Young Threats: Young Neo-Nazis Establish Cells in Europe and the U.S.
Dezenas de grupos compostos por jovens neo-nazis estão espalhados pela costa oeste dos Estados Unidos, pela Europa ocidental e por algumas regiões dos Estados bálticos, e estarão a preparar-se para levar a cabo ataques armados.
A revelação é feita por uma investigação conjunta do ‘Politico’, ‘Welt am Sonntag’ e ‘Insider’, publicada esta quarta-feira. O trabalho foi realizado ao longo de um ano e mergulhou fundo na rede terrorista de extrema-direita, através de fóruns online e da análise de mais de 98 mil mensagens trocadas entre os jovens neo-nazis, bem como vídeos e fotografias.
Os investigadores descobriram também que esses grupos partilhavam “listas de morte” e guias sobre como fabricar bombas caseiras e criar componentes de armas usando impressoras 3D. Foi também descoberto que esses grupos faziam ameaças de morte a políticos e jornalistas
Os grupos adotam nomes de guerra inspirados na propaganda disseminada pelo partido Nazi, da Alemanha governada pelo ditador Adolf Hitler. Um dos coletivos destacados pela investigação é o Feuerkrieg, ou “Guerra de Fogo”, em português.
Entre os membros, contam-se jovens adolescentes, alguns deles com apenas 16 anos, radicalizados pela exposição a materiais e propaganda que impele à realização de atos terroristas, incluindo homicídio.
Um desses jovens é Lukas F., agora com 17 anos, que se presume ter nascido na Bielorrússia, que vive em Potsdam, cidade na Alemanha. Uma das fotografias a que os investigadores tiveram acesso mostra Lukas num veículo de guerra, com um dos seus irmãos e com o pai, um cazaque de ascendência alemã.
O jovem frequentou uma escola secundária em Potsdam, onde não se destacava pela sua participação em atividades, mas voluntariou-se uma vez para servir de guia dos colegas numa exposição sobre movimento extremistas de extrema-direita.
Fontes a que os investigadores tiveram acesso contam que Lukas podia ser frequentemente encontrado em fóruns online dedicados a videojogos, em que ele e um grupo de outros jovens assediava gays e lésbicas.
Contudo, o ponto-chave da transformação de Lukas terá acontecido durante uma visita de estudo a um campo de concentração de Sachsenhausen. A visita tinha como objetivo mostrar aos alunos os horrores perpetrados durante o período do Holocausto, mas acabou por selar o destino de Lukas e fortalecer a sua inclinação para o extremismo de direita. Depois do passeio, Lukas terá chegado a casa e colocado uma suástica como a imagem de fundo do seu computador portátil.
De acordo com textos escritos pelo próprio Lukas, a investigação aponta que o jovem ter-se-á apercebido do ódio que sentia, pela primeira vez, quando tinha 14 ou 15 anos, assumindo-se como partidário do nacional-socialismo. Nessa altura, terá publicado num fórum online que o Holocausto foi uma “purga”.
Em alguma altura do seu percurso na extrema-direita, Lukas terá criado um perfil numa rede social russa, em que a sua imagem de perfil mostra o jovem vestido de camuflado e com o rosto coberto por uma máscara com o desenho de uma caveira. No topo da sua página surge a frase “Cobrir o mundo de sangue”. Lukas criou o seu próprio grupo, a que chamou de “Armas da Morte”.
O movimento neo-nazi nos EUA
Do outro lado do Atlântico, nos EUA, os investigadores destacam o papel de James Mason com uma das principais forças motrizes do movimento neo-nazi no país. Mason juntou-se a um grupo de extrema-direita com apenas 14 anos, e dois dias depois planeava o homicídio da sua professora, embora não tenha chegado a concretizá-lo.
No grupo a que Lukas pertence, o livro ‘Siege’ da autoria de Mason é considerado leitura obrigatória, tido por muitos nessas comunidades até mais importante do que ‘Mein Kampf’ de Hitler.
No seu livro, Mason apela a construção de uma sociedade engolida em guerra civil, em que assassinos individuais ou pequenas células cometem ataques contra infraestruturas, políticos e minorias sociais. Esse cenário, defende Mason, deverá abrir caminho a uma revolução da extrema-direita.
A ideais do extremista norte-americano ganharam uma grande massa de seguidores nos últimos anos, avança a investigação, com grupos, células e indivíduos espalhados pela Europa, Canadá e EUA.
O responsável pelo Departamento Alemão para a Proteção da Constituição, Thomas Haldenwang, explicou aos investigadores que a mensagem do ‘Siege’ tem vindo a ganhar fulgor na Alemanha. “Especialmente os jovens, alguns deles ainda menores, estão a tornar-se seguidores”, realça Haldenwang, acrescentando que “já não é incomum encontrar menores a defenderem a violência e até a planearem atos violentos”.
E a lista de ataques ligados a ideologia neo-nazi cresce a cada ano que passa, de que é exemplo o tiroteio no centro comercial Olympia, em Munique, em 2016, e o ataque a uma sinagoga e a uma loja de kebab em 2019, na cidade alemã de Halle. Nos grupos online, os atacantes são enaltecidos como heróis.
Em alguns fóruns online investigados, os adolescentes aderem às comunidades extremistas depois de jurarem fidelidade à ideologia neo-nazi e ao grupo a que pertencem, e são partilhadas mensagens a vangloriar atacantes que tenham levado a cabo agressões violentas em prol das ideias da extrema-direita.
Lukas F. terá chegado a dizer, em dezembro de 2020, que planeava um atentado contra a vida da então Chanceler alemã Angela Merkel, com recurso a uma bomba. Mas o ataque não se concretizou.
Um combate pejado de obstáculos: autoridades com dificuldades em encerrar redes neo-nazis online
A investigação salienta a dificuldade das autoridades em combater estes grupos neo-nazis, pois quando conseguem, por fim, encerrar um, outro surge no seu lugar. Os obstáculos prendem-se muito com o facto de as organizações não terem estruturas rígidas, mas antes formarem-se por ligações fluídas entre os seus membros e recorrerem a plataformas online que procuram mascarar os seus IPs, que permitiram determinar localizações e utilizadores.
A Europol refere que “nestas situações complexas temos que lidar com indivíduos, visto que um ou dois indivíduos a atuarem por conta própria podem representar uma ameaça real”.
O especialista em grupos de extrema-direita, Miro Dittrich, contou aos investigadores que demorou anos até que as autoridades policiais e de segurança começassem a considerar seriamente as atividades online desses grupos. E saliente que, ainda agora, não existem recursos humanos suficientes para fazer frente ao crescimento do fenómeno.
“Os jovens começam a ser radicalizados muito mais cedo”, afirmou o especialista, explicando que quando têm 14 ou 15 anos “já atingiram o fim da sua espiral de ódio”.
Em junho, Lukas F. acabou por ser detido pela polícia alemã e está hoje numa prisão algures na região de Märkisch-Oderland, aponta a investigação, com os serviços de segurança a classificá-lo como uma ameaça e como alguém que se preparava para realizar atos terroristas.
Nos últimos meses, um grupo de jovens foi formado em Brandeburgo, Alemanha, com o intuito de lutar pela libertação de Lukas F.
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