quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Poema da Semana - Mario Benedetti



Mario Benedetti
"Entre sempre e jamais
o rumo o mundo oscilam
e já que amor e ódio
nos voltam categóricos
ponhamos etiquetas
de rotina e comparação
-jamais voltarei a te ver
-unidos para sempre
-não morrerão jamais
-sempre e quando me admitam
-jamais do jamais
-(e até a fé dialética
de) por sempre jamais
-etcétera etcétera
de acordo
no entanto
que alguém sempre abre um futuro
e alguém jamais se faz um abismo
meu sempre pode ser
jamais de outros tantos
sempre é um planalto
com borda com final
jamais é uma escura
caverna de impossíveis
e no entanto às vezes
nos ajuda um indício
que cada sempre leva
seu osso de jamais
que os jamais têm
arroubos de sempres
assim
incansavelmente
insubornavelmente
entre sempre e jamais
flui a vida insone
passam os grandes olhos
abertos da vida."

Greta Thunberg e o insano mundo dos normais

Em diálogo com Eric Fromm, novo documentário aborda, além do aquecimento global, questão psíquico-política. Terá uma garota com Asperger enxergado o que não queremos ver? Que alienações nos fazem girar a máquina da loucura?


Por Jonathan Cook, no CounterPunch | Tradução de Simone Paz

Erich Fromm, renomado psicólogo social judeu-alemão que foi forçado a sair de sua terra natal no início dos anos 1930, com a chegada dos nazistas ao poder, trouxe anos depois uma visão perturbadora sobre a relação entre a sociedade e os indivíduos.

Em meados da década de 1950, seu livro The Sane Society (“A sociedade sã”) sugeria que a insanidade não se referia simplesmente ao fracasso de indivíduos específicos em sua adaptação à sociedade em que viviam. Mas que, em vez disso, a própria sociedade poderia se tornar tão patológica, tão desligada de um modo de vida normal, que induziria a uma alienação profunda e a uma forma de insanidade coletiva entre seus membros. Nas sociedades ocidentais modernas, onde a automação e o consumo em massa prevalecem sobre as necessidades humanas básicas, a insanidade pode não ser uma aberração, mas a norma.

Fromm escreveu:

“O fato de milhões de pessoas dividirem os mesmos vícios não torna esses vícios virtudes; o fato de compartilharem os mesmos erros não os transforma em verdades; e o fato de milhões de pessoas terem em comum as mesmas patologias mentais, não as converte em pessoas sãs.”

Definição desafiadora

Esta ideia ainda é muito desafiadora para qualquer pessoa que tenha sempre ouvido que a sanidade é definida por consenso, que abrange tudo o que o mainstream prefere, enquanto que a insanidade se aplica apenas àqueles que vivem fora desses padrões e normas. Esta é uma definição que nos diagnostica (assim como a imensa maioria), atualmente, como loucos.

Quando Fromm escreveu seu livro, a Europa estava emergindo das ruínas da Segunda Guerra Mundial. Era um momento de reconstrução, não só física e financeiramente, mas legal e emocionalmente. Instituições internacionais como as Nações Unidas tinham acabado de ser formadas para defender o direito internacional, frear a ganância e a agressividade nacionais, e assumir um novo compromisso com os direitos humanos universais.

Eram tempos de esperança e expectativas. Uma maior industrialização, estimulada pelos esforços da guerra e pela extração intensificada de combustíveis fósseis, significava que as economias começavam a crescer; nascia uma visão do Estado de Bem-estar. Uma classe tecnocrática, promovendo uma social-democracia mais generosa, passava a substituir a velha classe oligárquica.

Foi nessa conjuntura histórica que Fromm decidiu escrever um livro, onde dizia ao mundo ocidental que a maioria de nós éramos loucos.

Graus de insanidade

Se isso já era evidente para Fromm em 1955, hoje, para nós, deveria ser muito mais — à medida em que autocratas bufões avançam no cenário mundial como personagens de um filme dos irmãos Marx; em que o direito internacional está sendo intencionalmente desmontado para restaurar a autoridade das nações ocidentais de invadir e saquear; e em que o mundo físico demonstra, por meio de eventos climáticos extremos, que a ciência da mudança climática (há muito ignorada) e muitas outras destruições do mundo natural causadas pelo homem não podem mais ser negadas.

No entanto, nosso compromisso com nossa insanidade parece tão forte como sempre — talvez, até mais forte. Igualando-se ao capitão do Titanic, o irreconciliável escritor liberal britânico, Sunny Hundal, deu voz memorável a essa loucura alguns anos atrás, quando escreveu em defesa do status quo catastrófico:

“Se você quiser substituir o atual sistema capitalista por outra coisa, quem vai fazer seus jeans, iPhones e cuidar do Twitter?”

À medida em que os ponteiros do relógio avançam, o objetivo urgente de cada um de nós é obter uma visão profunda e permanente de nossa própria insanidade. Não interessa se nossos vizinhos, familiares e amigos pensam como nós. O sistema ideológico em que nascemos, que nos alimentou com nossos valores e crenças com a mesma certeza que nossas mães nos alimentaram com leite, é insano. E como não podemos sair dessa bolha ideológica — porque nossas vidas dependem de nos submetermos a essa infraestrutura de insanidade — nossa loucura persiste, mesmo que nos consideremos sãos.

Nosso mundo não é um mundo do são versus a insanidade, mas do menos insano contra o mais insano.

Retrato íntimo

É por essa razão que recomendo o novo documentário I Am Greta, um retrato muito íntimo de uma ativista ambiental mirim, a sueca Greta Thunberg.

Primeiro, é preciso frisar que I Am Greta não trata da emergência climática. Isso não passa de um ruído de fundo, enquanto o filme traça a jornada pessoal iniciada por essa garota de 15 anos com síndrome de Asperger, ao encenar um protesto solitário semanal do lado de fora do Parlamento sueco. Retraída e deprimida pelas implicações da pesquisa compulsiva que fez sobre o meio ambiente, ela rapidamente se viu lançada ao centro das atenções globais por suas afirmações simples e sinceras sobre o óbvio.

