segunda-feira, 19 de julho de 2021

Documentário da Semana: O Lado Negro das Energias Verdes




Carros elétricos, aerogeradores, painéis solares...
A transição energética traz a promessa de um mundo mais próspero e pacífico, finalmente livre de petróleo e poluição. Mas esta tese oficial prova ser um mito: ao libertarmo-nos dos combustíveis fósseis, estamo-nos a preparar para uma nova dependência de metais raros.

E se o "mundo verde" que nos espera se revelar um novo pesadelo?

O filme parte da tese de que, ao mudarmos de uma economia energética baseada em combustíveis fósseis para as chamadas energias verdes, estamos a criar uma nova dependência de metais raros, necessários, por exemplo, ao funcionamento das baterias dos automóveis eléctricos. O documentário fala das minas a céu aberto, das vidas humanas que valem menos que o valor económico da extracção, da promessa de uma nova revolução industrial que poderá levar determinados países a uma prosperidade económica, do avanço e interesse da China nesta transição, da poluição invisível e da ironia das cidades verdes.

“E se a promessa de uma energia limpa for apenas uma ilusão?” – é a questão levantada logo no início. No final, a mensagem que fica é simples e prende-se com o consumo de matérias-primas e de energia: “É urgente repensar a nossa relação com as matérias-primas para acabar por consumir menos energia e extrair menos recursos.” Por outras palavras, o filme acaba por reflectir que o pode ser necessário para salvar o Planeta é diminuir as nossas necessidades industriais de matérias-primas e o consumo energético global. Estas energias verdes acabam por relocalizar a poluição gerada para longe do nosso olhar, para longe das nossas cidades, mas ainda sobre o nosso mundo.

Uma dos contrastes mais fortes que este documentário traça tem a ver precisamente com esta ideia de relocalização da poluição: por exemplo, para a Noruega ser um país onde 60% dos automóveis vendidos são eléctricos há vidas humanas subvalorizadas pelo sistema económico, ganancioso e cruel, numa outra ponta do planeta, lençóis freáticos despidos e mares de poluição que ninguém na Noruega, a conduzir o seu eléctrico, sonhará que acontece. Os carros eléctricos são um caso muito paradigmático da falência desta transição energética: ao serem produzidos em grande escala fazem aumentar a pressão sobre os metais raros e a sua extracção. Enquanto alguns países – aqueles onde as fábricas automóveis já estão estabelecidas – querem continuar a fazer dinheiro com a produção de veículos, outros olham de modo cego para as novas oportunidades que a procura por um novo recurso lhes pode trazer.

Os carros eléctricos são, neste caso, apresentados como um mito da sustentabilidade. Tal como os novos cigarros electrónicos estilo IQOS deverão ajudar a indústria tabaqueira a manter o seu domínio no mercado, agora que esta enfrenta restrições e evidências científicas inegáveis por causa do malefícios dos seus primeiros produtos, os carros eléctricos deverão ter ao mesmo efeito para a indústria automóvel. Ou seja, ajudá-la a prolongar o seu poderio, agora que os males dos seus anteriores produtos – os veículos a gasolina ou gasóleo – passam também por cada vez mais restrições baseadas em factos. São inegáveis os efeitos nocivos da poluição atmosférica – só em Portugal, por exemplo, mata 6630 pessoas por ano e custa à cidade de Lisboa 635 milhões de euros anuais. Segundo a Agência Europeia do Ambiente, o meio de transporte mais poluente na Europa é o carro (60%). Todo o tráfego automóvel emite mais CO2 que toda a aviação civil junta (13,4%); mas a solução, como explica o documentário, deve ser ponderada.

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