Para os mais incautos, a Fundação Alfredo de Sousa é a fundação privada que detém o património da Faculdade de Economia da NOVA e foi responsável pela angariação de fundos e atual gestão do campus de Carcavelos.
Claro que é muito mais do que isso. É todo um tratado de economia política. O capital odeia todas as formas institucionais onde o seu poder económico não se reflita na capacidade de determinar estratégias e resultados. E, por isso, odeia a universidade pública.
Com efeito, com a conivência dos académicos da referida faculdade e de uma Câmara Municipal colaboracionista, lá arranjaram esta fundação para mandar. A constituição do conselho de Administração fala por si. Como informa a notícia, "(...) agora vai ter um novo conselho de Administração: Vai entrar Henrique de Castro, antigo COO da Google, Rui Diniz, do grupo Mello, Vera Pinto Pereira, da EDP, Alexandra Brandão, do Santander, Clara C. Streit, da Jerónimo Martins, e António Casanova da Unilever". Em suma, ali pontifica todo o poder económico português.
A sede de mandar está longe de ser uma fantasia, embora a NOVA goste sempre de recordar que se trata de mecenato privado desinteressado. O puxão de orelhas a Susana Peralta por assinar os artigos como docente da faculdade, expressando uma narrativa não alinhada, foi um dos sintomas. Mas os conflitos de interesse são evidentes: ousará alguma vez um docente da NOVA criticar a relação do Estado com o grupo Mello na área da Saúde? Ou as rendas energéticas da EDP?
A cereja no topo do bolo é a nomeação de Miguel Pinto Luz, Vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais e ex-candidato a líder do PSD, para presidente da fundação Alfredo de Sousa. Tente ler esta passagem da notícia sem se rir: "O processo de escolha foi exigente e competitivo, com o envolvimento direto de José Soares dos Santos e um ‘search committee’, com entrevistas a vários candidatos."
O search committe (é a NOVA, jamais poderia ser um comité de seleção), muito independente, escolheu, veja-se lá, entre tantos candidatos, o Vice-Presidente da Câmara Municipal que alienou terrenos públicos a uma fundação privada, num processo que é tudo menos claro.
Há coisas que não se inventam.
Fonte: Ladrões de Bicicletas
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