Como "publisher" do Observador, José Manuel Fernandes é um dos responsáveis máximos por esse órgão de comunicação. Hoje, num dos seus espaços de opinião, ele fala sobre a indicação de Diogo Pacheco de Amorim pelo Chega para Vice-Presidente da Assembleia da República.
Esta indicação foi claramente uma provocação do Chega para fazer o jogo da vitimização e para diluir barreiras entre pessoas democratas e anti-democratas. Nenhum democrata que se preze pode votar a favor da pessoa indicada pelo Chega, um salazarista convicto e ex-dirigente de uma organização terrorista responsável por mortes e por vários ataques bombistas em Portugal. André Ventura sabe disso e usa isso a seu favor, tentando converter o salazarista do seu partido numa vítima da censura do actual regime.
É uma jogada verdadeiramente diabólica, mas, provavelmente, vai resultar.
Hoje, o que o "publisher" do Observador argumenta no seu espaço de opinião é que o problema não é o salazarista ex-dirigente da organização terrorista responsável por assassinatos em Portugal, mas sim a deputada de um dos partidos fundadores da democracia no nosso país, com um historial de décadas ao serviço das instituições democráticas portuguesas. José Manuel Fernandes grita "Sócrates", associa Edite Estrela ao ex-Primeiro-Ministro e pronto, está lavada a imagem do ex-dirigente terrorista do Chega, um partido que assume frontalmente que quer derrubar o regime (leia-se, o regime democrático).
A falsa equivalência é arrebatadoramente estúpida e maliciosa, mas é mesmo o argumento que um dos principais responsáveis pelo Observador ensaiou hoje, condenando Edite Estrela por associação e branqueando o histórico de alguém que defendeu activamente a ditadura de Salazar.
A defesa de fascistas no Observador não surpreende, mas é esclarecedora.
A ligação entre neo-liberais e fascistas é conhecida e está bem descrita na literatura, e este é mais um dos casos em que se verifica essa sinergia. Diogo Pacheco de Amorim defende um modelo de Estado mínimo em que a própria democracia pode ser entendida como um entrave à iniciativa privada. O espaço de opinião do Observador é frequentemente populado por sociopatas que partilham dessa perspectiva. Ver o "publisher" do Observador a sair em defesa do salazarista é apenas mais uma confirmação do que estas pessoas são e ao que elas vêm.
A imagem em pano de fundo, que recorda as ligações dos patrões do Observador aos Pandora Papers, serve de enquadramento para a coluna de opinião do seu "publisher". Como defensor da lei dos "mercados", o ex-dirigente da organização terrorista que agora milita no Chega está perfeitamente alinhado com os interesses dos responsáveis pelo Observador.
Diluir as barreiras entre defensores da democracia e opositores da democracia, criando falsas equivalências destinadas a fazer parecer que são ambas posições legítimas e aceitáveis, é apenas um dos serviços que estes "publishers" fazem aos seus patrões.
Preparem-se, pois teremos pela frente vários anos disto. Para que não se deixem enganar e para que todos saibam quem estas pessoas são e ao que elas vêm, fica aqui o registo.
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