sábado, 13 de novembro de 2021

Agricultura alternativa - Agricultura imperativa


Vou contar, brevemente, que, quando era estudante, ainda em Viçosa, MG, ouvi uma palestra dela. Aliás, essa foi a primeira guinada que dei em relação à Agricultura Ecológica. Fui conquistado pela densidade das informações que a Professora trazia e, principalmente, com a tranquilidade quando respondia às perguntas, em tom quase agressivo, dos professores do departamento de solos daquela universidade. Imagino que a agressividade era filha do desconforto, talvez insegurança, ao verem seus conhecimentos serem postos à prova pela percepção da professora de que as verdades sobre a ciência do solo importadas de países do norte não se adequam aos trópicos. Afinal, quando ela falava em “manejo ecológico do solo”, título da sua obra-prima, ela queria dizer: que tal manejarmos nossos solos a partir dos conhecimentos que temos sobre a casa onde vivemos? 
Não tenho dúvidas que a pergunta ainda cabe!

Passaram-se dez anos e tive a oportunidade de viajar com ela para a cidade de Coro, Venezuela, para a II Assembleia do MAELA – Movimento Agroecológico da América Latina e do Caribe. Fomos e voltamos juntos, o que me permitiu criar certa relação com Ana. Era o juvenil indo jogar uma partida de futebol com seu ídolo de infância, com a figurinha preferida do seu álbum. 

Quando tivemos a oportunidade de convidá-la para dar um curso em Ipê, RS, sede do então CAE-Ipê, não deixamos escapar. Esse vídeo mostra algo dos dois dias que passamos entre sala de aula e idas a campo, aproveitando da companhia e dos conhecimentos da autora mais brilhante que temos no hoje denominado movimento agroecológico. No campo, junto às famílias produtoras, ela pedia para ser chamada de Ana. Nem doutora, nem professora,apenas Ana!

Quero fazer apenas duas menções sobre esse vídeo. A primeira, sobre os rostos que nele aparecem. Técnicos e técnicas, agricultoras e agricultores que ajudaram a fazer história na produção ecológica de alimentos. Interessante observar que todos seguem na mesma batida. Não usar venenos na produção agrícola permitiu crescimento pessoal, profissional, econômico. Ninguém ali morreu de fome, como ouvimos centenas de vezes ocorreria se abandonássemos os agrotóxicos. 

Outra menção é sobre a forma simples como Ana passa informações profundas. Esse vídeo é um deleite, uma aula de como dar uma aula. Admirável síntese de todo um cabedal de informações que a Professora e Doutora Ana Primavesi (ela que me desculpe por isso) nos deixou. Aproveitá-lo, é tarefa nossa. A dela, está mais do que cumprida!

Laércio Meirelles, julho 2021

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