domingo, 26 de outubro de 2025

Salazar era essa ficção moral e impoluta que nos tentam agora vender? Não, Salazar era corrupto.

Principais evidências de corrupção sob Salazar

  1. Rede de pedidos de favores (“cunhas”)

    • No livro Salazar Confidencial (de Marco Alves), analisaram milhares de cartas enviadas a Salazar por amigos, familiares, ministros, padres, etc., pedindo favores: emprego, promoções, casas, intervenção em processos judiciais, e mais. 

    • Essas cartas mostram como a máquina do Estado era usada para beneficiar pessoas próximas, burlando regulamentos formais. 

  2. Escândalos sexuais e de abuso

    • O “Caso Ballet Rose” nos anos 1960 envolveu figuras importantes do regime em abusos de menores. 

    • Segundo a enciclopédia Visão, esses escândalos existiam, mas eram abafados, porque não havia imprensa livre e a polícia política era poderosa. Visão

  3. Uso institucional para manter poder

  4. Debate parlamentar sobre “corrupção”

    • Um artigo na Italian Political Science Review analisa como nas Assembleias Nacionais do Estado Novo (1935–74) se falava de “corrupção”, mas muitas vezes de forma discursiva/política, para criticar pessoas, em vez de haver investigações reais independentes. 

  5. Violência política e uso da PIDE

    • O regime dispôs de um aparelho repressivo (PIDE) que ajudava a silenciar oposição e potenciais denúncias.

    • Isso implica que a corrupção “visível” poderia ter sido limitada por medo ou pela repressão, mas isso não significa que não existisse favorecimento interno.


Interpretação

  • A corrupção sob Salazar não é tão simples como em regimes democráticos com investigação pública livre: muitos abusos não foram denunciados ou foram escondidos.

  • Parte da “corrupção” era institucional: o regime dependia de redes de influência e favores para manter poder, em vez de simplesmente roubo público.

  • Também há uma narrativa idealizada (em parte mítica) de que “no tempo de Salazar não havia corrupção”; mas a historiografia recente mostra que isso é uma simplificação.


📚 Livros e estudos recomendados

  1. Salazar Confidencial: A História Secreta da Rede de Cunhas e Favores do Estado Novo — Marco Alves

    • Este livro é uma investigação jornalística / histórica baseada em milhares de cartas enviadas a Salazar: pedidos de emprego, favores, influências políticas, promoções, casas, “cunhas”. 

    • Mostra como funcionava uma “máquina de favorecimentos” no Estado Novo, revelando uma face de clientelismo que vai para além do discurso público de austeridade moral ou integridade de Salazar. 

    • Índice do livro mostra capítulos específicos dedicados a como Salazar usava o Estado para benefícios privados (“como Salazar usava os meios do Estado na sua vida privada”).

    • Durante quatro décadas, António de Oliveira Salazar recebeu milhares de cartas de amigos, familiares, ministros, padres e figuras ilustres da elite do Estado Novo. Mendigavam ao presidente do Conselho favores, ajudas e cunhas para obterem um cargo, uma promoção, uma casa em Lisboa ou uma palavra de Salazar para intervir em todo o tipo de problemas, incluindo em processos judiciais e em casos de crime, violência e adultério envolvendo figuras notáveis da sociedade.

      É a primeira vez que toda a correspondência particular enviada a Oliveira Salazar é tratada para um livro, numa investigação exaustiva sobre 2446 processos individuais, de onde se analisaram 70243 páginas de cartas, relatórios, currículos e fotografias.

      Os documentos mostram os surpreendentes bastidores do Estado Novo, expondo a intimidade de um regime sustentado em cunhas e favorecimentos pessoais

  2. Salazar e os Fascismos: Ensaio breve de história comparada — Fernando Rosas

    • Rosas, historiador de renome, analisa o Estado Novo no contexto dos fascismos europeus, o que ajuda a entender a natureza autoritária do regime. ihc+1

    • Embora não seja um livro “sobre corrupção” per se, examina a estrutura de poder, ideologia e instituições do regime, contribuindo para a compreensão de como o poder era mantido, distribuído e reproduzido. 

    • Discute também os mecanismos políticos internos e a elite política que sustentava o regime, o que pode estar ligado a práticas de clientelismo institucional.

  3. O Estado Novo de Salazar. Uma Terceira Via Autoritária na Era do Fascismo — António Costa Pinto (coordenação)

    • Esta obra coletiva reúne vários historiadores e analisa o Estado Novo como um regime autoritário que se coloca entre a democracia liberal e o fascismo clássico.

    • O livro aborda temas de estrutura de poder, recrutamento da elite governamental e institucionalização do regime. Esses aspetos são relevantes para entender como funcionavam os privilégios e os favores políticos.

    • Também contribui para a reflexão de que, embora o regime não fosse “corrupção aberta” no sentido tradicional, existiam mecanismos de poder muito hierarquizados, clientelistas e centralizados.

  4. O Império do Professor: Salazar e a Elite Ministerial do Estado Novo (1933–1945) — António Costa Pinto (artigo)

    • Este é um artigo académico (publicado na revista Análise Social) que analisa como a elite ministerial era composta, como se recrutava e como funcionavam as nomeações políticas. 

    • Ajuda a ver a “corrupção” ou clientelismo no nível das nomeações de poder: como Salazar distribuía cargos, a sua relação com os ministros e a forma como o regime se mantinha por redes de lealdade pessoal.

  5. Public Finances of a European Dictatorship: Portugal under the Estado Novo Regime — Ricardo Ferraz

    • Este livro analisa as finanças públicas durante o Estado Novo (1933–1974) com rigor econométrico. 

    • Interessa para a corrupção porque examina receitas, despesas, endividamento e uso do orçamento estatal. Revela de que forma o regime geria recursos públicos e quais eram os seus desafios fiscais — isto pode ser interpretado como uma forma de “corrupção institucional” (no sentido de uso político das finanças).

    • Também coloca o caso português em contexto comparado, o que é útil para entender se os desequilíbrios financeiros eram mais devidos a prática clientelista ou a dificuldades estruturais.

  6. Vítimas de Salazar: Estado Novo e Violência Política — Irene Pimentel, João Madeira, Luís Farinha

    • Este livro aborda a repressão política, violência e a forma como o regime silenciava a oposição. 

    • Embora o foco principal seja a violência política e não diretamente a “corrupção”, entender o papel da PIDE (polícia política) e a repressão é importante para perceber porque muitas práticas de favorecimento ou abusos de poder não foram contestados ou investigados: o medo era uma via de controle.

  1. Salazar e os milionários, Pedro Jorge Correia;
  2. Salazar Confidencial, Marco Alves;
  3. Os Donos de Portugal - Jorge Costa, Francisco Louçã, Fernando Rosas, Luís Fazenda, Cecília Honório.
  4. Jubileu, 1953

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