A estudante rejeitada e tida como louca pelos seus colegas de classe, de repente, descobre que o mundo é atraído pelas mesmas qualidades que antes a tornavam esquisita: sua quietude, seu foco, sua recusa em errar ou em ser impressionada.

As cenas de seu pai tentando desesperadamente fazê-la cumprir uma pausa e comer alguma coisa, mesmo que apenas uma banana, enquanto ela entra em mais uma marcha climática, ou de ela se enrolando feito uma bolinha em sua cama, precisando ficar em silêncio, após uma discussão com seu pai ao longo do tempo em que elaborava outro discurso para governantes mundiais, pode acalmar aqueles que têm certeza de que Greta é simplesmente uma menina ingênua sobre as indústrias de combustíveis fósseis — ou, mais provavelmente, não.

Mas os debates infrutíferos sobre se Thunberg está sendo ou não utilizada são irrelevantes para este filme. Não é nesse ponto que reside sua força.

Através dos olhos de Greta

Durante 90 minutos, vivemos no lugar de Greta Thunberg, vemos o mundo através de seus olhos estranhos. Ao longo de 90 minutos, temos permissão para viver dentro da cabeça de alguém tão são que podemos compreender brevemente — se estivermos abertos para o seu mundo — o quão louco cada um de nós realmente é. Nós nos vemos de fora, através da visão de alguém cujo Asperger permitiu que ela “enxergasse através da estática”, como ela generosamente chama nossos delírios. Ela é o pequeno e silencioso centro da mais simples consciência, ilhada em um mar de insanidade.

Assistindo Thunberg vagar sozinha — nunca impressionada, mas muitas vezes horrorizada — pelos castelos e palácios dos governantes mundiais, pelos fóruns econômicos da elite tecnocrática global, pelas ruas onde ela é aclamada, a variada natureza de nossa insanidade coletiva aparece cada vez mais nitidamente em foco.

Quatro formas de insanidade que o mundo adulto adota em resposta a Thunberg, a criança sábia, estão à mostra. Em suas várias formas, essa insanidade deriva de um medo ainda inexplorado.

A primeira delas — e mais previsível — é exemplificada pela direita, que  a insulta raivosamente, por colocar em risco o sistema ideológico do capitalismo que eles reverenciam como sua nova religião em um mundo sem Deus. Ela é uma apóstata, que provoca suas maldições e insultos.

O segundo grupo é formado por governantes mundiais liberais e pela classe tecnocrática que dirige nossas instituições globais. Seu trabalho, pelo qual são tão ricamente recompensados, é elogiar da boca para fora, inteiramente de má-fé, as causas que Thunberg defende de verdade. Eles deveriam estar administrando o planeta para as gerações futuras e, portanto, investem fortemente em recrutá-la para o seu lado, não apenas para dissipar a energia que ela mobiliza, que temem que possa rapidamente se voltar contra eles.

Uma das primeiras cenas do filme é o encontro de Thunberg com o presidente francês Emmanuel Macron, logo depois que ela começou a aparecer nas manchetes.

De antemão, o conselheiro de Macron tenta bombear Thunberg para obter informações sobre outros líderes mundiais que ela possa ter conhecido. Fica evidente sua inquietação diante da resposta de Greta de que aquele é o primeiro convite que recebeu desse tipo. Como a própria Thunberg parece muito consciente quando eles finalmente se encontram, Macron está lá simplesmente para a sessão de fotos. Tentando ter uma conversa fútil com alguém incapaz de tais irrelevâncias, Macron não pode deixar de erguer uma sobrancelha em desconforto e, possivelmente, uma leve reprovação, já que Thunberg admite que os relatos da mídia sobre ela viajar de trem para todos os lugares estão certos.

Cinicamente insanos

O terceiro grupo é o dos adultos que se aglomeram nas ruas para uma selfie com Thunberg, ou gritam elogios, carregando-a sobre seus ombros como um fardo pesado — que ela se recusa a aceitar. Cada vez que alguém em uma marcha diz que ela é especial, corajosa ou uma heroína, ela imediatamente retruca dizendo que eles também são corajosos. Não é sua responsabilidade reparar o clima para o resto de nós, e pensar o contrário é uma forma de infantilismo.

O quarto grupo está totalmente ausente do filme, mas não das respostas ao mesmo, nem a ela. São os “cinicamente insanos”, aqueles que querem atribuir a Thunberg um fardo de um tipo diferente. Cientes da maneira como temos sido manipulados por nossos políticos e mídia, e pelas corporações que agora controlam a ambos, eles estão comprometidos com um tipo diferente de religião — que não pode ver nada de bom em lugar nenhum. Tudo está poluído e sujo. Como eles perderam sua própria inocência, toda inocência deve ser assassinada.

Esta é uma forma de insanidade não diferente dos outros grupos. Ela nega que tudo possa ser bom. Ela se recusa a ouvir qualquer coisa e qualquer pessoa. Ela nega que a sanidade seja possível. É sua própria forma de autismo — trancada em um mundo pessoal do qual não há como escapar — que, paradoxalmente, a própria Thunberg conseguiu superar por meio de sua profunda conexão com o mundo natural.

Enquanto pudermos classificar Greta Thunberg como uma pessoa que sofre de Asperger, não precisamos parar para pensar se somos realmente os loucos.

A explosão das bolhas

Há muito tempo, os economistas nos alertaram sobre as bolhas financeiras: uma expressão da insanidade dos investidores quando buscam o lucro sem levar em conta as forças do mundo real. Esses investidores são finalmente forçados a enfrentar a realidade — e a dor que ela traz — quando a bolha estoura. Como sempre acontece.

Vivemos uma bolha ideológica — que irá estourar, assim como aconteceu com a financeira. Thunberg é aquela voz da sanidade, mansa e delicada, de fora da bolha. Podemos ouvi-la, sem medo, sem censura, sem adulação, sem cinismo. Ou podemos continuar com nossos jogos insanos até a bolha explodir.

10 myths about net zero targets and carbon offsetting, busted

Carbon neutrality targets are often not as ambitious as they sound, relying on problematic carbon offsets and unproven technologies.



