quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Criticar Israel não é ser antissemita



53% dos judeus que afirmam sua judaicidade não dão apoio ao Estado de Israel e sobretudo ao Likud. Israel deveria ser um estado democrático e que dissolvesse a dominação colonial do povo palestino em Gaza e na Cisjordânia. Recomendo este livro.

Por meio de uma formulação teórica consistente, o livro, escrito em 2017, retoma o diálogo sobre a coabitação e o impossível-possível estabelecimento de um Estado binacional formado por Israel/Palestina.

A partir da importante obra de Hannah Arendt, Butler apresenta sua crítica ao sionismo e retoma a questão da judaicidade como categoria cultural, histórica, política, não religiosa e representada por uma multiplicidade de modos sociais de identificação. Discorre sobre uma gama de autores judaicos como Primo Levi, Martin Buber, Hans Kohn e Emmanuel Lévinas, buscando demonstrar a vinculação entre a judaicidade e a justiça social.

Caminhos divergentes: judaicidade e crítica do sionismo salienta que os valores judaicos mais elevados estão baseados no convívio e no respeito. A autora apresenta, de forma instigante, o ser judeu e sua relação com o não judeu, a questão do outro – como eu ou não eu. Ao discutir a alteridade como constitutiva da identidade, demonstra como a dispersão dos judeus de outrora se assemelha à dos palestinos de hoje. Defende, portanto, uma organização política possível, em que nenhuma religião ou nacionalidade tenha soberania sobre a outra.

De forma notável, Judith Butler retoma e amplifica a obra de Edward Said, em especial seu último livro, Freud e os não europeus, assim como propaga a poesia de Mahmoud Darwish. Ao tratar do tema da diáspora e do exílio e de uma perspectiva não eurocêntrica da judaicidade, desafia-nos a pensar como duas tradições de deslocamentos, árabe e judaica, podem produzir uma forma de política pós-nacional, que contemple o direito comum, inclusive dos refugiados. Assim, o convívio entre judeus e árabes torna-se plenamente possível e baseia-se na construção de um modelo de Estado não colonial, porém igualitário para todos os habitantes de Israel/Palestina.

Embora a tarefa da coabitação e do binacionalismo pareça impossível, Judith Butler é contundente ao afirmar o quanto ela é necessária, pois, se ninguém mais pensar sobre isso, viveremos “num mundo radicalmente empobrecido”. Caminhos divergentes é um convite irresistível a essa reflexão-ação, especialmente num mundo repleto de movimentações e, ao mesmo tempo, carente de transformações.

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