza, ansiedade, raiva, impotência e culpa.

Mais de 45% dos entrevistados disseram que os seus sentimentos sobre as alterações climáticas afetaram negativamente a sua vida quotidiana e funcionamento, e muitos relataram um elevado número de pensamentos negativos sobre as alterações climáticas (por exemplo, 75% disseram que pensam que o futuro é assustador e 83% disseram que eles acham que as pessoas falharam em cuidar do planeta)”.

Perante uma amostra bastante representativa do que pensam os jovens sobre o impacto das alterações climáticas, uma das conclusões do estudo é que “essa angústia estava associada a crenças sobre resposta governamental inadequada e sentimentos de traição”, e que para eles “o futuro é assustador, a humanidade está condenada”, pois “não terão acesso às mesmas oportunidades que os seus pais tiveram”. Além disso, “consideram que tudo o que valorizam será destruído, a segurança está ameaçada e estão hesitantes em ter filhos”.

A pesquisa mostrou como a ansiedade climática pode ser uma experiência coletiva, mesmo que vivida com maior ou menor intensidade. Estamos quase em Dezembro de 2023 – dois anos depois do estudo referido – e as notícias sobre a crescente ansiedade e sentimento de impotência dos jovens continuam a dar sinais de alerta, como é referido nesta notícia da CBS do Canadá, publicada em agosto, na altura em que os fogos devastaram parte do país.

No dia 10 de Outubro – o Dia Mundial da Saúde Mental – a publicação Euro News sugeriu algumas ideias para evitar estados de eco-ansiedade. Uma delas referia-se à inércia causada pela quantidade de informação científica: “Não demore a fazer mudanças na sua vida ou a tornar-se um ativista enquanto lê o relatório do IPCC. Afinal, tem 1.800 páginas. Pode demorar um pouco.”

As alterações climáticas são assim e cada vez mais, também uma questão de saúde mental, e a população mais afectada atualmente é a de faixa etária mais jovem – porque se por um lado sentem que as decisões governamentais não são suficientes, por outro sentem uma grande pressão com a sua responsabilidade para com o futuro.

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