The idea of carbon offsetting, which underpins so-called net zero targets, is founded on a number of myths.

In many cases, offsetting relies on capturing carbon in vegetation and soils. Such capacity is however limited and is needed to store carbon dioxide that we have already emitted.

Assumptions of future technologies and targets decades ahead delay immediate action. Countries and corporations must shift focus from distant net zero targets to real emissions reductions now.

The impacts of the climate crisis are becoming increasingly severe, everywhere. We are experiencing heat waves, floods, droughts, forest fires and sea level rise as a result of global heating. The average global temperature is rising at an unprecedented rate, rapidly diminishing the prospect of keeping global warming below 1.5C and with increasing risks of crossing irreversible tipping points.

In the face of growing demands for action, many countries and companies are making promises and setting targets to reach “net zero” emissions or “carbon neutrality”. These often sound ambitious and may even give the impression that the world is awakening and ready to take on the climate crisis.


In practice, however, net zero targets several decades into the future shift our focus away from the immediate and unprecedented emissions reductions needed. Net zero targets are generally premised on the assumption that fossil fuel emissions can be compensated for by carbon offsetting and unproven future technologies for removing carbon dioxide from the atmosphere. But offsetting does not cancel out our emissions – yet action to do so is immediately needed.

There are a number of myths about net zero targets and carbon offsetting that must be dispelled. By revealing them, we aim to empower people, so that they can pressure governments and companies to create real solutions, here and now:

Myth 1: Net zero by 2050 is sufficient to solve the climate crisis. Misleading.

Major and unprecedented reductions in emissions are needed now. Otherwise, our current high emissions will consume the small remaining global carbon budget within just a few years. Net zero targets typically assume that it will be possible to deliver vast amounts of “negative emissions”, meaning removal of carbon dioxide from the atmosphere through storage in vegetation, soils and rocks. However, deployment of the technologies needed for negative emissions at the required scale remains unproven, and should not replace real emissions reductions today.

Myth 2: We can compensate for fossil fuel emissions using so-called “nature-based solutions” (such as carbon sequestration in vegetation and soils). Misleading.

Fossil fuels are part of the slow carbon cycle . Nature-based solutions are part of the fast, biological carbon cycle, meaning that carbon storage is not permanent. For example, carbon stored in trees can be released again by forest fires. Fossil emissions happen today, while their uptake in trees and soils takes much longer. The overall capacity of nature-based solutions is also limited, and is anyway needed to help remove the carbon dioxide that we have already released into the atmosphere.

Myth 3: Net zero targets as well as carbon offsetting increase the incentives to reduce emissions because emissions are allocated a cost. Misleading.

The incentive decreases as long as it is financially more advantageous and socially acceptable to buy low-cost carbon offsets from abroad than it is to reduce emissions at home. Promises of future negative emissions also reduce the incentive to cut carbon emissions now, as their costs in decades to come are heavily discounted.

Myth 4: Carbon offsetting in low-income countries must increase to meet the Paris agreement. Misleading.

Low-income countries have also established climate targets in connection with the Paris Agreement. They will need all the emissions reductions that can be achieved in their own country to deliver on their own climate targets. There is no remaining carbon budget for wealthy high-emitting nations to pass the burden for cutting their emissions on to low-income nations.

Myth 5: Funding renewable energy projects is a good way to compensate for fossil fuel emissions. Problematic.

Expansion of renewable energy in growing economies is crucial, but often only adds to, rather than replaces the fossil fuels in the energy mix. Because renewable energy is now often cheaper than fossil energy, these investments would likely have happened anyway, and should therefore not be counted as offsets. Actors in high-income countries should rather finance renewable energy expansion as a form of climate investment (as opposed to offsetting).

Myth 6: Technological solutions for carbon dioxide removal will solve the problem. Overly optimistic.

Technologies are being developed but they are expensive, energy intensive, risky, and their deployment at scale is unproven. It is irresponsible to base net zero targets on the assumption that uncertain future technologies will compensate for present day emissions.

Myth 7: Tree plantations capture more carbon than leaving old forests undisturbed. Misleading.

Old forests can contain centuries worth of carbon, captured in trees and soils, and can continue to capture carbon for hundreds of years. It is better to cut fewer trees, so that the carbon already stored is not released. The carbon released by felled trees can take a hundred years or more to be recaptured by new trees. We do not have that time.

Myth 8: Planting trees in the tropics is a cost-effective win-win solution for both nature and local communities. Oversimplified.

There are trade-offs between managing forests for cost-efficient carbon capture and for meeting the needs of nature and local communities. Planting trees with carbon capture as the main goal threatens the rights, cultures, and food security of Indigenous Peoples and local communities. These risks, as well as threats to biodiversity, increase as such projects multiply.

Myth 9: Each ton of carbon dioxide is the same and can be treated interchangeably. False.

Carbon dioxide removal tomorrow cannot compensate for emissions today. Emissions from luxury consumption should not be considered equal to emissions from essential food production. Storage of carbon in plants and soils cannot compensate for emissions of fossil carbon (see fact box).

Myth 10: Products and travel can be “climate neutral” or even “climate positive”. False.

Products and travel that are sold as “climate neutral” or “climate positive” due to offsetting, do still have a carbon footprint. Such marketing is misleading and may even lead to more emissions as the offsetting incentivises increased consumption. We contribute more to climate solutions by consuming and travelling less.

Climate change poses existential threats to people, nations, children and to vulnerable groups all over the world. Unprecedented, rapid and sustained emissions reductions, starting here and now, are essential for tackling the climate crisis and living up to the commitments in the Paris Agreement:
We must shift focus from mid-century net-zero targets to immediate, real emissions reductions in our own high-income countries. Reductions of at least 10% per year are needed. This massive transformation of our societies is our only way to fulfil the Paris agreement without relying on risky and unproven, large-scale deployment of negative emission technologies.
We in high-income countries, in addition to maximizing emissions reductions at home, must hugely increase climate finance contributions to low-income countries. The countries that are least responsible yet most vulnerable to the climate crisis must be supported in their efforts to adapt and transform to zero carbon societies, as part of the climate debt they are owed.
We must reject offsetting between high- and low-income countries and replace it with climate financing based on scientific evidence, a limited carbon budget and global climate justice.
We must define separate targets for negative emissions and emissions reductions. It is essential that socially and environmentally appropriate negative emissions are undertaken as climate investments or climate financing, not as carbon offsets.
We must stop marketing products as being “climate neutral” or “climate positive”.
We must stop extracting and using fossil fuels, the primary cause of the climate crisis. As well as real-zero targets, we need an international treaty for the termination of fossil fuel production.

