quinta-feira, 18 de maio de 2023

Em 21 Séculos do Cargo, já houve algum Papa Negro? E como a Igreja vê a Sexualidade e o Planeamento Familiar?


Conservadorismo étnico
Até hoje, o negro mais próximo de se tornar líder da Igreja Católica foi o nigeriano Francis Arinze.

A Igreja Católica já teve três papas africanos. Vítor I (189-198), Melquíades (311-314) e Gelásio I (492-496) assumiram numa época de relações estreitas entre a Igreja e o Oriente. Alexandria, Cartago e Hipona eram cidades-chave para o domínio cristão — e cargos relevantes foram destinados a homens dessas regiões. “Até o século 5, houve um forte intercâmbio entre a Itália e o norte da África”, descreve o bispo gaúcho, Zeno Hastenteufel, de Novo Hamburgo. Especialista em história da Igreja, ele é o autor das obras História da Igreja Antiga e Medieval I e O Catecismo ao Alcance de Todos, entre outras. “Mas, embora fossem africanos, os papas não eram negros”, pontua.

Qual a razão de o último papa africano ter sido eleito no século V? O primeiro fator é que o catolicismo foi praticamente banido da África em meados no século V. Foi quando a tribo germânica dos vândalos invadiu o Norte da África e estabeleceu ali o seu reino.

Depois, durante o período de dominação bizantina do papado – o chamado Papado Bizantino, entre os anos 537 e 752 –, subiram ao trono de Pedro mais de trinta papas do Oriente. Eles eram católicos de língua grega, e eram indicados pelo Imperador bizantino. Muito provavelmente, tinham a pele mais escura.

Desde então, praticamente todos os papas eleitos foram europeus ocidentais. O motivo não tem nada a ver com questões raciais, mas sim com geografia e política. Vamos explicar.

Os papas eram muitas vezes eleitos por aclamação popular: o povão nas ruas de Roma e começava a gritar o nome de algum favorito. Com esse método, era impossível que elegessem algum cristão que fosse de algum país longínquo.

Também havia a eleição papal por meio do sínodo de bispos, que geralmente só envolvia alguns bispos das regiões próximas. Novamente, era quase impossível que algum cristão não europeu fosse eleito, já que eles só votavam naqueles que conheciam – e não tinham internet para conhecer o trabalho dos bispos de países distantes.

O primeiro papa eleito por um conclave (reunião fechada de cardeais, numa sala fechada “com chave”) foi Celestino IV, em 1241.

A ideia do conclave é que todos os cardeais votantes participassem da eleição de cada novo pontífice. Mas, na prática, a grande demora no deslocamento (não existia avião) impedia que os cardeais de países longínquos chegassem a Roma a tempo.

Com isso, a imensa maioria dos papas eram italianos (brancos), e alguns poucos eram de países vizinhos. Pois somente os cardeais da Itália e adjacências efetivamente compareciam aos conclaves.

Isso sem falar do período em que famílias poderosas de Roma dominavam o andamento das eleições papais (saiba mais no nosso livro "As Verdades que nunca te contaram sobre a Igreja Católica"). Não tinha como o papa não ser italiano!

Nos séculos X e XI alguns alemães se tornaram vigários de Cristo, devido à influência do Imperador Sacro Império Romano Germânico.

A combinação de todos esses fatores deu esse resultado: dos mais de 260 papas já eleitos, 217 foram italianos.

O Papa Francisco, argentino, foi o primeiro papa das Américas. E, apesar da grande influência dos Estados Unidos em Roma, nenhum prelado norte-americano subiu ao trono de Pedro até hoje.

Para se terem uma ideia mais clara do “problema”: em 1922, dois cardeais americanos ficaram muito aborrecidos por terem viajado em vão até o Vaticano: William O’Connell, de Boston, e Dennis Dougherty, da Filadélfia. Eles não conseguiram chegar a tempo no conclave que elegeu Pio XI.

Essa situação levou Pio XI a mudar as regras do conclave, para garantir que os cardeais de países de fora da Europa tivessem mais tempo para viajar e participar da votação.

HIV e aborto

Na primeira viagem de Bento XVI como papa a África, em 2009, uma declaração teve repercussão negativa. Ele afirmou que o combate à SIDA no continente não se resolveria com a distribuição de preservativos e que isso “agravaria o problema”. À época, a região era uma das mais afetadas pelo avanço da doença.

O papa, que seguia para uma viagem a Camarões, defendeu que “castidade e abstinência” seriam a melhor maneira de conter o avanço da doença. O líder religioso chegou a acrescentar que uma mudança “espiritual” seria a “única solução”.

Ainda no continente, na Angola, Ratzinger condenou o aborto e criticou o Protocolo de Maputo, documento que define os direitos das mulheres. Não seria a primeira vez que Bento XVI se manifestava contrariamente à interrupção da gravidez, inclusive em casos de risco para a vida de gestantes.

O uso do preservativo por pessoas em tratamento para o HIV e entre pessoas sorodiscordantes — quando uma delas tem o vírus, e a outra, não — é “fortemente recomendado”, segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). Ele também é indicado para evitar o contágio por outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e casos de gravidez indesejada.

Outras religiões
Após uma declaração polémica, o papa emérito ofendeu a comunidade muçulmana. Em 2006, na Universidade de Ratisbona, na região alemã da Baviera, Bento XVI disse que Maomé teria trazido ao mundo apenas “coisas más e desumanas”.

Além disso, afirmou que o comando do profeta do Islão espalhou pela espada a fé que pregava. As declarações levaram a ataques contra igrejas católicas na Cisjordânia, a cobranças de explicações por parte do governo paquistanês e à aprovação de uma resolução contra o papa pelo Parlamento europeu.

No mesmo ano, judeus também reagiram a falas de Bento XVI a respeito do Holocausto, durante uma visita dele ao antigo campo de concentração de Auschwitz, na Polónia. Na ocasião, o papa responsabilizou “um bando de criminosos” pelas ações durante o regime nazi.

Para líderes de associações judaicas, a fala teria reduzido o papel de aliados e cúmplices do nazismo nas ações de violência contra judeus.

A Homossexualidade
A questão da homossexualidade foi central no comando da Igreja por Ratzinger. Além de condenar a prática, o inicio de seu governo anunciou a proibição completa de integração de gays como padres católicos. Bento disse que a instituição nunca que a instituição nunca deveria “admitir no Seminário e nas Ordens Sacras aqueles que praticam a homossexualidade” ou qualquer um que apoie “a chamada cultura gay”. Ao lado da questão do aborto, o pontífice assumiu uma posição intransigente : as práticas devem ser condenadas, assim como sua legalização.
O escândalo de vazamentos do Vaticano, também conhecido como Vati-Leaks, é um escândalo que começou em 2012 envolvendo inicialmente documentos vazados do Vaticano, expondo a corrupção; além disso, uma investigação interna do Vaticano supostamente revelou a chantagem do clero homossexual por indivíduos fora da Igreja. O jornalista italiano Gianluigi Nuzzi publicou cartas do arcebispo Carlo Maria Viganò nas quais expôs a corrupção que levou a Santa Sé a pagar preços mais altos pelos contratos.

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