domingo, 16 de novembro de 2025

Dia Mundial dos Pobres — e dos culpados

"Hoje celebra-se o dia mundial dos pobres.
Curioso: nunca celebramos o dia mundial
dos que produzem pobreza.
Erguem-se palcos, discursos, fotografias.
Fala-se de “apoio”, “solidariedade”, “valores”.
Mas ninguém pronuncia os nomes
dos que lucram com a miséria,
dos que apertam orçamentos
para que sobrem dividendos,
dos que tratam gente colada ao chão.

A pobreza não cai do céu —
é fabricada.
Tem autores, assinaturas, logótipos,
programas eleitorais,
conivências silenciosas.

E corporações que, ano após ano,
garantem que os mesmos continuem pobres
e os bilionários continuem a decidir.

Hoje, os poderosos dirão
que “ninguém fica para trás”.
Mentira: alguém fica para trás
porque alguém está sempre a empurrar.

É mais fácil decorar a palavra “equidade”
do que taxar fortunas;
mais fácil erguer campanhas
do que erguer salários;
mais fácil proclamar "caridade"
do que enfrentar interesses.

Pobreza não é tragédia humana —
é estratégia populista e ódio aos pobres
É o resultado frio
de permitir que o lucro vença o direito,
que o mercado vença a vida,
que a indiferença vença a vergonha.

Um dia mundial não chega.
O que falta é romper o silêncio cúmplice
e enfrentar e denunciar todos os dias
os que fazem da pobreza
uma máquina de produção contínua,
uma estratégia calculada,
um rendimento garantido.

Se é para lembrar os pobres,
então que nos lembrem também dos culpados.
E que se lhes retire — finalmente —
o privilégio de continuar a produzi-los."

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