quinta-feira, 12 de maio de 2022

Fundador de “unicórnio” português critica “narrativa míope” de taxar criptomoedas


Diogo Mónica, fundador do “unicórnio” português Anchorage Digital, um banco de criptomoedas, tem uma série de recados para o Governo. Depois de saber que a Autoridade Tributária está a estudar como os criptoativos são taxados nos outros países, a pedido do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, o empreendedor critica a “narrativa” de que Portugal está a perder receita fiscal nesta frente.

“A narrativa de que Portugal está a perder receitas potenciais ao não tributar as cripto é míope e ignora o valor económico óbvio criado pelos empresários e empresas que se mudaram para cá. Portanto, sim, vamos encontrar um regime fiscal claro e estável para os ativos digitais em Portugal, mas lembrem-se: 45% de impostos sobre 0 euros é 0 euros”, defende Diogo Mónica.

Em 5 de maio, o ECO noticiou que o Governo pediu ao Fisco uma “avaliação” à forma como outros países taxam os criptoativos, onde se inserem as criptomoedas. O objetivo é propor um novo enquadramento fiscal, dado que Portugal é um dos poucos países que ainda não taxa os lucros obtidos, por exemplo, com a venda de bitcoins. Isto acontece porque o atual Código do IRS não prevê este fenómeno, que começou a massificar-se a partir de 2017 e acelerou no final de 2020, com a pandemia.

“Num golpe de sorte, Portugal criou uma das melhores campanhas de marketing em torno da atração de empreendedores de tecnologia para o nosso país”, considera Diogo Mónica, fundador da Anchorage, uma startup que, no final de 2021, terá alcançado o estatuto de “unicórnio”, isto é, uma avaliação superior a mil milhões de dólares. Como contexto, o facto de o país ser destino de nómadas digitais e entusiastas desta tendência, atraídos pela qualidade de vida, mas também pela ausência de tributação.

É uma ideia com a qual Diogo Mónica não concorda: “Não se enganem: mesmo que não haja impostos, a situação fiscal não é a principal razão pela qual as pessoas vêm ou ficam. Na verdade, Portugal não precisa de oferecer um incentivo especial ‘sem impostos cripto’ para continuar a ser atrativo para os empresários. Em vez disso, precisamos de clareza, estabilidade e competitividade”, conclui o empreendedor, numa nota enviada ao ECO.

A Autoridade Tributária e Aduaneira está a avaliar a forma como os outros países estão a taxar os ganhos obtidos com a venda de criptoativos. Este trabalho resulta de um pedido do Governo e tem como objetivo propor um enquadramento fiscal para estes novos instrumentos, o que pode representar o primeiro passo para começar a taxar os criptoativos, acabando com o estatuto de “paraíso fiscal” com que Portugal é catalogado com frequência na imprensa internacional.

“O Governo apoia uma posição concertada sobre esta matéria a nível europeu. Não obstante, determinou, por despacho do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, datado de 2021, que a Autoridade Tributária e Aduaneira estudasse o enquadramento dos criptoativos à luz das melhores práticas internacionais”, disse fonte oficial do Ministério das Finanças.

Em concreto, o Ministério das Finanças explicou que este trabalho está a ser feito “no sentido de propor um enquadramento fiscal adequado a estes novos instrumentos, tendo em conta o necessário equilíbrio entre a repartição justa dos rendimentos e da riqueza e a atração do investimento estrangeiro”. “Esta avaliação ainda não foi finalizada”, acrescenta.

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