Uma fivela de cinto medieval com a imagem de uma cobra ou um dragão devorando um sapo foi descoberta com a ajuda de detectores de metal perto da vila de Lány, na República Bcheca.
Para arqueólogos da Universidade de Masaryk, a representação pode ser um símbolo de um culto pagão desconhecido. Um estudo sobre a descoberta foi publicado na edição de janeiro do periódico Journal of Archaeological Science.
"Lutar contra um dragão ou uma cobra é um dos motivos básicos nos mitos cosmogônicos de criação do mundo de muitas culturas diferentes, enquanto a interação entre o sapo e a cobra pode ser vinculada às práticas cultuais de fertilidade", afirma comunicado da Universidade de Masaryk.
Inicialmente, os pesquisadores pensaram que a descoberta da fivela era rara, com uma decoração única. "No entanto, mais tarde descobrimos que outros artefatos quase idênticos também foram desenterrados na Alemanha, Hungria e Boémia", conta Jiří Macháček, chefe do Departamento de Arqueologia e Museologia da Faculdade de Artes de Masaryk.
Após encontrar os itens, Macháček se deu conta de que estava "diante de um culto pagão previamente desconhecido que ligava diferentes regiões da Europa Central no início da Idade Média, antes da chegada do Cristianismo".
Investigando as fivelas
Uma equipa internacional de pesquisa foi formada para estudar os artefatos no sítio arqueológico, que já havia chamado a atenção pela descoberta de uma costela de animal com inscrições em runas germânicas antigas.
A pesquisa revela que o cinto medieval de Lány pertence a um grupo de artefatos chamado "Avar belt fittings", que foram produzidos na Europa Central nos séculos 7 e 8 d.C.. Tais itens eram parte do traje dos ávaros, um povo nômade que se estabeleceu na Bacia dos Cárpatos, atual Hungria.
A moda ávara costumava ser adotada por povos vizinhos, como os eslavos. "O motivo de uma serpente ou cobra devorando sua vítima aparece na mitologia germânica, ávara e eslava", diz Macháček. "Era um ideograma universalmente compreensível e importante. Hoje, só podemos especular sobre o seu significado exato, mas, no início da Idade Média, conectava os diversos povos que viviam na Europa Central em um nível espiritual."
Para estudar os itens de Lány e outros semelhantes, os pesquisadores utilizaram métodos de ponta, como análise por fluorescência de raios-X e microscopia eletrónica de varredura. Stefan Eichert, do Museu de História Natural de Viena, na Áustria, realizou uma análise material e tecnológica que revelou que a maioria dos acessórios de bronze originalmente era dourada.
Já Ernst Pernicka, da Universidade de Tubinga, na Alemanha, utilizou uma análise química dos isótopos de chumbo contidos nas ligas de bronze, identificando uma fonte comum do cobre a partir do qual todos os acessórios descobertos foram feitos: as Montanhas de Minério da Eslováquia.
Uma análise morfométrica com base em modelos digitais 3D, realizada por Vojtěch Nosek da Universidade Masaryk, reforçou essa conclusão, sugerindo que alguns dos acessórios vieram da mesma oficina ou foram derivados de um modelo comum.
"Todas estas conclusões lançam uma nova luz sobre o desenvolvimento social, cultural e político da Europa Central no início da Idade Média", conclui o estudo.
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