Nos últimos anos, a superfície de floresta da União Europeia ampliou-se significativamente, passando de um total de 161 milhões para cerca de 182 milhões de hectares de floresta, qualquer coisa como 43 por cento do território da UE. A Suécia é o grande pulmão da Europa, com uma área de floresta de 30,5 milhões de hectares, seguida pela Espanha, que na última década apostou forte na reflorestação, com 27,6 milhões de hectares. A Finlândia tem a terceira maior área de floresta, com 23 milhões de hectares, ocupando 12,7 por cento da floresta europeia. Portugal tem cerca de 3,2 milhões de hectares de floresta, que corresponde a 35,4 por cento do território nacional. Neste pormenor não se afasta muito da média europeia (37,6%). A área de floresta ainda domina a ocupação de solo de Portugal continental. Outra grande fatia (32%) é ocupada por matos e pastagens. Só depois surgem os terrenos agrícolas, que representam 24 por cento do uso do solo nacional, sendo apenas de cinco por cento a área urbana, ainda dois por cento das chamadas águas interiores e outro tanto de terrenos improdutivos. O eucalipto continua a ser a espécie dominante, ocupando 26 por cento das florestas nacionais. O sobreiro e o pinheiro-bravo representam equitativamente 46 por cento da mancha florestal portuguesa. A azinheira tem uma mancha florestal de 11 por cento e o pinheiro manso de seis por cento. O carvalho representa dois por cento da área de floresta nacional e o castanheiro apenas um ponto percentual. Ocupam ainda as florestas portuguesas outras espécies resinosas (2%) e outras espécies folhosas (6%).
Na UE, a área florestal mantém-se ainda superior, embora ligeiramente, à que ocupa a atividade agrícola, que preenche 41 por cento do território europeu. Só em dois países da UE a área florestal representa mais de três quartos do seu território: sem surpresa, a Suécia e a Finlândia. Com exceção da Escandinávia, a Eslovénia é o país com maior área florestal no seu território: 63 por cento. A Grécia, outro dos países da UE muito fustigado pelos incêndios florestais, mantém ainda 50 por cento do seu território com área florestal.
Na questão da propriedade florestal, mais de metade da área de floresta da UE é de posse privada (60,3%), sendo a parcela restante de floresta pública. Muito, mesmo muito, acima da média europeia de propriedade florestal privada destaca-se entre os 28 Estados-membros o caso português, que em números absolutos não tem rival: de acordo com os dados mais recentes das florestas europeias, do Eurostat, 97 por cento da área de floresta portuguesa é privada. Os registos portugueses só encontram paralelo remoto na Dinamarca, em que os privados têm a posse de 76,3 por cento da área total de floresta, com a Suécia muito próximo (75,7%), a França na peugada (75%), o Reino Unido (71,6%), a Itália (66,4%) ou, como exemplo mais distante, a Alemanha (48%). Em área de floresta pública, apenas dois países da UE servem de contraste. A Polónia, em que a área florestal privada é de 20 por cento do território de floresta. E a Bulgária, em que os privados apenas detêm 12,1 por cento da área total.
O ano trágico de 2017 deixou Portugal absolutamente isolado no lado negro dos incêndios. Não há estatística (ou razão) que explique as vítimas mortais, os feridos graves, o luto das famílias, vidas, habitações próprias e empresas reduzidas a nada. Tristemente, Portugal consolidou a sua posição nas labaredas da Europa, embora os números de área ardida, assim como as causas, teimem em não consolidar volvidos quase dois anos. Por mera comparação territorial, já que em grandeza florestal — (conforme os números anteriores) — não são possíveis as comparações, Espanha, que em 2017 foi igualmente afetada por grandes incêndios nas suas florestas, registou uma área ardida de 178.234 hectares, em consequência de incêndios rurais. Em Itália, os fogos rurais consumiram 137.103 hectares de floresta. A Croácia perdeu para o fogo 48.543 hectares de floresta. França que, recorde-se, possui a quarta maior área florestal da UE, perdeu 26.378 hectares de floresta. Números incomparavelmente menores, aos ‘melhores’ anos das últimas décadas em Portugal. Nesse ano (2017) Portugal, como se tornou habitual em matéria de incêndios no seu território continental, contrariando todas as lógicas de proporcionalidade, pulverizou as estatísticas: 540.630 hectares de um imenso absurdo de cinzas e de lágrimas, ambas inquantificáveis.
Em 2018 foi como se depois da tempestade se verificasse o velho adágio da bonança, sempre relativo quando o assunto é fogo. De qualquer maneira, o ano passado registou os valores mais baixos da última década em matéria de incêndios florestais e área ardida. Ainda assim, esteve muito perto dos 40 mil hectares ardidos, longe de uma bonança (ou de uma política) efetiva.
O primeiro trimestre de 2019, porém, consiste já num enorme alerta amarelo. Segundo os dados do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, até ao final do mês passado (março) a área ardida já ascende a 3764 hectares, totalizando 2173 incêndios rurais, mais 408 do que no primeiro trimestre do ano passado. Muito longe, apesar de tudo, do primeiro trimestre de 2012, que foi o pior da década. Só nos primeiros três meses de 2012 já tinham ardido perto de 28.500 hectares de floresta, em consequência de 8626 incêndios rurais. As alterações climáticas e a ocorrência mais frequente de invernos secos propiciam, como se verificou precisamente em 2012 ou em 2009, um número “anómalo” de fogos florestais durante o inverno. Fora de época, digamos assim. Portanto, quase involuntariamente traduzimos a verdadeira dimensão de um problema tão recorrente que já se instalou no léxico coletivo como se fosse uma estação balnear.
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