Principais evidências de corrupção sob Salazar
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Rede de pedidos de favores (“cunhas”)
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No livro Salazar Confidencial (de Marco Alves), analisaram milhares de cartas enviadas a Salazar por amigos, familiares, ministros, padres, etc., pedindo favores: emprego, promoções, casas, intervenção em processos judiciais, e mais.
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Essas cartas mostram como a máquina do Estado era usada para beneficiar pessoas próximas, burlando regulamentos formais.
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Escândalos sexuais e de abuso
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O “Caso Ballet Rose” nos anos 1960 envolveu figuras importantes do regime em abusos de menores.
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Segundo a enciclopédia Visão, esses escândalos existiam, mas eram abafados, porque não havia imprensa livre e a polícia política era poderosa. Visão
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Uso institucional para manter poder
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O Estado Novo era fortemente corporativista, com instituições criadas para controle social e económico, o que permitia um grande grau de controle e favorecimento interno.
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Havia mecanismos formais para clientelismo: nomeações, cargos, favores em troca de lealdade ao regime. Historicamente, alguns estudiosos consideram estas práticas como “corrupção moderna” por serem estruturadas e institucionalizadas.
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Debate parlamentar sobre “corrupção”
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Um artigo na Italian Political Science Review analisa como nas Assembleias Nacionais do Estado Novo (1935–74) se falava de “corrupção”, mas muitas vezes de forma discursiva/política, para criticar pessoas, em vez de haver investigações reais independentes.
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Violência política e uso da PIDE
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O regime dispôs de um aparelho repressivo (PIDE) que ajudava a silenciar oposição e potenciais denúncias.
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Isso implica que a corrupção “visível” poderia ter sido limitada por medo ou pela repressão, mas isso não significa que não existisse favorecimento interno.
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Interpretação
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A corrupção sob Salazar não é tão simples como em regimes democráticos com investigação pública livre: muitos abusos não foram denunciados ou foram escondidos.
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Parte da “corrupção” era institucional: o regime dependia de redes de influência e favores para manter poder, em vez de simplesmente roubo público.
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Também há uma narrativa idealizada (em parte mítica) de que “no tempo de Salazar não havia corrupção”; mas a historiografia recente mostra que isso é uma simplificação.
📚 Livros e estudos recomendados
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Salazar Confidencial: A História Secreta da Rede de Cunhas e Favores do Estado Novo — Marco Alves
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Este livro é uma investigação jornalística / histórica baseada em milhares de cartas enviadas a Salazar: pedidos de emprego, favores, influências políticas, promoções, casas, “cunhas”.
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Mostra como funcionava uma “máquina de favorecimentos” no Estado Novo, revelando uma face de clientelismo que vai para além do discurso público de austeridade moral ou integridade de Salazar.
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Índice do livro mostra capítulos específicos dedicados a como Salazar usava o Estado para benefícios privados (“como Salazar usava os meios do Estado na sua vida privada”).
Durante quatro décadas, António de Oliveira Salazar recebeu milhares de cartas de amigos, familiares, ministros, padres e figuras ilustres da elite do Estado Novo. Mendigavam ao presidente do Conselho favores, ajudas e cunhas para obterem um cargo, uma promoção, uma casa em Lisboa ou uma palavra de Salazar para intervir em todo o tipo de problemas, incluindo em processos judiciais e em casos de crime, violência e adultério envolvendo figuras notáveis da sociedade.
É a primeira vez que toda a correspondência particular enviada a Oliveira Salazar é tratada para um livro, numa investigação exaustiva sobre 2446 processos individuais, de onde se analisaram 70243 páginas de cartas, relatórios, currículos e fotografias.
Os documentos mostram os surpreendentes bastidores do Estado Novo, expondo a intimidade de um regime sustentado em cunhas e favorecimentos pessoais
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Salazar e os Fascismos: Ensaio breve de história comparada — Fernando Rosas
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Rosas, historiador de renome, analisa o Estado Novo no contexto dos fascismos europeus, o que ajuda a entender a natureza autoritária do regime. ihc+1
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Embora não seja um livro “sobre corrupção” per se, examina a estrutura de poder, ideologia e instituições do regime, contribuindo para a compreensão de como o poder era mantido, distribuído e reproduzido.
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Discute também os mecanismos políticos internos e a elite política que sustentava o regime, o que pode estar ligado a práticas de clientelismo institucional.
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O Estado Novo de Salazar. Uma Terceira Via Autoritária na Era do Fascismo — António Costa Pinto (coordenação)
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Esta obra coletiva reúne vários historiadores e analisa o Estado Novo como um regime autoritário que se coloca entre a democracia liberal e o fascismo clássico.
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O livro aborda temas de estrutura de poder, recrutamento da elite governamental e institucionalização do regime. Esses aspetos são relevantes para entender como funcionavam os privilégios e os favores políticos.
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Também contribui para a reflexão de que, embora o regime não fosse “corrupção aberta” no sentido tradicional, existiam mecanismos de poder muito hierarquizados, clientelistas e centralizados.
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O Império do Professor: Salazar e a Elite Ministerial do Estado Novo (1933–1945) — António Costa Pinto (artigo)
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Este é um artigo académico (publicado na revista Análise Social) que analisa como a elite ministerial era composta, como se recrutava e como funcionavam as nomeações políticas.
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Ajuda a ver a “corrupção” ou clientelismo no nível das nomeações de poder: como Salazar distribuía cargos, a sua relação com os ministros e a forma como o regime se mantinha por redes de lealdade pessoal.
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Public Finances of a European Dictatorship: Portugal under the Estado Novo Regime — Ricardo Ferraz
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Este livro analisa as finanças públicas durante o Estado Novo (1933–1974) com rigor econométrico.
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Interessa para a corrupção porque examina receitas, despesas, endividamento e uso do orçamento estatal. Revela de que forma o regime geria recursos públicos e quais eram os seus desafios fiscais — isto pode ser interpretado como uma forma de “corrupção institucional” (no sentido de uso político das finanças).
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Também coloca o caso português em contexto comparado, o que é útil para entender se os desequilíbrios financeiros eram mais devidos a prática clientelista ou a dificuldades estruturais.
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Vítimas de Salazar: Estado Novo e Violência Política — Irene Pimentel, João Madeira, Luís Farinha
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Este livro aborda a repressão política, violência e a forma como o regime silenciava a oposição.
Embora o foco principal seja a violência política e não diretamente a “corrupção”, entender o papel da PIDE (polícia política) e a repressão é importante para perceber porque muitas práticas de favorecimento ou abusos de poder não foram contestados ou investigados: o medo era uma via de controle.
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- Salazar e os milionários, Pedro Jorge Correia;
- Salazar Confidencial, Marco Alves;
- Os Donos de Portugal - Jorge Costa, Francisco Louçã, Fernando Rosas, Luís Fazenda, Cecília Honório.
- Jubileu, 1953
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