Authors

Alasdair Skelton, Professor of Geochemistry & Petrology, Stockholm University

Alice Larkin, Professor of Climate Science & Energy Policy, Tyndall Centre, University of Manchester

Andrew Ringsmuth, Researcher in Complex Systems & Sustainability, Complexity Science Hub Vienna

Caroline Greiser, Researcher in Ecology, Stockholm University

David Fopp, Senior Lecturer, Youth Studies, Stockholm University

Duncan McLaren, Professor of Cultural Political Ecology, Lancaster University

Doreen Stabinsky, Professor of Global Environmental Politics, College of the Atlantic,

Erik Huss, Geographer & Glaciologist, CEO Husstainability

Flora Hajdu, Associate Professor of Rural Development, Swedish University of Agricultural Sciences

Greg Marsden, Professor of Transport Governance, University of Leeds.

Hanne Svarstad, Professor of Development Studies, Oslo Metropolitan University

Henrik Lagerlund, Professor of Theoretical Philosophy, Stockholm University

Isak Stoddard, PhD student in Natural Resources & Sustainable Development, Uppsala University

James Dyke, Assistant Director, Global Systems Institute, University of Exeter

Jens Friis Lund, Professor of Political Ecology, University of Copenhagen 

Jillian Anable, Professor of Transport & Energy, University of Leeds

Joanna Haigh, Emeritus Professor of Atmospheric Physics, Imperial College London

Judith Nora Hardt, Postdoctoral Researcher in Climate Change & Security, Franco-German Centre for Social Science Research, Berlin

Julia Steinberger, Professor of Social Ecology & Ecological Economics, University of Lausanne

Kate Dooley, Research Fellow, Climate & Energy College, University of Melbourne

Kathleen McAfee, Professor of International Relations, San Francisco State University

Kevin Anderson, Professor of Energy & Climate Change, Uppsala University and the University of Manchester 

Klara Fischer, Associate Professor of Rural Development, Swedish University of Agricultural Sciences

Linda Engström, Researcher in Rural Development & Policy, Swedish University of Agricultural Sciences

Magnuz Engardt, Reader in Meteorology, Researchers Desk

Maria Johansson, PhD in Fire Ecology, Researchers Desk

Maria Wolrath Söderberg, Researcher in Rhetoric & Climate Communication, Södertörn University

Mats Björk, Professor of Marine Plant Physiology, Stockholm University

Niclas Hällström, Environment and Development Studies, WhatNext? 

Nils Markusson, Senior Lecturer in the Politics of Environmental Technology, Lancaster University

Paul Glantz, Associate Professor of Atmospheric Science, Stockholm University

Peter Newell, Professor of International Relations, University of Sussex

Richard D. Pancost, Professor of Biogeochemistry, University of Bristol

Sarah Milne, Senior Lecturer in Environment and Development, Australian National University

Stephen Woroniecki, Researcher of Sustainability Science, Linköping University

Stig-Olof Holm, Senior Lecturer in Ecology, Umeå University

Stuart Capstick, Deputy Director, Centre for Climate Change and Social Transformations, Cardiff University

Svetlana Gross, PhD student in Business Administration, Stockholm School of Economics

Sören Andersson, Sustainability Advisor, thefuture 

Tor A. Benjaminsen, Professor of International Environment and Development Studies, Norwegian University of Life Sciences

Wim Carton, Assistant Professor of Sustainability Science, Lund University

The article was initiated by members of www.ResearchersDesk.se and is available in Swedish at Dagens Nyheter where it was first published.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Petição: Em defesa do Jardim de Sophia e de 503 sobreiros

Para: Agência Portuguesa do Ambiente, Metro do Porto, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, Direção-Geral do Património Cultural, Câmara Municipal do Porto e Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia

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Esta petição visa impedir a destruição do Jardim de Sophia (à Praça da Galiza) e o abate de 503 sobreiros em Gaia na construção das linhas Rosa e Amarela da Metro do Porto. Somos favoráveis a meios de transporte limpos e sustentáveis, com baixas emissões carbónicas mas denunciamos o incumprimento da Declaração de Impacte Ambiental (DIA) pela Metro do Porto e exigimos alternativas mais baratas e com menores prejuízos ambientais.

Na construção da linha Rosa, a Metro estava obrigada pela DIA, emitida pelo Ministério do Ambiente e que tem carácter vinculativo, a «compatibilizar a conceção da estação da Galiza com a preservação integral do Jardim de Sophia, único, de autor e que se apresenta em estádio maduro [...], de desenho contemporâneo e único na cidade do Porto, cuja integridade física deve ser mantida». A Metro do Porto pretende desrespeitar essa injunção, insistindo na destruição do jardim como inevitável, argumentando que irá construir outro jardim sobre a estação, como se arrasar um jardim para depois das obras eventualmente plantar lá umas árvores fosse a mesma coisa.

No caso da linha Amarela, a DIA determinou a "revisão do projeto" para que este assegure a preservação integral do habitat de sobreiros do Monte da Virgem, porque se trata de um habitat protegido «de inegável valor ecológico e acrescentado valor sociocultural, educacional e paisagístico». A Declaração de Impacte Ambiental recomenda ainda que sejam identificadas «alternativas mais favoráveis para a localização do parque de materiais, que também afeta vários exemplares de sobreiro». Estas injunções foram igualmente menorizadas pela Metro, que pretende abater 139 sobreiros no Monte da Virgem e 364 sobreiros no local que destinou ao parque de materiais.

Considerando que há alternativas ao abate de sobreiros e à destruição do Jardim de Sophia, alternativas essas que a própria DIA exige, defendemos que tais projetos devem ser rejeitados para que sejam salvaguardados os valores ambientais e patrimoniais da região.

