Otto Dix (pintor Alemão, 1891-1969) - Auto-retrato com o seu filho, 1930
O meu pai faleceu tinha onze anos. Só fiz o seu luto por volta dos 30 anos. Foi um pai presente, mas usava bengala, não me levava às cavalitas, nem jogava futebol comigo. Não me leu histórias para adormecer, porque era analfabeto. Não houve festas de aniversário. Era um dia como outro qualquer. Gostava de me dar rebuçados e chocolates, que comprava na loja do meu tio na aldeia.
Latifundiário rico era respeitado por todos. Mas como todas as aldeias há famílias rivais. Os Cavadas tinham um ódio visceral aos Santos. O filho mais novo (que depois foi preso) atropelou-me violentamente tinha eu 4 anos. Fui despejado a 2 metros de distância. Estive 7 semanas hospitalizado.
Estava na escola quando um funcionário veio ter comigo dizer que o meu pai tinha morrido. Percorri sozinho, os 20 km de distância até minha casa, banhado em lágrimas. Ninguém me foi buscar. Na altura, o velório era em casa. Vi o meu pai a ser preparado no caixão.
Foi um marido difícil com a minha mãe. Era muitas vezes agressivo com ela. Tive que tirar-lhe a bengala, várias vezes. Sim, havia e vivi violência doméstica. Cansada, uma vez a minha mãe pediu 15 dias de separação. Foi viver com a filha. Resultou. Ficou mais calmo e os episódios pararam.
O que fiz para superar a dor e a ausência de pai? Procurei modelos homem junto dos meus professores e adultos que gostava. Fui superando a dor, desta forma... Agora sou pai e orgulho-me de ter compensado o meu filho em criança (já tem 19 anos) com muitas brincadeiras e andar com ele às cavalitas.
Feliz dia do Pai.
Sobre Otto Dix
Otto Dix foi um pintor expressionista alemão. Veterano da Primeira Guerra Mundial, a sua obra é dominada pela temática antibélica. Pintou um famoso tríptico onde retrata a miséria do pós-guerra nos anos 30 e o aparecimento do jazz: Os Noctívagos. Wikipédia
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