Beringelas, tomates, pimentos e pepinos continuam a prosperar no meio de explosões de obuses, fósforo branco e drones. É um pequeno milagre que está a acontecer em Gaza: os agricultores mantêm-se firmes perante a ofensiva israelita, que já matou mais de 40.000 habitantes de Gaza e obrigou 2 milhões de civis a fugir.
O colapso da agricultura em Gaza tem como consequência a fome. Em junho, 95% dos habitantes de Gaza, ou seja, 2,15 milhões de pessoas, sofriam de elevados níveis de insegurança alimentar. Dezenas de crianças já morreram de exaustão e fome e 50.000 estão em risco. Antes da guerra, Israel já estava a utilizar a fome como uma arma contra os habitantes de Gaza para os manter constantemente exaustos, subjugados e controlados. Antes de 7 de outubro, 65% dos habitantes de Gaza estavam em situação de insegurança alimentar e os agricultores estavam limitados pelo bloqueio israelita imposto desde 2007.
Israel está a bloquear as importações de equipamento agrícola. Os agricultores têm de se contentar com o que sobreviveu aos bombardeamentos, e a preços exorbitantes. Perante este cenário, algumas associações locais estão a tentar ajudar os agricultores. A APN, com sede em Amã mas com equipas em Gaza, lançou a campanha Revive Gaza's Farmland. Apoiam 162 agricultores fornecendo-lhes sementes, principalmente de legumes para alimentar o maior número de pessoas o mais rapidamente possível: pepinos, tomates, beringelas, curgetes, pimentos, etc..
Segundo dados recentes da ONU, Israel destruiu 57% das terras agrícolas da Faixa de Gaza e arrasou mais de 40% das estufas com bombas e escavadoras. A destruição é muito maior no norte da Faixa e na cidade de Gaza, onde desapareceram quase 90% das estufas. 37 celeiros, 484 explorações avícolas e 397 explorações ovinas foram destruídas, acabando com a infraestrutura agroalimentar de Gaza.
Mahmoud Alsaqqa, diretor de programas da Oxfam em Gaza afirma: "Os palestinianos são resistentes e vamos aguentar. O que precisamos é de um cessar-fogo e do levantamento do bloqueio. E que os habitantes de Gaza recuperem a sua autossuficiência em legumes. Acredito firmemente que lá chegaremos de novo. Hoje em dia, a agricultura é um ato de subsistência, mas também de resistência.”
Philippe Pernot, Reporterre
Sem comentários:
Enviar um comentário