Para mais informações consulte

Um mundo urbano utópico destruiu o mundo rural

Recusava-se a chamar floresta aos eucaliptais e às manchas de pinheiro-bravo, deixou um alerta dramático para o fim das aldeias e do mundo rural, nesta entrevista ainda inédita, realizada pelo jornalista José Alex Gandum.


Gonçalo Ribeiro Telles desapareceu há poucos dias, aos 98 anos de idade, mas deixou uma obra muito extensa na área da arquitectura paisagista. Em miúdo, ia muitas vezes a casa de um tio-avô que morava num 5º andar na Rua das Pretas, em Lisboa. Foi ali, à janela, a olhar para a cidade, que despertou no futuro arquitecto paisagista um espírito arquitectónico, paisagístico e crítico.

Político, passou por diversos Governos e esteve na génese de inúmeras medidas ambientais, ainda hoje vigentes. Visionário, Ribeiro Telles lamentava-se, contudo, em muitas das conferências e das entrevistas que dava, que os poderes instituídos não o deixavam fazer tudo aquilo que ele pretendia fazer. Ainda assim, fez muito, não só na capital (onde os Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian se destacam. mas também o Jardim Amália ou o Corredor Verde de Lisboa).  

Professor, tem dito que em face do mundo actual toda uma filosofia sobre áreas protegidas – muitas das quais tiveram a sua assinatura – e sobre a conservação da natureza está ultrapassada. Porque razão tem essa ideia? Porque o mundo rural está a acabar. Não se pode inventar todas as potencialidades e funções do mundo rural através de uma nova visão de conservação da natureza. É preciso encarar o problema de frente e não é com o desenvolvimento das áreas protegidas e com novos estudos que se chega a alguma conclusão.

Mas as áreas protegidas não são importantes? As áreas protegidas têm importância e continuarão a ter, mas como laboratórios, referências, modelos, pedagogia… e isso interessa a quem? Interessa principalmente aos que não são do mundo rural. As áreas protegidas foram feitas para desenvolvimento científico como laboratório e para dar a conhecer àqueles que não são do mundo rural qualquer coisa que possa justificar esse mundo. Ah, e para criar bons empregos desnecessários a pessoas que fazem parte da elite governativa. Mas o que se verifica hoje – e que é gravíssimo – é a queda drástica do mundo rural, o que vai arrastar todas as políticas relativas às áreas protegidas.

E de quem é a culpa para a queda do mundo rural? O principal culpado é o fenómeno urbano, que afastou as populações das aldeias, condenando à morte as aldeias, e tornando este país num caos… foi também a reflorestação errada, que acabou por provocar… desflorestação. Aliás, a desflorestação foi o primeiro acto de despovoamento. A desflorestação é um fenómeno urbano, pois parte de decisões tomadas nas cidades, decisões que preferem criar um grande mercado internacional em detrimento dos mercados locais. E é assim que se mandam vir produtos de locais a milhares de quilómetros de distância, aumentando aquilo a que chama a pegada ecológica, quando esses produtos podiam ser produzidos localmente.

E aponta alguma solução para os incêndios florestais em Portugal? Incêndios florestais? Portugal não tem incêndios florestais…

Como assim, Professor? Se todos os anos ardem milhares de hectares de floresta… Ardem milhares de hectares de eucaliptais e aglomerados de pinheiro bravo. Isso não é floresta. A verdadeira floresta felizmente não arde ou arde pouco. Conhece grandes incêndios em florestas de castanheiros ou no montado?

Pois, na verdade não. Mas mesmo os outros incêndios são muito prejudiciais para a biodiversidade, não? Claro. Nos tempos pré-históricos alguns incêndios tinham uma função útil, mas hoje em dia são completamente inúteis. Destroem os solos, dizimam milhões de animais e os seus habitats, e espalham muito CO2 que não faz falta nenhuma… além do mal que fazem às populações rurais, as quais só pensam em fugir para locais mais “seguros”, leia-se vilas e cidades… e até para o estrangeiro.

Mas não se pode fazer nada para conter esses tais incêndios? Desde que a pastorícia acabou e as aldeias começaram a ficar vazias ou quase só habitadas por velhos, ficou cada vez mais difícil evitar grandes incêndios nas manchas de eucalipto e pinheiro bravo. E a coisa é regular: os grandes incêndios vão repetir-se ciclicamente, é que a vegetação cresce e fica disponível para arder a cada sete, oito anos. E isto porque nesse intervalo os poderes políticos e económicos nada fizeram para o evitar ou mitigar. Sendo que os incêndios no futuro serão ainda mais catastróficos por causa do aquecimento global, coisa que muita gente, até cientistas, ainda não acredita.

Há nisto tudo um problema de ordem cultural? Exactamente, e isso ultrapassa até o problema económico. Esse problema de ordem cultural até destrói a esperança. O que vemos à volta é um caos distorcido. Há que recuperar uma dignificação do mundo rural para uma função essencial para a espécie humana, que é o contacto com a natureza, a produção de alimentos, fornecimento de água, etc.… enquanto é tempo.

Então, como vai ser a cidade do século XXI? Na relação urbano-rural temos de rever desde a base a ideia se necessitamos ou não do mundo rural. O maior problema é a destruição do mundo rural pela frustração do desaparecimento específico de espécies, pela morte das aldeias, não há caminhos locais, fecham-se escolas e outros serviços públicos. É claro que as pessoas que conseguem sair das aldeias, saem, e vão para as vilas e para as cidades. Ficam os que não conseguem sair, normalmente os mais velhos… e depois ainda há a questão da agroquímica, que vai acabar com o resto da agricultura tradicional.

