segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Solstício de Inverno 2023 e Inverno Climatológico

O problema de seca na Andaluzia já perdura há mais de dois anos. Aqui uma excelente intervenção Fernando Díaz del Olmo alertando-nos para as consequências de um aumento de 3 ºC.
 

O solstício de Inverno irá ocorrer no próximo dia 22 de Dezembro pelas 3h27 de Lisboa e Londres (ou 4h27 de Madrid). 

Terá então início o Inverno astronómico, já que o Inverno climatológico teve início a 1 de Dezembro. E para já, e tendo em conta as previsões até ao final do mês, a situação não é animadora, quer para a agricultura quer para os cursos de água e ecossistemas, em particular da região Sul de Portugal e de Espanha. 

Dezembro é geralmente o mês mais chuvoso do ano no sudoeste peninsular, mas nos últimos vinte anos a precipitação caiu a pique. Em Faro, por exemplo, a precipitação média de Dezembro ronda os 100 mm, o que corresponde sensivelmente a 20% da média anual. Os últimos três meses do ano, quer no Algarve quer na Andaluzia Ocidental representam no seu conjunto cerca de 50% da média do ano. Isto significa que quando o Outono e o Inverno são secos ou muito secos a recuperação já será altamente improvável. Anos secos são comuns, e costumam ser compensados por anos húmidos. Sucede que desde 2010/2011 há uma sucessão de anos secos ou muito secos em boa parte do sudoeste da Península, associados também a um aumento generalizado das temperaturas. 

Está também demonstrado que o padrão de precipitação mudou: a tendência é para curtos períodos de precipitação intensa alternarem com longos períodos secos, e para a precipitação cair a pique no Inverno e ficar concentrada nas estações de transição, o que causa prejuízos às culturas agrícolas tradicionais e aos ecossistemas mediterrânicos das região. Se se está perante uma alteração temporária ou permanente só os próximos anos ou décadas poderão confirmar. 

Deserto de Tabernas, em Almeria, uma região com menos de 200 mm de precipitação média anual. A sua área sofrerá uma expansão se a tendência actual de queda da precipitação persistir. 

O que poderia suceder na pior das hipóteses? O clima mediterrânico evoluiria para um clima semiárido quente, idêntico ao que ocorre no Levante espanhol, Marrocos ou Síria, com precipitação média anual entre os 250 e os 400 mm em parte do Alentejo e do Algarve, e boa parte da Andaluzia Ocidental e da Estremadura. Nestas regiões o montado desaparecerá, bem como os pinhais de pinheiro-manso, tão comuns nas províncias de Huelva, Sevilha ou Cádis. Dezenas senão mesmo centenas de espécies de plantas ou animais dependerão do auxílio do Homem para sobreviver à extinção.

Na Andaluzia Ocidental a seca, as pragas e a sobrexploração dos aquíferos estão a provocar a morte a milhares de árvores adultas, como sucede nestes pinheiros em Doñana.

A raiz do problema está na alteração da posição do Anticiclone dos Açores e da dorsal anticiclónica africana, que durante o Inverno bloqueiam a passagem de depressões atlânticas, especialmente a Sul de Sintra-Montejunto-Estrela. A precipitação no sudoeste depende muito da instabilidade no Golfo de Cádis. Ora o triângulo com vértices em Gibraltar, Canárias e Açores corresponde a uma região do Atlântico onde na última década a estabilidade anticiclónica tem persistido com enorme intensidade no período invernal, o que provoca a situação de seca crónica que se vive no Algarve, Andaluzia ou boa parte do Alentejo. Aparentemente a atmosfera mudou e não há nada que possamos fazer senão adaptarmo-nos.

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