Serra de Montemuro |
A saúde e a doença são um setor crítico e avassaladoramente exposto aos impactos das Alterações Climáticas, ao qual só se dá atenção quando as ameaças já entraram na nossa casa, como aconteceu com a epidemia do coronavírus. Portugal, com um clima de tipo mediterrânico, é particularmente suscetível aos riscos para a saúde decorrentes das alterações climáticas, na medida em que estas interferem de múltiplas formas na nossa saúde e bem-estar físico e mental:
• dos alimentos que produzimos e consumimos;
• à qualidade do ar e da água;
• conforto térmico e adequação das casas às variações de temperatura cada vez mais extremadas;
• ao lixo que produzimos e que contamina o planeta e penetrou nas cadeias alimentares (os microplásticos);
• à destruição dos habitats naturais, num sistema que errada e sistematicamente os encara como recursos inesgotáveis e que contribui em larga escala para a perda de biodiversidade e para a aceleração das extinções, responsáveis pelo aumento da disseminação de doenças entre animais e humanos, como a do coronavírus;
• ao aumento das temperaturas que é responsável pela maior disseminação de doenças vetoriais em geografias cada vez mais alargadas e mais próximas de nós;
• ao aumento dos eventos extremos e consequentes movimentos humanos à procura de terra onde possam viver, que afetam cada vez mais a saúde mental e o bem-estar;
• dos efeitos do aumento dos desastres naturais, como incêndios, inundações e secas , pondo em evidência a responsabilidade que temos pelos papéis e relações que estabelecemos nos ecossistemas e suas consequências.
O perfil geográfico dominante dos concelhos rurais, envelhecidos e com baixa densidade populacional, onde se somam desvantagens demográficas como a continua redução da natalidade e o cada vez maior despovoamento do interior, a par de desvantagens económicas e sociais, o aumento das doenças crónicas e das desigualdades no acesso aos serviços e cuidados de saúde, constituem dos maiores problemas e desafios a que as políticas não podem ficar alheias e contribuem para explicar as vulnerabilidades crescentes e que exigem planeamento a médio/longo prazo que permita encontrar estratégias de mitigação e/ou adaptação viáveis e que não nos apanhem ‘desprevenidos’. A ciência está de acordo e é perentória! Os dados recolhidos no PIAAC , por exemplo, permitiram observar uma associação entre a temperatura e a mortalidade diária na Região de Coimbra. Esses dados apontam também para um aumento de morbilidade de determinadas doenças mais sensíveis ao clima, as relacionadas com a deterioração da qualidade do ar e poluição, como por exemplo as doenças infecciosas transmitidas por vetores, de que os mais conhecidos são os mosquitos, mas há outros como as carraças, as pulgas, etc…
Neste contexto é imperativo definir e operacionalizar medidas de adaptação da saúde que permitam reforçar e aumentar a resiliência das populações e ao mesmo tempo evitar o aumento das taxas de morbilidade e mortalidade geral e específicas. Num futuro muito próximo, a natureza e a escala destes impactos das alterações climáticas será diretamente proporcional à capacidade de adaptação das comunidades, dos sistemas de saúde, quer o nível de resposta instalada, quer a facilidade/dificuldade em ter acesso a essas respostas, bem como das ações implementadas nos outros setores.
A visão de que existe uma só saúde reforça a necessidade de reconhecimento da interconexão entre todos os elementos humanos e não humanos: dos humanos aos animais, às plantas e às redes de relações que implicam, nos diversos territórios onde coabitamos e onde partilhamos o desafio da vida e da morte de múltiplas formas. Esta visão de uma só saúde exigirá o desenvolvimento de políticas integradas adaptadas/adequadas aos contextos. Esta mudança sobejamente reconhecida pelas ciências, não tem tido a resposta desejada nem provocado as mudanças necessárias. Na verdade, é preciso reconhecer que esta é uma prorrogativa eminentemente política. Não é apenas individual e conjuntural. Este é o grande desafio!
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