«O Oriente!
Haverá nome que melhor tenha soado aos ouvidos dos portugueses?
Não há, e com razão». Jaime do Inso (1932)
Hoje deu-me saudades do grande amigo meu, Pedro Baptista. Conhecemo-nos como colegas na Escola Secundária Garcia de Orta, no Porto. A empatia foi natural. Professor e doutorado em filosofia, cedo me contou a sua juventude. Antigo militante da extrema-esquerda, foi dirigente estudantil no Porto entre 1968 e 1971, cofundador do jornal “Grito do Povo” de oposição ao Estado Novo, preso político em 1973 e deportado para Angola, regressando a 1 de maio de 1974.
o Pedro fundou o único partido político que a cidade do Porto viu nascer até hoje. Chamou-o O Grito do Povo, marca que gravava em título de jornal a indignação de milhões de portugueses, esgotados de um regime ditatorial que esmagou o país.
Além de autor de obras como "Pessoas, Animais e Outros que Tais", "O Cavaleiro Azul" e "Ao Encontro do Halley", foi sempre politicamente ativo. Foi deputado à Assembleia da República, eleito pelo Porto, entre 1995 e 1999, pelo PS. Foi candidato do Partido Democrático do Atlântico (PDA), em 2011, pelo círculo do Porto. Ultimamente era deputado da Assembleia Municipal, eleito pelo movimento independente do presidente Rui Moreira.
Estudou profundamente um filósofo português antifascista e que se exilou no Brasil: Lúcio Alberto Pinheiro dos Santos (1889-1950), apresentado à Europa pelo filósofo e epistemólogo francês Gaston Bachelard (1884-1962). Foi o fundador da ritmanálise. O ritmo é a própria energia de existência em todas as escalas e assim o princípio unificador da física, da biologia e da psicologia. Tanto o universo como a própria vida assentam em sistemas rítmicos interactivos, desde as frequências regulares da radiação, passando pelo pulsar vital, até às oscilações do psiquismo humano, que esta nova forma de actividade criadora procura compreender e orientar. Entre 1923-26 Luís Pinheiro foi o Chefe dos Serviços de Educação da Índia Portuguesa.
Amava a China. Muito falava da sua paixão por este País. Longas conversas tivemos sobre o orientalismo Português: Luís de Camões, Fernão Mendes Pinto, Camilo Pessanha, Marina Ondina Braga, os Jesuítas e o Japão. Creio que viveu um ou dois anos em Macau. Felizmente em vida concretizou o seu sonho de visitar a China. Fiquei muito feliz, por ele. Era um prazer estar com ele. Muito reservado em sua vida privada, não sei se deixou filhos.
Admirava-o muito também em como ele era um defensor acérrimo do património urbanístico e paisagístico onde (quase) sempre viveu, Nevogilde. Caramba, fazes falta!
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