Caros amigos do BioTerra
Chegaram esta semanas dois depoimentos, que quero que fique crivado ao Bioterra como raízes/alicerces na ecoconstrução de um mundo em paz e florido. Um por parte do meu amigo Nuno Quental e um outro, quase em resposta, por parte da Isabel Melo. Um sugerindo um filme e o outra sugerindo um livro e uma organização. Ambos constituem um alerta...questionam sobretudo que urbanismo queremos e que ordenamento sustentado seguir...por forma a não haver fenómenos de empobrecimento urbanístico e de exclusão... contra "a geografia da fome" ( fome aqui de árvores, de descanso, de tertúlia num jardim ou cursos de água límpidos, prédios floridos...).Deixo-vos com as reflexões deles e, por favor, vamos reagir! Há tradições/ memórias importantes e outras a derrubar. Mas o que está a suceder às nossas cidades é que se importam modelos errados e medidas erráticas, privilegiando o automóvel, o betão e o consumismo. A factura é mais cara, de facto: mais poluição, maior pobreza ( sócio-económica), mais stress, menos saúde pública e uma futuro frágil. Longe , muito longe dos tempos da era Aniki-Bóbó. Aqui, nestes depoimentos e no BioTerra encontram-se muitas soluções. Há opções! Façamos mais por elas!
Antes do Anoitecer
Por Nuno Quental
Não sei se já foram ver o filme "Antes do anoitecer". Recomendo vivamente!
Trata-se da continuação do filme "Antes do amanhecer", de 1995, com os mesmos actores, agora um pouco mais velhos e aptos a recordar uma noite que passaram há 9 anos...
Mas não escrevo (só) pelo interessante romance, sem pieguices, nem pelo excelente diálogo que o espectador é convidado a apreciar. O filme desenrola-se em Paris, durante cerca de uma hora e meia de uma bela tarde. Os actores vão percorrendo diversos espaços: jardins, ruas, recantos, pontes e um café. E fez-me lembrar como realmente se perdeu, de uma forma tão visível, o prazer de passear por passear, para observar a cidade ou a natureza, estar com a família ou amigos, etc. Penso que foi toda uma geografia urbana que se modificou profundamente nos últimos anos, por diversos motivos, com destaque para a utilização maciça do automóvel particular e dos grandes centros comerciais periféricos.
E a diferença fundamental foi esta: antes, antes as pessoas criavam mentalmente uma imagem de parte da cidade, com várias dimensões, incluindo das pequenas ruas interiores, de certos pormenores, de edifícios marcantes, de locais de reunião de pessoas (as praças, jardins...). Cada vez mais, contudo, a imagem mental da cidade é constituída por um conjunto de pequenos pontos que a pessoa frequenta e pelo caminho casa-trabalho. De uma imagem complexa está a passar-se para uma imagem linear ou pontual, rarefeita, onde os centros comerciais da periferia adquirem importância crescente.
As consequências desta alteração são muitíssimo significativas, e é esse provavelmente o principal motivo que está na base de o espaço público estar a sofrer uma golpada que nunca antes se viu. São jardins, praças e árvores sistematicamente vandalizados por entidades com responsabilidades e
patrocinados por chorudos orçamentos.
Não sei, sinceramente, onde isto vai parar, mas não tenho hoje grandes dúvidas de que a cidade do Porto, e talvez quase todas as cidades do país - pelo menos como imaginamos uma cidade, com toda a sua complexidade - está a morrer lentamente e a ser substituída por um conjunto disperso de intervenções desgarradas. Constato quase diariamente que aqueles pequenos pormenores a que cada um dá importância à sua maneira vão sendo, progressivamente, erodidos e substituídos por um espaço público padrão de
que todos são obrigados a gostar - mas que, invariavelmente, quase todos
criticam.
Vão-se perdendo, por exemplo, os antigos cafés, comprados por grandes cadeias ou por bancos que arrasam com o seu interior; ou as lojas típicas ricamente decoradas; ou até as formas cuidadosamente elaboradas da calçada.
A cidade dos dias de hoje pode ter muitas vantagens relativamente à cidade de algumas décadas atrás, mas do ponto de vista urbanístico e talvez mesmo social é incomparavelmente mais pobre.
As Cidades Sem Carros
Por Isabel Melo
As cidades sem carros ou aquelas em que os veículos automóveis não sejam de forma nenhuma o elemento decisivo no que toca ao ordenamento do território, constituem imagens de um futuro possível, ou não passam de utopias fadadas ao esquecimento?
Na sequência do email do Nuno Quental, lembrei-me de um livro que aborda o tema das cidades sem carros:
Joel H. Crawford
International Books
ISBN 9-05727-037-4
Não sei se já o conhecem, a mim pareceu me de facto muito interessante, pela quantidade de informação disponível, a excelente apresentação e a mensagem, que reflecte sem hesitações o argumento do seu autor: de que a humanidade necessita urgentemente de repensar as questões da acessibilidade e mobilidade de pessoas e mercadorias, libertando-se da tirania do automóvel.
Entre outros, o livro discute aspectos relacionados com a provisão de transportes públicos, partes constituintes de uma cidade sustentável, características morfológicas e topológicas de cidades sem carros e ainda, aspectos relacionados com o transporte de mercadorias nestes
aglomerados.
Joel Crawford, o autor deste livro, é o fundador da organização, , Carfree Cities, cujo website disponibiliza informação variada no âmbito das cidades sem carros.
Segundo o que sei (apesar de não me recordar exactamente de onde esta informação me chegou), Crawford, de origem americana e residente de longa data em Amsterdão, encontra-se neste momento a viver em Cascais, Portugal.
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