quinta-feira, 8 de junho de 2023

Uma mina a céu aberto


NIMBY é um acrónimo em inglês para a expressão Not In My Back Yard (não no meu quintal, em português). É um termo muito usado para descrever a oposição a projetos que são benéficos para a população como um todo, mas que têm um impacto local devastador, sobretudo a nível do ambiente. Há vários exemplos desse fenómeno.

Por exemplo, a coincineração na cimenteira de Souselas provocou uma grande contestação local contra a queima de resíduos industriais perigosos. Mais recentemente, Moita e Seixal opuseram-se à construção do aeroporto no Montijo, sendo que neste caso a lei (entretanto mudada) até dava poder de veto às autarquias locais. Agora estamos a assistir a um fenómeno semelhante com a exploração de lítio na mina do Barroso, no concelho de Boticas, distrito de Vila Real. Estamos a falar de uma mina que prevê uma exploração a céu aberto, com uma duração estimada de 17 anos, e uma área de concessão prevista de 593 hectares.

Depois de em 2022 este projeto da empresa britânica Savannah ter recebido um parecer "não favorável", na semana passada a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) deu ok à exploração das minas, apesar de ter imposto alguns remédios. Vamos colocar na balança os argumentos de um lado e de outro:

1. O Governo argumenta, e com razão, que a fileira do lítio vai ter um impacto relevante na economia. Só o projeto de Boticas prevê a produção de aproximadamente 200 mil toneladas de concentrado de espodumena por ano. Isso permitirá uma produção de lítio suficiente para o fabrico de meio milhão de baterias para carros elétricos por ano. 

2. A população local argumenta, e com razão, que estas minas a céu aberto terão um impacto ambiental muito grande na região e é a própria APA que reconhece que este projeto pode comprometer a classificação de Património Agrícola Mundial do Barroso.

A partilha dos ganhos económicos com a população local (por exemplo, com a construção de uma estrada de ligação à A24), a limitação à remoção de vegetação em alguns meses do ano e o compromisso de não captação de água no rio Covas ajudam a amenizar o impacto das minas. Mas convenhamos que se também morássemos em Covas do Barroso, Romainho e Muro e tivéssemos uma mina a céu aberto próxima da nossa aldeia, mesmo ao pé do nosso quintal, também diríamos a esta empresa britânica, em bom inglês, Not In My Back Yard.

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