No artigo de hoje no Expresso, Henrique Raposo compara Israel, um Estado, ao Hamas, um movimento político, armado e religioso. Ao fazê-lo, Henrique Raposo, que não é um ignorante, engana deliberadamente os seus leitores, contribuindo para desinformar e alimentar a radicalização. Contudo, existe um aspecto que torna Israel comparável ao Hamas: ambos praticam o terrorismo, ainda que em formatos diferentes. Sendo o israelita mais eficaz e mortífero.
Henrique Raposo afirma que Israel, um Estado belicista, protege os direitos das mulheres e dos gays, ao passo que o Hamas, um movimento extremista, não o faz. Poderia Henrique Raposo comparar a qualidade da democracia no Estado de Israel àquela praticada pela Autoridade Palestiniana na Cisjordânia? Ou, sei lá, os terroristas do Hamas aos terroristas de um dos muitos grupos extremistas judeus, como Yigal Amir, o homem que matou Yitzhak Rabin? Poder podia, mas isso não serviria os propósitos ideológicos subjacentes ao texto de Henrique Raposo.
Mais: caso decidisse ser intelectualmente honesto, algo que não foi claramente a sua intenção, Henrique Raposo teria que abordar as constantes violações do plano de partilha do território, a questão dos colonatos ilegais na Cisjordânia, toda história do êxodo que começou em 1948, que levou a que mais de 700 mil palestinianos perdessem as suas casas e todas as suas posses às mãos do autoritarismo sionista, para não falar na violência do apartheid em que Israel se transformou. To name a few. Mas era chato e lá se ia a narrativa.
Mas sim, Raposo tem razão neste aspecto: não existe equivalência moral possível. Não existe equivalência moral possível entre um Estado criado de raiz de forma administrativa, à força e segundo a lei do mais forte, com o drama de um povo, que sempre habitou aquelas terras, e que foi expulso de suas casas, remetido para guetos, e vem sendo massacrado desde então, abrindo caminho à ascensão de forças terroristas como o Hamas. Não existe equivalência moral possível. A única equivalência possível é imoral e é entre sucessivos governos sionistas, não raras vezes de extrema-direita, como o actual, e aquilo que de pior se produziu em termos de barbárie fascista na Europa e não só.
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