quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Mais de 90% das espécies de fungos continuam a ser desconhecidas da Ciência


Podemos não vê-los, mas eles estão lá. Formando imensas redes subterrâneas, que podem cobrir áreas muito extensas, vivendo como seres unicelulares ou em grupos, ou ainda exibindo o que conhecemos como cogumelos para dispersarem esporos, os fungos são dos grupos mais diversos de seres vivos.

De acordo com o mais recente relatório do ‘Estado das Plantas e dos Fungos do Mundo 2023’, elaborado pelos especialistas do Real Jardim Botânico de Kew (Reino Unido), existem na Terra perto de 2,5 milhões de espécies de fungos. No entanto, mais de 90% desse total estimado não é ainda conhecido da Ciência, pelo que apenas 155 mil espécies de fungos estão hoje descritas cientificamente.

Dizem os autores do documento que agora é uma corrida contra o tempo para “encontrar, descrever e nomear essas espécies – que podem conter compostos medicinais valiosos ou possuir outras propriedades úteis – numa altura em que a perda de biodiversidade atingiu um ponto crítico”.

“Nomear e descrever espécies é um primeiro passo vital para documentar a vida na Terra”, declara Tuula Niskanen, ex-investigadora sénior do Jardim Botânico de Kew e atual curadora do Museu Finlandês de História Natural, em Helsínquia. “Sem sabermos que espécies existem e sem lhes darmos nomes, não seremos capazes de partilhar informação sobre aspetos-chave da diversidade de espécies, fazer quaisquer avaliações sobre o seu estado de conservação para sabermos se estão em risco de extinção ou explorar o seu potencial para benefício das pessoas e sociedade”, comenta a especialista.

Sobre os fungos, em particular, Niskanen diz que é “essencial” saber que espécies existem na Terra e “o que podemos fazer por elas, para que não as percamos para sempre”.

Em termos do número de espécies, os fungos são um dos grupos mais diversos, perdendo o primeiro lugar apenas para os animais invertebrados, estimando-se que, no total, existam 8,5 milhões de espécies diferentes, embora só se conheçam, até ao momento, cerca de 1,4 milhões.

Por isso, calcula-se que, ao atual ritmo de descrição de novas espécies, seriam precisos entre 750 e mil anos para os cientistas descreverem totalmente todas as espécies de fungos que se pensa existirem hoje na Terra.

Os fungos podem assumir, assim, múltiplas formas e feitios. Há os multicelulares, que formam filamentos finos chamados hifas, que, juntos e enredados, criam redes conhecidas com micélios, que se estende no subsolo, e os unicelulares, como a levedura, com formas esféricas.

A maioria dos fungos dispersa os seus esporos, que carregam o seu material genético e que darão origem à sua descendência, no ar, no corpo dos animais ou em gotículas de água. Para tal, constroem estruturas, como os conhecidos cogumelos, as trufas ou outras, para libertarem os esporos no ambiente. Existem ainda alguns fungos que criam relações simbióticas com algas, originando líquenes, ‘híbridos’ alga-fungo.

Nesses casos, os fungos absorvem nutrientes dos seus parceiros fotossintéticos, pelo que não dependem de ambientes húmidos para subsistirem.

Estima-se que em apenas uma colher de chá de solo possam estar presentes centenas de espécies diferentes de fungos, pelo que os cientistas dizem mesmo tratar-se de “uma nova fronteira fúngica”, todo um mundo ainda por desvendar que existe mesmo quando por ele não damos. Só desde 2020, foram descritas cerca de 10.200 novas espécies de fungos e ainda há muito trabalho para fazer.

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