A obra do poeta popular algarvio é impactante, no que respeita à renovação de mentalidades de todo um país. A sua mordaz crítica social está longe de se esgotar no seu tempo.
Cauteleiro, guardador de caprinos, tecelão, guarda, servente, cantor popular em tempo de feira, homem de mil ofícios e de improvisos… esperançoso emigrante.
António Aleixo, revela-nos a dimensão do sábio longe da erudição. Como quem esgravata invulgarmente a terra, e sabe, de forma rigorosa, condensar a complexa vida em redor.
Viveu inúmeras misérias e desgraças.
Simultaneamente conhecedor e humilde, resistiu, cultivando forte personalidade.
Poderia ser mais um entre tantos outros injustiçados
É especialmente a visão da vida em epítome que o eleva à paridade com reconhecidos génios literários.
No seu legado, a simplicidade do homem confunde-se com as interrogações. Talvez devido aos inúmeros absurdos de amarguradas batalhas, umas vezes de forma algo merencória, outras emprestando mordacidade chistosa que tão bem o define.
Por vezes caricaturado, sempre ciente do quão abrangente é a caricatura.
O maior poeta popular, senão vejamos...
Aleixo tinha sido convidado para cerimónia de gala, mas como não tinha roupa apropriada para esse momento solene, foi-lhe emprestado por um amigo um bonito fraque de cerimónias, as respectivas calças e camisa, e os sapatos riscados de branco e preto.
Terminada a cerimónia de gala, António Aleixo foi devolver a roupa emprestada ao seu velho amigo, e de improviso saiu-lhe este desabafo em forma de quadra:
Ontem Rei, hoje sem trono,
Cá ando outra vez na rua;
Entreguei a roupa ao dono
E a miséria continua.
António Aleixo
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