Em cima da mesa estão neste momento cerca de 59 mil milhões de euros, ou seja, a aposta da multinacional farmacêutica alemã "Bayer" na compra de "Monsanto", o gigante norte-americano dos pesticidas e das sementes que controla à escala mundial 90% dos Organismos Geneticamente Modificados (OGM). Resta saber se as autoridades da concorrência já se pronunciaram e, na afirmativa, quais foram os procedimentos anti truste adoptados.
Em primeiro lugar, qual é o impacto desta fusão em termos de saúde pública? Há mais de 30 anos que a Monsanto lida com agentes cancerígenos (Cf. Centro Nacional de Pesquisa Científica e Universidade Pierre e Marie Curie, França). Concretamente, a exposição crónica aos pesticidas está associada a patologias graves, tipo linfoma não-Hodgkin e doença de Parkinson. O Roundup Supra, que representa 40% do volume de negócios da Monsanto, é um herbicida não convencional, de degradação muito lenta e de alta solubilidade na água (substância activa: glifosato). Ele actua no combate aos infestantes, em vinhas, pomares, etc., mas provoca intolerância ao glúten, uma proteína presente num vasto leque de alimentos do nosso quotidiano: trigo, cevada, centeio, queijos, etc.
Em suma, nesta aliança alquímica, as mutações genéticas introduzidas pela multinacional rentabilizam os seus herbicidas agro-tóxicos, sendo que as sementes manipuladas só são resistentes aos pesticidas que a multinacional fabrica! (Soja e milho transgénicos para resistir ao Roundup). Estamos face a uma contaminação da Natureza: a biodiversidade e a qualidade comprometidas, o que coloca a questão dos malefícios de certas biotecnologias. Mas também contaminação dos alimentos que temos à mesa. Na realidade, as sementes, riqueza e património da humanidade pela sua variedade, passam a ser simples mercadoria. Para os agricultores deixa de haver alternativa na escolha das sementes, isto é, das plantas, dos cultivos, do que se come e vende. Um sistema anti-social, como é o caso do algodão na Índia. Falam os media das responsabilidades da Monsanto nos suicídios por enforcamento de mais de 280.000 camponeses indianos do "algodão da morte"?* Que adianta ter sido a multinacional condenada várias vezes por agressões ambientais? A Bayer também não está acima de qualquer suspeita: é conhecido o caso das abelhas assassinadas por agentes tóxicos, sem falar na venda de produtos sanguíneos contaminados pelo vírus da Sida HIV.
Diz-se que o dinheiro não tem cheiro. Também não o terão as acções da Monsanto que Bill Gates e a sua esposa Melinda detêm em carteira! ("Via campesina" 2010). Sobretudo agora que o fundador da Microsoft virou filantropo, a querer fazer recuar a pobreza no mundo, com alguns donativos!
Qual é então o interesse da Bayer nesta aquisição aqui em análise? Em 2015, o seu volume de negócios em milhares de milhões de euros no sector agrícola era de 10,37%, enquanto o da Monsanto era de 13,40%, apesar das actuais quedas na venda de OGM. A oportunidade de uma fatia de mercado para a multinacional alemã, que só controla actualmente 22% das vendas no sector pesticidas-sementes. DuPont e Dow Chemicals também acasalaram. Trata-se, com estas fusões, de dominar o mercado mundial da agroquímica, se possível concentrado em uma só empresa, neste momento em mãos de três conglomerados empresariais. Concentração que é a melhor maneira de impor políticas agrícolas baseadas nas sementes OGM & pesticidas associados. Já em 2014 a Bayer alemã tinha procurado engolir a Syngenta, Companhia suíça de pesticidas, o que acabou por ser conseguido, não pela Bayer, mas pela ChemChina, que selou a compra da empresa suíça por cerca de 39 mil milhões de euros. O reverso da medalha de tudo isto é, invariavelmente, a perda da independência alimentar de agricultores e consumidores. Se o leitor tiver alguma apetência em obter outras abordagens do tema destas linhas, o acesso é fácil, dado que "O Mundo Segundo Monsanto", de Marie Monique Robin (2008) é uma obra traduzida em 15 línguas, em mais de 20 países!
António Branquinho Pequeno [Fonte: O Ribatejo]
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