sexta-feira, 21 de outubro de 2016

As florestas são garantia de água em 10 anos (análise de caso no Brasil)

Especialistas apontam acções para evitar falta de água

Se em cada dia for plantado meio hectare de árvores – o que equivale a meio campo de futebol –, por cem mil agricultores, em um ano teríamos uma bela floresta, com 50 mil hectares. Uma ação diária que pode evitar a falta de água nos próximos 10 anos.

O reflorestamento é uma das ações – de curto a longo prazo –, apontadas por especialistas, que precisam ser postas em prática para que o Estado do  Espírito Santo consiga reverter a situação de déficit hídrico que já levou várias cidades ao racionamento, inclusive Vitória.
Um dos passos mais importantes, ressalta Renato Moraes de Jesus, engenheiro florestal e doutor em Ecologia, é começar a plantar árvores: “E logo. Se fizermos isto, em dez anos teríamos 500 mil hectares de floresta. Um bom começo”.

Um córrego deu lugar ao Rio Santa Maria da Vitória, no distrito de Recreio. O manancial está sendo castigado pela escassez de água no interior do Estado. Fonte: Gazeta Online
Com cerca de dois anos as mudas vão ter de 2 a 3 metros e vão ajudar a acabar com a impermeabilização do solo. “A gota de chuva não cairá direto no solo, mas vai na folha, no tronco e chega ao solo numa velocidade menor, o que ajuda na infiltração. Não escorre, lavando o solo”, relata.
A prioridade seria para as matas ciliares - ao longo das margens dos rios e nascentes – e os topos de morro, que são as áreas de recarga. “Chove no Estado cerca de 1.200 milímetros por ano e 60% desta chuva seria absorvida pelo solo, se tivesse floresta”, pondera o engenheiro.

Desmatamento
É assim, que se começa a mudar as características do solo, relata. “O Espírito Santo já chegou a ter 90% de sua área coberta por florestas. Desmataram tudo e estamos vendo o resultado”, assinala o engenheiro, lembrando que em 2013 toda a água da enchente que assolou o Estado foi perdida.
Na avaliação dele os agricultores seriam os responsáveis pelo plantio. “Não chega a um dia de trabalho”, pontua Renato. Mas caberia ao governo o custo das mudas, dos insumos e da tecnologia. Mas a cidade também teria que pagar o preço. “Consomem o que não produzem e há um custo”, destaca.

Acções
Mas até que as florestas consigam mudar o atual cenário de escassez, é preciso aprender a conviver com pouca água. “A tarefa é aprender o uso racional. E pôr em prática algumas medidas importantes”, destaca Élio de Castro, presidente do Fórum Estadual dos Comitês de Bacias Hidrográficas. (Veja as ações aqui)

Há mudanças que começam no campo, com o uso de equipamentos mais eficientes para a irrigação, que economizem água. “Somos o segundo Estado que mais irriga no Brasil. E ainda estamos muito atrasados na tecnologia. Temos que utilizar, por exemplo, espécies (plantas) que sejam produtivas, mas que consumam menos água”, pondera.

Outras ações passam pela cidade, com o reaproveitamento da água da chuva, hoje toda ela descartada. E também nas indústrias, que precisam lançar mão do reúso de água. “É inconcebível a construção civil lançar mão de água tratada para fazer seus prédios”, destaca Castro. Ações que dependem de mudanças na legislação.

Outro ponto importante é a gestão plena dos comitês de bacias hidrográficas, os responsáveis por cuidar dos mananciais. E isto inclui a cobrança pelo uso da água, recursos que vão ajudar na recuperação dos rios. “A política nacional de recursos hídricos é de 1997. A estadual é de 1998. E nada foi feito até agora. Isto tem que mudar”, assinala Castro.

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