Mas não se poderia transportar um pouco do mundo rural para as cidades? Hoje pensam-se as cidades em grandes edifícios, com muitos andares, com uma vacaria no 1º andar, com uma horta no telhado, com umas palmeiras nas empenas… utopia que só serve para desclassificar o mundo rural. Até porque o problema da biodiversidade está intimamente ligado com o mundo rural, não vale a pena fazermos charquinhos com rãs se não houver uma preservação e uma dignificação do mundo rural. Posso dar-lhe um exemplo aqui bem perto da falta de respeito do urbano intelectualóide pelo rural genuíno: o espaço que fica entre as dunas e a barreira das falésias da Costa da Caparica são os terrenos agrícolas mais produtivos da Europa, porque se conjugam ali uma série de factores propícios à agricultura, inclusive gente que sabe trabalhar a terra. No entanto, aprova-se um Polis que quer encher aquele espaço de construções para bairros sociais, em forma de caixotes intervalados com pequenos metros quadrados de relva que ainda por cima consome água da companhia…

Mas os bairros sociais também são necessários… Claro que são, mas não devem ser construídos em espaços agrícolas. Ainda há muito terreno com menores aptidões agrícolas que podem ser urbanizados.

Qual é a relação de um mundo que está a desaparecer, de um mundo de que dependemos historicamente, até dos seus conhecimentos, e como vamos substituir quer no tempo quer espacialmente esse mundo? Tudo se resume ao problema do desaparecimento das aldeias. É a própria história da humanidade que é mutilada. E depois também há motivos dos quais ninguém fala e que também afastaram as novas gerações do campo. Por exemplo, nos foros do Ribatejo e do Alentejo cresceram herdades ou companhias que enriqueceram muita gente, pela qualidade dos solos e a aposta certa em certas culturas. Mas isso também trouxe o reverso da medalha: os filhos e netos desses proprietários puderam ir estudar para as cidades e para o estrangeiro e quase nenhum voltou à sua terra – uma excepção ou outra no que toca aos vinhos, mas pouco mais.

Em resumo, muita coisa contribuiu para o desaparecimento do mundo rural: o não aproveitamento dos baldios, o fim da pastorícia, o alastramento da agroquímica com culturas cada vez mais intensivas em detrimento da agricultura tradicional adaptada aos solos e ao clima, os interesses da floresta industrial e da celulose, e em grande parte também por culpa dos que decidem estas coisas a partir de gabinetes nas grandes cidades sem nunca terem sujado as mãos na terra.

O problema da sustentabilidade já não se põe com o mundo rural mas com um mundo urbano utópico.

A Economia da Felicidade, de Francisco e o caminho da transformação


No caso dos economistas, é muito fácil perceber quando estão a mentir: 1. quando se põem a prever o futuro; 2. quando dizem que não fazem, nem se metem em, política.

Na verdade, a ciência social, que é a economia, lida com fenómenos humanos e sociais que, ontologicamente, são de previsão fina impossível. Ao contrário da física, que é regida por leis, na economia não há tal coisa, apenas tendências de comportamento individual e coletivo. Ao mesmo tempo, o objeto sobre o qual atuam as políticas económicas são as pessoas e as sociedades. Ora, ao contrário do betão, que reage sempre de mesma forma à pressão que sobre ele é exercida por uma dada estrutura de engenharia, os seres humanos e as sociedades reagem de formas sempre diversas, nomeadamente porque conseguem antecipar as políticas, adaptando-se ou transformando-se.

Por outro lado, os engenheiros não têm que ter preocupações ideológicas, uma vez que não nos temos que preocupar com a “vida” do betão. Já os economistas, como todas as políticas que advogam afetam fortemente a vida das pessoas, e a vida humana e a sua qualidade é tudo o que importa, têm que explicitar quais são os seus pressupostos ideológicos.

Se é possível fazer ciência económica, tentando encontrar quais os determinantes de certos fenómenos da economia (ainda que com muitas dificuldades, por falta de dados e de condições experimentais), já não é possível fazer qualquer aconselhamento de política sem um teor ideológico.

Infelizmente, aquilo que mais vemos são economistas com voz pública a debitarem o que deve ser feito em termos de políticas económicas, arrogando-se de uma suposta neutralidade.

Na prática, o que fazem é proclamar um conjunto de medidas que, supostamente, são as mais conducentes ao crescimento económico, dizendo que isso é “o bem” da sociedade e da economia (tanta ideologia aqui!).

Acontece que isso é falso! Falso porque algumas dessas conclusões derivam de modelos fantasistas, sem provas empíricas; e porque não é o crescimento económico, em si, que cria o bem-estar humano.

Não é por as sociedades ficarem mais ricas que, necessariamente, as pessoas vivem melhor, são mais felizes, nem que o planeta é sustentável.

Aliás, quando Simon Kuznets criou o PIB, disse, expressamente, que esse não era um indicador de bem-estar, apenas uma contabilidade da produção anual de uma nação.

Acontece que a cegueira ideológica que, infelizmente, domina a academia económica, elevou o PIB ao estatuto de grande objetivo da economia, levando os políticos e as organizações internacionais por arrasto (FMI, Banco Mundial, OCDE ou U.E.), com o beneplácito financiador daqueles poucos que, de facto, beneficiam sempre muito com o crescimento económico.

Mas o séc. XXI está a dar provas empíricas (a pandemia é apenas um exemplo) de que essa cegueira ideológica tem que terminar: crescer economicamente não garante a paz, a felicidade nem a sustentabilidade.

Mais do que um problema de quantidade, temos um problema de qualidade e temos de responder às questões: como crescer? para quê crescer?

Como os economistas do séc. XVIII e XIX bem sabiam, e os economistas da felicidade o recordam agora, só faz sentido crescer se produzirmos felicidade, algo que não é automático (como a maioria dos economistas atuais pensa), pois que o aumento do PIB não garante o aumento da felicidade (hoje sabemo-lo cientificamente). E como os ecologistas nos avisam, só podemos crescer na justa medida em que o planeta aguente e se regenere.

Assim, é precisa uma forte mudança: cultural, institucional e ideológica.

Para essa mudança, quer a Economia da Felicidade, quer a Economia de Francisco podem ser fortes contribuintes.

A economia da felicidade, ramo de investigação da ciência económica, já com mais de 25 anos de produção científica ao mais alto nível, ensina-nos que a relação entre o PIB e a felicidade não é linear, e que quanto mais rica é uma nação, menos o PIB consegue gerar felicidade adicional.

