No exato momento em que o discurso oficial exige "moderação salarial" aos trabalhadores, em que a inflação esmaga o poder de compra e em que se negoceia um pacote laboral desenhado para "flexibilizar" (leia-se precarizar) ainda mais a vida de quem produz a riqueza, o Governo decide celebrar os seus verdadeiros parceiros.
E como o faz? Com um brinde simbólico, a entrega de um palácio.
Não é um escritório vago num bairro periférico. É o Palácio da Horta Seca, um símbolo de luxo e poder na artéria mais cara de Lisboa, um edifício histórico que o povo português pagou para restaurar.
Isto é mais do que um favor, é uma declaração de vassalagem. É o Estado, que devia ser o garante do bem comum, a curvar-se e a premiar a confederação patronal que, por definição, representa os interesses dos grandes grupos económicos, os mesmos que exigem menos direitos, menos salários e menos impostos.
É um ato de profundo desdém. É olhar nos olhos dos trabalhadores em greve, dos jovens precários, dos reformados com pensões miseráveis, e dizer-lhes, sem pudor: "Para vocês, sacrifícios e contas certas. Para eles, o luxo dos palácios que vocês pagaram."
Não se trata de uma simples cedência de instalações. Trata-se da materialização da captura do poder político pelo poder económico. É a transformação do património de todos na gorjeta luxuosa para o topo da pirâmide. É um escárnio que transforma a concertação social numa farsa, onde um dos lados negoceia no conforto de um palácio e o outro na incerteza do fim do mês.


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