segunda-feira, 19 de julho de 2021

Vamos discutindo o preço insuportável dos combustíveis enquanto podemos



A região sudeste da Amazónia está a emitir mais dióxido de carbono do que aquele que é capaz de absorver. E a catástrofe climática anunciada é evidente do Canadá à Alemanha e nas nossas vidas. Bruxelas aprovou a meta de reduzir em 55% as emissões de CO2 até 2030 (as associações dizem que abaixo de 65% é ineficaz) e banir a construção de novos carros a gasolina e gasóleo até 2035. Entretanto, os preços dos combustíveis atingem níveis insuportáveis. É absurdo dar lições ambientalistas a quem não sabe como pagar as suas deslocações diárias. Mas, mesmo que o cartel dos retalhistas seja vencido e que se baixem os impostos sobre os combustíveis, não é provável que os preços venham a baixar nos próximos anos. Nem podem. O debate politicamente sério não é esse. Nem acreditar que basta trocar de carro para tudo seguir como antes. Dizer isto não é dizer que nos estamos nas tintas para os problemas quotidianos das pessoas. É que as soluções de longo prazo para esse quotidiano terão de vir de outro lado e não podem ser exclusivamente fiscais. O debate ambiental, que tem sido enganadoramente técnico e por isso enganadoramente consensual, terá de ser apropriado pela política. Reagir às alterações climáticas é uma questão de sobrevivência. Mas a forma como isso será feito, quem fica pelo caminho e em que sociedade viremos, é política. O debate estrutural não é como manter preços de combustíveis baixos. Não acontecerá. É como ter transportes públicos urbanos e suburbanos gratuitos e de qualidade; políticas públicas de habitação agressivas que travem o êxodo para as periferias; como fazer um investimento sem precedentes na ferrovia e na alta velocidade; como conseguir que a revolução económica que inevitavelmente acontecerá crie mais emprego e distribua riqueza em vez de a concentrar. Se todos estes debates forem perdidos os negacionistas – os teóricos, que recusam a realidade, e os práticos, que se comportam como se ela não existisse – terão outro discurso para oferecer. Os nossos netos, os seus filhos e os netos deles não deixarão de nos tratar como a mais criminosa de todas as gerações.

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