Sophia na casa da Travessa das Mónicas, 1964. Fotografia de Eduardo Gageiro |
Poema inédito de Sophia de Mello Breyner Andresen que, não tendo sido escrito como libelo decrescentista, enuncia alguns dos princípios e valores duma ética da frugalidade e da suficiência (fonte):
Dai-me a casa vazia e simples onde a luz é preciosa.
Dai-me a beleza intensa e nua do que é frugal.
Quero comer devagar e gravemente como aquele que sabe o contorno carnudo e o peso grave das coisas.
Não quero possuir a terra mas ser um com ela.
Não quero possuir nem dominar porque quero ser: esta é a necessidade.
Com veemência e fúria defendo a fidelidade ao estar terrestre.
O mundo do ter perturba e paralisa e desvia em seus circuitos o estar, o viver, o ser.
Dai-me a claridade daquilo que é exactamente o necessário.
Dai-me a limpeza de que não haja lucro.
Que a vida seja limpa de todo o luxo e de todo o lixo.
Chegou o tempo da nova aliança com a vida.
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