E isso acontece porque os seres humanos não são, nem se comportam como, as máquinas hiper-racionais, monetariamente calculistas, que surgem nos livros de economia ensinados nas faculdades.

Ao contrário, somos seres que se adaptam (ao que ganhamos e ao que perdemos), se comparam (consigo próprios no passado, com os outros e com os quadros de referência), têm expectativas (e ficamos felizes se as superaremos, infelizes se as frustramos), se posicionam socialmente (tendo prazer em estar no topo e sofrendo estando na base), agem de acordo com princípios de altruísmo, empatia e reciprocidade e para os quais os bens relacionais são mais importantes que os materiais.

Mais, as diferentes dimensões da nossa vida não são substituíveis: não se compra amor com dinheiro, nem se obtém realização profissional através do lazer.

Acontece que o crescimento económico desenfreado do séc. XX produziu muita coisa à custa da destruição de afetos, de laços sociais, de saúde mental, de beleza natural, de silêncio, de culturas locais e de esquemas de cooperação, acicatando uma competição individualista maligna. E muito do que produziu foi poluição e produtos conspícuos e viciantes, que não são capazes de produzir felicidade duradoura.

Ter mais bens materiais, mas ter menos tempo livre, menos família, amigos e colegas, menos cooperação e estabilidade no trabalho, menos solidariedade, menos vizinhança ou menos beleza natural é uma via de perda de bem-estar. Isto, a ciência da felicidade já nos demonstrou.

Ao mesmo tempo, a Igreja Católica está comandada por um Papa interventivo, que quer que o mundo seja guiado pelo amor fraterno cristão, “todos irmãos, todos filhos de Deus”.

Nessa lógica, foi criada a iniciativa “Economia de Francisco”  que mais não é que uma doutrina económica que visa “fraternizar” a economia global, não permitindo que, sob o pretexto do crescimento económico, valha todo o desrespeito pelo ser humano e pela natureza.

O Papa denuncia os males que a globalização desregulada e os mercados sem freio têm provocado, desde a desigualdade crescente entre as pessoas, passando pelas guerras ou pela exploração insustentável dos recursos naturais (ver a Encíclica “Fratelli Tutti” de 2020).

Esta interessante convergência entre a Economia da Felicidade e a Economia de Francisco, com economistas como Jeffrey Sachs, Stefano Zamagni, Leonardo Becchetti ou Stefano Bartolini – que tenho o prazer de conhecer pessoalmente das conferências académicas da economia da felicidade, que tenho acompanho desde 2005 – a estarem nos dois “campos de batalha”, permite a comunhão de pessoas: os que vêm pelo lado da ciência (Economia da Felicidade) e os que vêm pelo lado da doutrina cristã (Economia de Francisco). Todos compreendendo que o modelo económico para o séc. XXI já não pode ser o do séc. XX, extractivista, consumista, materialista.

Temos de encontrar alternativas num crescimento moderado, sustentável, redistributivo e de qualidade. Só assim se produzirá uma efetiva felicidade sustentável.

Os economistas que negam isto têm uma visão psicopática, uma cegueira ideológica pela produção material, negando a natureza empática, cooperativa, relacional, contemplativa e espiritual do ser humano.

De resto, precisamos de todos, para fazer esta mudança acontecer.

2020- Balanço da ONG AVAAZ





Queridos amigos e amigas ao redor do mundo,
Não poderíamos terminar 2020 sem enviar um MUITO OBRIGADO enorme a cada membro desse incrível movimento!!!
Em um dos anos mais sombrios da nossa era, brilhamos mais do que nunca juntos. Alimentamos, protegemos e cuidamos uns dos outros, nos conectamos e nos empenhamos ao máximo para melhorar a situação que vivemos. Não apenas por nossas famílias e vizinhos, mas também por centenas de milhares de pessoas em todo o mundo. Quando Nareyio diz que salvamos vidas é porque, de fato, salvamos.
Basta ver o trabalho incrível que realizamos juntos durante esses doze meses extraordinários:

