Pouco resta da primeira rede estática projetada para transportar alguns bytes ou enviar pequenas mensagens entre dois terminais: a internet é hoje uma realidade indissociável do dia a dia, ao ponto de haver quem lhe aponte a capacidade da omnipresença.
A atribuição de tal caraterística a roçar o divino tem razão de ser já que, das compras à educação, das relações afetivas ao ativismo, ao teletrabalho, entretenimento e até à saúde, a rede das redes está em todo o lado.
“A internet é cada vez mais indissociável da nossa vida e das nossas relações, quer humanas quer profissionais”, notou Tiago Silva Lopes, em conversa com o SAPO TEK, a propósito do Dia da Internet. Para o Diretor de Serviços e Produtos MEO, a internet é cada vez mais omnipresente, uma tendência que vai marcar cada vez mais a forma como irá evoluir.
Fazendo um retrato geral, a população em todo o mundo ultrapassou, recentemente, a marca de 8 mil milhões de pessoas em que 64,4%, ou 5,16 mil milhões, usam a internet. Impressionante (ou já nem por isso) é o tempo, em média, que cada utilizador passa por dia na internet, que de acordo com o Digital 2023 Global Overview Report, ultrapassa as seis horas e meia. Portugal contribui para subir os números, com uma média diária de sete horas e 37 minutos, em 13º num ranking liderado pela África do Sul, onde os internautas passam mais de nove horas online. O telemóvel é o dispositivo de eleição.
As horas que passamos online, no entanto, não são diretamente comparáveis com o passado, porque “em 1990 e pouco, no começo”, as pessoas tinham de ligar-se através do computador e estar “quase exclusivamente dedicadas áquilo que estavam a fazer naquele momento”, lembra Tiago Silva Lopes. “Ficamos sempre chocados quando pensamos: ‘Sete horas por dia? Não passo sete horas por dia na internet!’, mas passamos porque temos sempre o telemóvel ao lado ou porque no trabalho passamos muito do nosso tempo a trocar emails, em vídeo calls ou a pesquisar informação”.
Entre a diversidade de coisas que fazemos “na” internet a mais recorrente é realmente procurar informação (57,8%), seguida de comunicar com a família e amigos (53,7%) e ficar a par das notícias e atualidade (50,9%).
Ver vídeos e filmes online também é um hábito cada vez maior (49,7%), e isso também se nota com vários estudos recentes que apontam os serviços de streaming como responsáveis por grande parte do consumo do tráfego atual e futuro da internet.
Em março desde ano, a Statista colocava o Netflix na liderança, com 14,9% do tráfego, seguido de perto pelo YouTube, com 11,4%. Entre os serviços e plataformas que mais trafego internet consumem estavam também representadas redes sociais, em primeiro o TikTok e em segundo o Facebook.
“De uma forma mais purista, o objetivo da internet era ligar as pessoas e as coisas umas às outras e é o que continua a acontecer e que tem evoluído de forma extraordinária”, considera Tiago Silva Lopes. O gestor destaca que há cada vez mais pessoas no mundo com acesso a um equipamento conectado, e não às tecnologias do passado, “da ligação analógica a 64kbps ou da ligação 3G”, mas através de fibra ótica ou 5G.
Para o Diretor de Serviços e Produtos MEO, houve dois marcos tecnológicos importantes na evolução do acesso à internet: o 4G do lado do acesso móvel e as redes de banda larga no fixo. Praticamente todos os grandes players de internet atuais, nos conteúdos, no ecommerce, surgiram quando estas tecnologias começaram a ser disponibilizadas no mercado
Mas estamos destinados a estar sempre ligados?
Com computadores, telemóveis, tablets e smartwatches - além de todos os equipamentos que a Internet das Coisas vai ligar -, com o sem número de aplicações disponíveis, em várias áreas, estamos destinados ao “always on”? Muito provavelmente.
O gestor acredita que há algumas tendências que vão mudar, de forma substancial, a forma como interagimos com a tecnologia, nomeadamente o tema do interface voz, que vai ser cada vez mais o interface por defeito, em vez do teclado físico no computador ou do teclado digital no telemóvel. De resto, também a parte da tecnologia imersiva, “a realidade aumentada, a realidade virtual”, vai contribuir para que o mundo real e o mundo digital se fundam cada vez mais.
Temos uma internet muito diferente daquela que começámos a utilizar, “não na sua missão, na lógica da descentralização do acesso à informação para todos”, diz Tiago Silva Lopes, mas na forma como interagimos com ela “que é cada vez menos uma coisa modular, um apêndice ao qual recorremos de vez em quando, através de um computador ou de outro interface especifico para tal, e é cada vez mais uma utilização seamless, cada vez mais integrada e fazendo parte da nossa vida”.
No entanto, falta alguma literacia digital para sabermos lidar com a enorme quantidade de estímulos que temos hoje, considera o gestor, defendendo que esta devia ser uma área de maior aposta e investimento em Portugal.
Lembrando que que a internet foi criada “para nos ajudar a sermos cada vez melhores enquanto sociedade e a tirarmos cada vez mais partido da informação que existe”, considera que isso só acontece com conhecimento para lidar com as questões da privacidade e da cibersegurança ou com as fake news.
“A internet trouxe-nos a democratização do acesso à informação e idealmente ao conhecimento, mas ainda não conseguimos passar da informação ao conhecimento”, acrescenta. “É um pouco como saber ler e escrever e hoje não sabemos ler nem escrever na era digital como deveríamos e não nos dão a formação adequada para”.
E porque devemos ver sempre as coisas pela positiva, diz Tiago Silva Lopes, é um facto que a internet veio para ficar e que tem perigos, “mas quanto mais conhecimento tivermos, quanto mais soubermos usar as ferramentas que temos à nossa disposição, melhor estaremos” para responder a esses desafios. “Temos matéria prima cada vez mais extraordinária. Saibamos nós moldá-la e utilizá-la da melhor maneira”.
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