Recentemente, descobri um interessante resumo dos discursos vigentes na área ambiental em um excelente artigo da pesquisadora norte-americana Tema Milstein, publicado na revista ‘Environmental Communication’, sobre o papel dos zoológicos como agentes sistêmicos de transformação cultural e ambiental. Partindo do princípio de que a prática discursiva abriga conteúdos ideológicos que podem revelar relações de poder e subordinação – e, ao mesmo tempo, pressupõe o surgimento de discursos opostos –, ela estabelece três formas de dialética entre os discursos dominantes na área ambiental.
A primeira seria a dialética entre Domínio-Harmonia: o tradicional discurso do progresso com base no indispensável domínio sobre e transformação da natureza para atender às necessidades da sociedade industrial gera seu oposto – a argumentação de que há uma forma de viver em harmonia com o todo. Ao contrário do que se possa pensar, essa última forma de pensar não é recente e foi manifestada na obra de filósofos e pensadores durante o surgimento e a consolidação da revolução industrial.
Outra dialética seria a da “Outrização” (sim, essa é a esquisita tradução para Othering) em contraposição à Conexão. O discurso da Outrização estabelece a predominância e a separação de alguns seres humanos com relação à natureza e a outros seres humanos, o que ajuda a justificar as práticas abusivas de exploração econômica e social. Em contraposição, temos o conceito Conexão como interconectividade universal, a relação de interdependência que impera na natureza e que compreende o homem apenas como mais uma espécie.
A terceira seria a dialética da Exploração-Idealismo. O discurso da Exploração vê a natureza como uma fonte de recursos que devem ser apropriados e manipulados para gerar desenvolvimento econômico. Como seu contrário, temos o discurso do Idealismo, que prega o respeito e a preservação da natureza e a necessidade de reverter os danos causados ao meio ambiente.
Como a pesquisadora assinala, os três discursos dominantes no mundo ocidental são, naturalmente, os de Domínio-Outrização-Exploração, especialmente porque embasam práticas que são a base de toda a estrutura social e econômica. A trindade discursiva oposta, por outro lado, vem crescendo nas últimas décadas, a partir do momento em que o alcance da intervenção humana no ecossistema provocou as consequências já conhecidas. Entretanto, ainda representa mais um discurso teórico do que uma prática cotidiana.
Análises como essas são importantes porque ajudam a mostrar o quanto as ideologias de poder e dominação ainda permeiam a comunicação relacionada ao meio ambiente. Iniciativas que se acreditam bem-intencionadas e conscientizadoras também contribuem para estabelecer relações de domínio e de discriminação, por exemplo, quando não incluem a participação do público-alvo e o conhecimento da realidade local. Somente com o diálogo será possível chegar a uma síntese adequada dessas dialéticas.
Fonte: Nós da Comunicação
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