Num momento em que a meditação, o yoga, a oração e a espiritualidade em geral tendem a ser reduzidas a técnicas de auto-ajuda e bem-estar para remediar ou consolar egos fragilizados e insatisfeitos, nunca é demais recordar a base de qualquer via espiritual digna deste nome, que é questionar a existência real do que temos como mais evidente e inquestionável: sermos um “eu” sólido, real, substancial e permanente.
"(...) a maioria de nós acredita na existência de um "eu" sólido e duradouro que somos nós mesmos, "eu mesmo", "eu", que necessita de ser constantemente cuidado, protegido e desenvolvido. Esta crença conduz-nos a despender muito tempo e energia em acções ao serviço deste suposto "eu". Por causa desta crença, se começamos a sentir-nos instáveis ou fracos ou mesmo não-existentes, pensaremos que algo "mau" nos aconteceu e vamos entrar em pânico. Podemos correr para a secção de auto-ajuda da nossa livraria local ou para o nosso terapeuta ou para o frigorífico ou para o ginásio ou, se somos um workaólico, de volta para o computador para trabalharmos mais um pouco. Ou, talvez, se temos essa inclinação, vamos beber um copo, tomar algumas drogas ou chamar um amigo. Baseados na crença num eu, se alguém parece ignorar-nos ou insultar-nos, consideraremos essa pessoa um "inimigo" e mobilizaremos todos os sentimentos, atitudes e acções que considerarmos apropriados a alguém que está "contra" nós. Dá muito trabalho manter um ego, mas a maioria de nós está mais do que pronta para isso e assume isto como o nosso principal projecto de vida.
As crenças são muito poderosas, porque o que nós fazemos com cada momento das nossas vidas é guiado por elas. Se as nossas crenças acerca da realidade são correctas, as nossas vidas serão fecundas e gratificantes. Mas, se são falsas, estaremos a construir as nossas vidas sobre um alicerce que não tem substância, não tem força e, de facto, não tem realidade. Mais cedo ou mais tarde - e provavelmente mais cedo - o alicerce vai afundar-se e as nossas vidas colapsarão. Olhem à vossa volta. Isso acontece constantemente. Isso acontece por fim a todos nós quando nos deparamos com a nossa própria morte. A crença num "eu" substancial e sólido é um exemplo de uma "visão errada". Por outras palavras, é uma crença que, por muito que tenhamos investido nela, é incorrecta, errada e em desconformidade com o modo como as coisas na verdade são.
(...) é um facto que ninguém que esteja 100 por cento dedicado à existência e engrandecimento do seu ego irá alguma vez meditar. Porquê? Porque a meditação implica olhar para a nossa própria experiência. O ego é basicamente uma má ideia sem futuro; e este tipo de olhar pressagia a sentença de morte do ego"
Sobre Reginald A. Ray
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