No dia 6 de dezembro a RTP exibiu o que à primeira vista poderia parecer mais um documentário sobre a vida selvagem com propósitos educativos. Mas Migradores de Longa Distância: entre o Tejo e o Ártico não é só o resultado filmado duma década e meia de investigação sobre a odisseia dos maçaricos-de-bico-direito entre o estuário do Tejo e a região sub-ártica da Islândia. É uma interpelação sobre a estupidez humana.
Estas aves que abundam nos estuários, lagoas, e zonas costeiras de Portugal desaparecem entre abril e setembro, pois migram para o Ártico para se reproduzirem. Escandinávia, Rússia, Canadá, Gronelândia e Islândia enchem-se literalmente de vida quando aves limícolas ocupam estas paragens para fazerem os seus ninhos, colocarem os ovos e produzirem a nova geração de pilritos, borrelhos e maçaricos que irão novamente ocupar as zonas húmidas portuguesas, antes do Ártico voltar a ficar preso em gelo e neve até à próxima primavera.
É este ciclo anual que José Alves segue cada ano, tentando desvendar os mistérios destes fenómenos migratórios e as respostas que estas espécies são capazes de desenvolver perante as drásticas alterações dos seus habitats naturais.
As aves limícolas estão na linha da frente das alterações ambientais, uma vez que o aquecimento global é mais acentuado nas zonas polares, para onde migram na primavera, e a perda de habitat nas zonas costeiras que habitam no outono/inverno é muito acelerado em todo o planeta. São por isso um modelo de excelência para se perceber qual a capacidade da biodiversidade em se adaptar às alterações globais.
Em Portugal, o estuário do Tejo, a maior e mais importante zona húmida para este grupo de aves, é o ponto de partida do documentário "Migradores de longa distância: entre o Tejo e o Ártico", com imagens nunca antes emitidas em televisão. Bandos de 40 a 50 mil aves, capturas noturnas e marcação individual destas aves foram registadas nos dois anos de rodagem deste trabalho, que acompanhou também as aves (e os investigadores) até à Islândia, capturando o nascimento das crias, e as ameaças que estas enfrentam e que os investigadores portugueses, islandeses e ingleses tentam desvendar. De regresso ao estuário do Tejo, as ameaças locais, nomeadamente a intenção de operar um aeroporto comercial na península Montijo, coração geográfico desta zona húmida é também abordada.
Este documentário internacional, gravado entre 2018 e 2020, apresenta as aves migradoras como nunca vistas: um espetáculo natural partilhado pelos vários países que têm o privilégio de as receber e a que a todos compete preservar!
Joaquim Pedro Ferreira, investigador e Divulgador de Ciência, captou as imagens do documentário, no qual partilha a autoria com José Alves, a revisão científica com Amadeu Soares e a realização com Pedro Miguel Ferreira, da Produtora PlaySolutions Audiovisuais.
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