Vários dos países que se comprometeram a reduzir emissões de gases com efeito de estufa nesta década e atingir a neutralidade carbónica até 2050 têm planeados novos furos de gás e de petróleo em 2021 e 2022.
A plataforma de organizações não governamentais Climate Justice divulgou, esta segunda-feira, um relatório — "Drill Baby Report" — que identifica que as principais empresas petrolíferas e 76 países têm planeadas mais de 800 perfurações para extração de gás e de petróleo entre 2021 e 2022. Entre os países com projetos de aumentar o número de poços de petróleo e gás estão EUA, China, Austrália, Noruega, Brasil ou Angola.
"Esta é uma estimativa abaixo do real, estes são só os confirmados", diz ao Expresso João Camargo, ativista da Climáximo, que integra a Plataforma pela Justiça Climática signatária do oficioso “Acordo de Glasgow”. Para o ativista, o processo negocial em curso na COP 26 "é uma hipocrisia" já que "estes poços de petróleo e gás vão aumentar as emissões de gases de efeito de estufa".
De acordo com a informação recolhida pela plataforma Climate Justice, dois destes poços, um em Angola e outro no Brasil, "são os mais profundos alguma vez feitos offshore", indica Camargo. "Fazemos o apelo à sociedade civil para encontrar o caminho que as instituições governamentais não garantem".
Os detalhes deste relatório foram apresentados numa conferência de imprensa, esta segunda-feira, num evento paralelo à Cimeira do Clima (COP26), no Fórum da Coligação dos Povos (Coalition People's Forum).
Ao todo, a coligação contabilizou 816 furos para extração de combustíveis fósseis previstos entre 2021 e 2022, 36 dos quais de empresas britânicas (o Reino Unido é o país anfitrião da COP26). Entre os países responsáveis por 500 destes poços projetados estão EUA, Austrália, Rússia, México, Indonésia, Noruega e Brasil. E entre as empresas identificadas estão a ENI, Petronas, Shell, Equinor, Total, Pemex, PTTEP, BP, Pertamina e Chevron.
A plataforma pela Justiça Climática apela a todos os movimentos da sociedade civil que “parem estes projetos suicidas, contraditórios com o Acordo de Paris e as promessas em curso nesta COP de Glasgow”. Para impedir que a temperatura global suba mais de 1,5ºC até final do século, é preciso cortar emissões para metade até 2030 e para isso é preciso manter os combustíveis fósseis debaixo de terra.
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