Os tubos de proteção estão vazios; as árvores morreram; sobrou lixo plástico a salpicar a paisagem. As plantações de árvores autóctones falham sistematicamente. Porquê?
Há sempre a hipótese das proveniências, mas a principal causa talvez não ande por aqui ...
A vala e cômoro foi a técnica mais usada nos grandes projetos de arborização pública do séc. XX: espreite-se o GoogleEarth: até parece que as montanhas do norte e centro foram cardadas pelo pente de um gigante. Estas arborizações tiveram como ponto de partida (condição inicial) montes cobertos por um mosaico de arbustos e pastagens graminoides perenes e anuais, estabilizado pela combinação de pastoreio e fogo pastoril – herbivoria pírica assim se diz agora. No tempo zero, o stock de carbono orgânico do solo atingira um máximo em equilíbrio com o macroclima. As arborizações de pinheiro-bravo a vala e cômoro prosperaram graças à "formação de solo" (sobretudo nos xistos), à concentração da água na vala, ao controlo da vegetação natural (os diásporos e propágulos foram arrojados para o fundo da cova), e à disponibilização de nutrientes através da mineralização da matéria orgânica do solo. Não fosse o fogo ...
Nas atuais plantações ao covacho com baixas densidades em solos martirizados por fogos severos (que consomem a matéria orgânica do solo), as árvores sofrem, ainda num estado precoce do desenvolvimento, as investidas da vegetação natural e passam sede e fome – falta-lhes, sobretudo, o azoto reduzido e o boro. Nestas condições, inevitável, o sucesso das plantações depende da fertilização química da terra e da contenção da progressão sucessional, através do controlo mecânico da vegetação ou do herbicida. O fogo controlado entra em seguida. A não perturbação do solo e esta insistência de que a floresta não precisa de ser fertilizada podem, afinal, ser contraproducentes.
Para serem eficazes e eficientes nos seus propósitos, a agricultura e a silvicultura enfrentam restrições biofísicas cuja mitigação/solução não está nas micorrizas, nos extratos de algas, nas misturas de aminoácidos, no imprinting epigenético, ou nas laudas desconexas aos benefícios da flora infestante ou de um microbioma que ninguém sabe como é, por exemplo. Os princípios fundamentais há que os procurar nas velhas agronomia e silvicultura. E, acrescento, convém que os ecólogos agrícolas e florestais entendam os mecanismos básicos da produção agrícola e florestal para que os ganhos sociais e ambientais dos atuais projetos de investigação no tema sejam reais. Por outras palavras, aproveita aprender umas coisas das engenharias agronómica e silvícola.
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