Janeiro -- 2020 começou em meio às chamas, com incêndios tão enormes na Austrália que podiam ser vistos do espaço. Nosso movimento não perdeu tempo e arrecadou fundos para apoiar os defensores ambientais australianos, ajudar na recuperação das florestas e resgatar coalas, cangurus e outros animais selvagens feridos e famintos.
Rescued wildlife, safe in the hands of volunteer carers
Animais selvagens resgatados, seguros nas mãos de cuidadores e veterinários voluntários em New South Wales, Austrália.
Fevereiro -- Enquanto o mundo começava a descobrir o pesadelo vivido pelo povo uigur, uma minoria presa nos brutais campos de trabalho da China, membros da Avaaz se uniram por sua liberdade: lutamos por sanções, pressionamos o maior fundo de pensão do mundo para encerrar seu investimento em uma grande empresa de vigilância chinesa e pedimos para que a Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU iniciasse uma investigação.
Março -- Com a disparada dos casos de Covid, quase 800 mil membros da Avaaz se uniram para exigir que os líderes mundiais suspendessem a dívida dos países mais pobres do mundo, liberando fundos importantes para salvar vidas. Unimos forças em um dia de ação global e vimos o pedido de alívio da dívida ser apoiado pelo Papa, por chefes de Estado e por mais de 150 ex-presidentes. Até agora, 46 países conseguiram adiar o pagamento de bilhões de dólares em dívidas -- mas não paramos por aqui!
Abril -- Quando o lockdown foi decretado no mundo todo, membros da Avaaz de todos os países abriram seus corações e mostraram o que é ter empatia, criando mais de mil grupos de ‘Gentileza Viral’ para oferecer ajuda em suas comunidades enquanto a pandemia se intensificava. Mas isso não foi tudo! Mais de 2 milhões de membros apoiaram o apelo do Secretário-geral da ONU por um cessar-fogo global -- e o Conselho de Segurança, pela primeira vez na história, adotou esta medida! Uau!
UN Chief, António Guterres
Maio -- Não fechamos os olhos enquanto a Covid desencadeava uma epidemia de pobreza e fome! Mais de 130 mil membros da Avaaz arrecadaram fundos para salvar vidas em 23 países. Somente na Índia, fornecemos cinco milhões e meio de refeições a pessoas em situação de extrema necessidade. CINCO MILHÕES E MEIO DE REFEIÇÕES! Também publicamos uma carta aberta assinada por médicos importantes no jornal estadunidense New York Times, chamando a atenção dos executivos das redes sociais -- e fazendo com que o Facebook mostrasse correções sobre fake news perigosas relacionadas à saúde.
Akbar, a garbage picker from the Pakhiwas community in Pakistan
“Não somos mendigos. Coletamos lixo diariamente para vendê-lo, mas por causa do lockdown e do medo do coronavírus não conseguimos vender. Isso nos ajudará a alimentar nossos filhos, que estão com fome.”
Akbar, catador de lixo de Pakhiwas, no Paquistão (sem foto)
Junho -- Os membros brasileiros da Avaaz lutaram durante todo o ano por uma lei inovadora que protegesse a democracia e combatesse a desinformação. Após uma enorme pressão pública, a lei foi aprovada pelo Senado, apesar do lobby cruel das grandes empresas de tecnologia. Conseguimos eliminar medidas perigosas e incluir mecanismos de transparência muito eficazes na legislação. Há ainda um longo caminho a ser percorrido, mas em 2021 poderemos finalmente ter uma lei do povo contra a desinformação -- e levar estes esforços para o mundo todo!
Julho -- Enquanto a Covid ameaçava os fundos de preservação da vida selvagem, os membros da Avaaz se uniram para proteger os empregos dos guardas-florestais e ajudar a fortalecer uma equipe incrível de investigadores infiltrados. Eles expuseram poderosos círculos de caça predatória, levando a 849 investigações criminais e à prisão de 50 grandes traficantes de animais selvagens em Camarões, Gabão, Benin e Senegal. E eles continuam investigando!
Agosto -- Então o impensável aconteceu: uma explosão assustadora atingiu Beirute e 300 mil pessoas ficaram desabrigadas em um piscar de olhos. Graças aos nossos membros no mundo todo, disponibilizamos ajuda financeira em poucos dias, que foi fundamental às operações de resgate, ao fornecimento de suprimentos emergenciais e para abrigar milhares de famílias. Enquanto isso, nossas investigações sobre a desinformação relacionada à saúde resultaram em um relatório revolucionário que foi notícia no mundo todo!
Setembro -- A essa altura, etnias indígenas vivendo em lugares isolados da Amazônia estavam sendo devastadas pela Covid. As comunidades indígenas estavam se mobilizando para salvar vidas, mas precisavam de recursos que os governos da região se recusavam a fornecer. Mas então nos unimos -- e disponibilizamos fundos para que as comunidades pudessem montar clínicas, comprar kits de testes e entregar suprimentos médicos cruciais em toda a Amazônia. Apoiamos mais de 35 mil famílias e ajudamos a evitar o desaparecimento de culturas indígenas únicas. Inacreditável!
A map of the Amazon rainforest
Esse é um mapa da floresta amazônica (em cinza escuro). Cada ponto vermelho é um ponto crítico de transmissão da Covid-19, e as áreas em azul são comunidades amazônicas apoiadas pelo fundo emergencial da Avaaz.
Outubro -- E não tiramos os olhos do planeta nem por um segundo! Quando a Europa propôs uma nova e poderosa lei contra o desmatamento, membros da Avaaz responderam em massa à consulta pública, dando a maior resposta que a União Europeia (UE) já viu em um assunto ambiental! Também lutamos contra um oleoduto destruidor na África Oriental e fizemos pressão para garantir que um novo acordo comercial importante incluísse a proteção da Amazônia. Ainda não conseguimos essa vitória, mas seguimos lutando!
Novembro -- Ao longo de 2020, nosso movimento trabalhou sem parar para defender a democracia estadunidense contra a desinformação. Lançamos mais de 32 investigações que desvendaram enormes redes de disseminação de desinformações nocivas e pressionamos o Facebook a derrubar páginas e grupos que acumularam cerca de 3 BILIÕES de visualizações ao longo do último ano. Nosso impacto foi divulgado por grandes veículos, como New York Times (em inglês), CNN (em inglês), Washington Post (em inglês) e Economist (em inglês), entre outros
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Joyce Jones, US Mayoral Candidate
"Acredito que a luta contra a desinformação e o ódio espalhado pelas redes sociais é a próxima grande luta pelos direitos civis de nosso tempo".
Joyce Jones, política estadunidense, que se juntou à Avaaz e às vítimas da desinformação em todo o mundo para pedir que o Facebook ‘Mostre os Fatos’ em casos de desinformação.
Dezembro -- Após meses de campanhas climáticas duras, os líderes da UE concordaram em reduzir as emissões de carbono em pelo menos 55% nesta década. Os membros da Avaaz em toda a Europa pressionaram seus governos e financiaram anúncios impactantes para ajudar a garantir esse grande avanço climático. Você ainda tem dúvidas se a pressão pública fez a diferença? A própria Presidente da Comissão Europeia nos agradeceu pessoalmente por motivá-la!
Some the powerful climate ads we've run
Alguns dos anúncios climáticos mais impactantes nos principais jornais deste ano -- inteiramente financiados por membros da Avaaz.

UAU! Fizemos tudo isso (e muito mais!) juntos, nesse nosso movimento incrível, com 65 milhões de pessoas em todos os países deste planeta maravilhoso.
Toda vez que disserem que a humanidade é egoísta e corrompida, lembrem-se disto: em um ano de medo e lockdown, nós encaramos o desafio e abrimos nossos corações com compaixão para milhares de pessoas em todo o mundo.

Nós somos assim.
E isso, mais do que tudo, deve nos encher de esperança. Esperança de que, ao olharmos para o futuro, a gente nunca duvide do que podemos alcançar juntos -- porque quando nos unimos, somos capazes de muito mais do que poderíamos sequer imaginar.
Do fundo dos nossos corações, obrigado!
Mike, Ana Paula, Andrea, Noor, Sofia, Raul, Ine, Hui-Ting, Nana, Christoph, Bert e toda a equipe da Avaaz