segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Pesquisadores brasileiros fazem coleta inédita de sêmen do menor tamanduá do mundo, o tamanduaí


Ele é simplesmente adorável! O menor tamanduá de todas as espécies do mundo, o tamanduaí (Cyclopes didactylus), mede cerca de 30 cm, sendo metade disso só de cauda, e pesa não mais que 400 gramas. Como escrevi sobre ele em 2017, nesta outra reportagem, ele tem a pelagem muito densa e curta, com coloração amarelo-dourada.

Descrito pela primeira vez em 1758, esse pequeno ser habita florestas tropicais da América Central e do Sul. No Brasil, acreditava-se que a espécie só ocorresse na Floresta Amazônica e na Mata Atlântica, mas em 2009, foi encontrada uma subpopulação isolada, no Delta do Parnaíba, entre os Estados do Piauí e Maranhão.

Únicos cientistas no mundo a estudar e monitorar o tamanduaí, os pesquisadores do Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás do Brasil conseguiram recentemente fazer a coleta de sêmen de um macho adulto, o que é um passo importante para entender melhor a morfologia desse animal e também, talvez no futuro, iniciar um trabalho de reprodução da espécie e assim, garantir sua conservação.

“Agora essa amostra foi trazida para o laboratório da Universidade de Santa Cruz, em Ilhéus, na Bahia, e estamos medindo este sêmen, analisando parâmetros, e esse é o primeiro passo para fazermos um trabalho de pesquisa reprodutiva monitorada”, comemora Flávia Miranda, coordenadora do instituto. “Manter uma população mínima saudável e geneticamente viável de tamanduaí em cativeiro permite ampliar o nível de conhecimento sobre a espécie e dar suporte aos indivíduos de vida livre. Esta é uma das ferramentas para evitar a extinção e realizar a reintrodução no habitat natural, caso seja necessário”.

Ela explica que o procedimento de captura desses indivíduos é realizado através do sistema chamado de “busca ativa”. Quando dos pesquisadores encontram o animal na floresta, sobem na árvore, o colocam num saquinho de pano e a anestesia é feita ali mesmo, no chão. “É um protocolo super-seguro. Coletamos todas as amostras biológicas – sangue, pelo, biometria -, depois colocamos um microchip nesse animal para ele ter uma identidade e um número, e quando acabamos aplicamos um medicamento que reverte a anestesia e em cinco minutos ele já está ótimo e volta para o mesmo lugar onde capturamos”.


Processo de captura de um tamanduaí

Desde 2005, o projeto de estudo para a conservação da espécie tem o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Graças à parceria, o projeto conta atualmente com uma base avançada de pesquisa e um laboratório de campo completo, com gerador, microscópios, centrífugas e balão de nitrogênio. Com isso, todas as análises passam a ser feitas in loco, em tempo real e com armazenamento adequado, sem a necessidade de deslocamento do material.

Acredita-se que os tamanduaís nordestinos possam ter sido separados das populações amazônicas na Era do Pleistoceno, quando as Florestas Atlântica e Amazônica retraíram, sendo substituídas pela Caatinga. Por esta razão, a espécie do Delta do Parnaíba pode ter traços genéticos e evolutivos diferentes da qual foi originada.

O tamanduaí descansa durante o dia e realiza suas atividades de noite. Vive nas árvores e raramente desce ao chão. Alimenta-se basicamente de formigas e em menor número, de besouros. Com exceção do período de reprodução da espécie, está sempre sozinho. A gestação da fêmea dura aproximadamente dois meses e meio, normalmente com o nascimento de apenas um filhote.


Ainda não se tem ideia da população de tamanduaís no litoral nordestino. Em 2019, um grupo de brasileiros, liderado por Flávia Miranda, anunciou a descoberta de seis novas espécies no Brasil, duas delas endêmicas daqui, ou seja, só existem em nosso país e em nenhum outro lugar do mundo.

No artigo na publicação científica Zoological Journal of The Linnear Society os cientistas descreveram as novas espécies, pertencentes ao gênero Cyclopes: C. ida; C. dorsalis; C. catellus; C. thomasi; C. rufus e C. xinguensis. Foram necessários diversos estudos taxonômicos, que analisaram características físicas como coloração e tamanho em mais de 280 espécimes.


Expectativa é que num futuro breve possa se ter uma população segura da espécie em cativeiro.

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