sábado, 4 de outubro de 2025

Fernando Santos Pessoa publicou em livro décadas de reflexões sobre Território e Paisagem

São 34 textos, que foram escritos ao longo de muitos anos, mas que «não são pensamentos dispersos» e denotam uma linha de pensamento coerente que Fernando Santos Pessoa, engenheiro silvicultor, arquiteto paisagista e professor universitário, sempre manteve.

Esta é uma descrição sucinta do livro “Território e Paisagem”, que junta reflexões do autor sobre temas diversos, mas principalmente ligados ao Ambiente, publicadas ao longo de mais de três décadas em diversas plataformas, incluindo o Sul Informação, que foi apresentado no dia 25 de Setembro, em Faro.

«Chego à conclusão de que ao longo dos anos mantive as mesmas convicções, aprofundando-as e esticando mais um bocadinho para novos desafios que nos aparecem. Mas a intenção é essa, é mostrar uma certa coerência mantida ao longo de tantos anos», disse ao Sul Informação Fernando Santos Pessoa, à margem da apresentação do seu mais recente livro.

«Nestes últimos anos surgiram desafios novos [ambientais e políticos] com os quais não contávamos aqui há 10 ou 20 anos. Dentro dessa ideia, como eu disse, sei que posso errar, mas faço o que for possível para não o fazer, dentro das minhas convicções», acrescentou.

Na sessão da passada semana, a apresentação da obra esteve a cargo do também arquiteto paisagista Gonçalo Gomes, antigo aluno (e não só) do homenageado, na Universidade do Algarve.

«Tenho de fazer uma declaração de interesses prévia: sou aluno, sou discípulo, sou amigo e sou admirador. Há sempre um certo viés, mas que eu não tenho qualquer problema em assumir, porque a leitura do que escreve e a análise da sua obra confirmam que eu não estou a exagerar», disse Gonçalo Gomes, durante a sessão.

Referindo-se a um texto dos anos 90, um dos que pode ser lido na obra apresentada, em que, apesar preconizar um futuro negro, nomeadamente grandes ameaças à liberdade e à democracia, Fernando Santos Pessoa avisava que «não se tratava de ser o Velho do Restelo», Gonçalo Gomes aproveitou para criar uma imagem diferente: «um “velho” no alto do Restelo, ou seja, alguém que, de um ponto elevado, lança um olhar mais lúcido, mais alongado e contextualizado sobre aquilo que se vai desenvolvendo à sua frente».

«Uma das grandes tónicas deste livro é ter um olhar humanista, sempre muito centrado no bem-estar das pessoas, na sua qualidade de vida e em algo que é fundamental, a dignidade do existir. Também se debruça sobre algo de que não falamos as vezes suficientes, que é a felicidade das pessoas, que é um tema sempre muito presente nas suas obras», resumiu.

Os 54 textos que estão unidos neste livro «enquadram-se em cinco grandes domínios, sendo que o Ambiente e Ecologia é o mais presente, seguido de um muito curioso, que é o Política e Utopia».

Muitos dos textos têm, de resto, uma forte componente de ativismo e de crítica «aos políticos negacionistas e interesseiros», como o próprio autor descreve na introdução do livro.

Arquitetura Paisagista e Ambiente, Ambiente e Cultura e Neste Tempo são os outros três domínios em que se dividem os textos presentes no livro.

Quanto ao futuro, Gonçalo Gomes não duvida que esta não será a última obra do seu antigo professor, uma vez que «a dinâmica é uma constante, quando falamos do arquiteto Fernando Santos Pessoa».

Fernando Pessoa não esconde, por seu lado, que por vezes se sente invadido por um certo pessimismo – «o meu grande amigo professor Jorge Paiva sempre disse: estamos sempre a malhar em ferro frio há tantas décadas, sempre a falar do mesmo assunto [sem conseguir que haja mudanças]» – e acaba a introdução a este livro com a frase «acho mesmo que vou parar».

Mais a frio, e de viva voz, admitiu ao nosso jornal, com um sorriso, que se calhar «qualquer dia sai mais qualquer coisa!».

“Território e Paisagem” junta textos e ilustrações de Fernando Santos Pessoa e é uma edição da editora Argumentum, com direção editorial de Filipe Jorge. O prefácio é do jornalista Idálio Revez.

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