Um grupo de cães foi treinado para impedir a ação de caçadores
Um grupo de cães das raças pastor belga malinois, fox hound e coon hound (black and tan bluetick) foi treinado desde o nascimento para proteger os animais do Parque Nacional Kruger, na África do Sul. Com 18 meses de vida, os cachorros começaram a patrulhar a região e já salvaram 45 rinocerontes.
O Kruger Park é a maior área de proteção ambiental do país, cobrindo mais de 20 mil quilômetros quadrados. a região, muito procurada por ecoturistas, é habitada por mais de 140 espécies de mamíferos – entre eles, o Big Five: leões, leopardos, elefantes, búfalos e rinocerontes – que também atraem muitos caçadores furtivos.
Os cães de guarda
Os rinocerontes estão em risco de extinção tanto na Ásia (há espécies nativas da Índia e da Indonésia), quanto na África (onde ocorrem os rinocerontes-brancos e negros, que apesar do nome, são acinzentados).
O chifre desses animais é muito procurado em função de alegadas propriedades medicinais. Os caçadores matam os rinocerontes, serram os chifres e deixam os cadáveres para trás. Em 2014, houve um recorde de abates: 1.215 animais foram encontrados apenas na África do Sul. Em países vizinhos, como Moçambique, eles não são mais avistados.
A caça ilegal e descontrolada motivou os administradores do parque a encontrar soluções para impedir a ação dos criminosos. Na última década, diversas raças caninas foram empregadas para dar combate à carnificina: de beagles a wolfhounds.
Em função dos instintos, todos os cães podem ser treinados tanto para caçar quanto para defender animais, em atividades de guarda e pastoreio. As raças que melhor se adaptaram à experiência desenvolvida na África do Sul são os hounds ou sabujos.
Os cachorros começam o treinamento assim que são desmamados e, até atingir a maturidade física, aprendem a lidar com todas as situações relacionadas à caça. Sean Viljoen, fotógrafo da Cidade do Cabo, registrou imagens dos cães em ação no campus avançado da Universidade Sul-Africana.
O grupo de cães aprende inicialmente os comandos básicos e de obediência. Depois disso, eles são estimulados a farejar e rastrear os animais da reserva – e também os humanos que não deveriam estar por lá.
Na temporada 2019-20, foram encontrados 104 rinocerontes mortos nos limites sul-africanos da savana. Em 2020-21, o número caiu para 59. Isto significa que foi poupada a vida de 45 rinocerontes. É a primeira tentativa bem-sucedida de reduzir massivamente a caça ilegal.
O projeto
O fotógrafo da Cidade do Cabo está desenvolvendo uma parceria com a Universidade Sul-Africana. Viljoen é proprietário de uma produtora de vídeo, a Conservation Film Company, que pretende registrar a vida dos animais e as histórias das pessoas que estão na linha de frente das estratégias de conservação da vida.
Os cães do Kruger Park são os protagonistas da primeira produção do projeto. Eles foram filmados desde o nascimento, passando pelo adestramento e pelo trabalho em campo, com rondas e exercícios para identificar invasores e predadores.
Nas áreas em que os cachorros atuam – a participação teve início em fevereiro de 2018 –, a taxa de sucesso no salvamento de rinocerontes já atinge 68%. Sem a parceria com os cães, apenas entre 5% e 8% dos animais caçados conseguiam sobreviver.
O treinador master dos cachorros, Johan van Straaten, trabalha na universidade há nove anos. O projeto de conservação visa avaliar as estratégias de combate à caça ilegal. Os cachorros de salvamento patrulham a região nordeste do país 24 horas por dia e já identificaram algumas técnicas insuspeitadas.
Ao contrário do que se imaginava, os caçadores investem contra os rinocerontes com o dia claro, preferencialmente depois do meio-dia. Eles abatem os animais e esperam o escurecer para só então serrar os chifres e seguir a pé até a fronteira com Moçambique, onde o tráfico ilegal encontra menos vigilância.
Com o sucesso obtido em menos de três anos desde que a primeira “patrulha canina” começou a atuar, a administração do Kruger Park e a Universidade Sul-Africana já têm planos avançados para introduzir matilhas em outras áreas do parque. As técnicas estão sendo exportadas para outros países do continente.
Na última década, estima-se que oito mil rinocerontes tenham sido abatidos nas savanas da África do Sul, dado que colocava o país no topo das atividades predatórias no continente. Com a adoção das matilhas, este número vem sendo reduzido ano a ano e pode ser a resposta natural para superar o problema.
Amaury de Almeida Costa (amaury.alcosta@gmail.com) é redator publicitário há mais de 30 anos. Escreve para diversos blogs desde 2008. Presente nas redes sociais desde a época do Orkut, foi editor da revista Animanews, sucesso editorial do final dos anos 1990, que trazia informações sobre pets – além de cães, gatos e aves, trazia informações sobre répteis, anfíbios, peixes e invertebrados de estimação.
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