sábado, 16 de outubro de 2004

Dia Mundial da Alimentação - "Biodiversidade é Segurança Alimentar"

Transcrevo e concordo na íntegra o comunicado de várias ONG subscreveram e divulgaram a prpósito do Dia Mundial da Alimentação. Recorda alguns factos, levanta alguns problemas e aponta soluções, que urgem ser resolvidas, a bem da biodiversidade em geral, protecção para a biodiversidade agrícola e a bem da nossa segurança alimentar.

A foto mostra um banco de germoplasmas de batatas bolivianas. Fonte : Opinion

16 de Outubro - Dia Mundial da Alimentação
Quercus e Plataforma 'Transgénicos Fora do Prato' pedem protecção para a biodiversidade agrícola portuguesa.

O Dia Mundial da Alimentação foi instituído pela FAO (Food and Agriculture Organization, das Nações Unidas) para comemorar a sua fundação, em 1945, data que marcou o início do combate internacional organizado contra a fome no mundo.
Em 2004 este Dia Mundial é celebrado em torno do tema 'Biodiversidade é Segurança Alimentar', o que significa o reconhecimento oficial da necessidade de maximizar em todo o mundo o número de variedades vegetais e raças animais empregues na agricultura, ao arrepio do último século em que, segundo a própria FAO, se assistiu à perda de 75% de toda a diversidade genética anteriormente disponível. Neste momento 90% de todos os nossos alimentos provêm de 15 plantas e 8 animais, e 50% de todas as calorias são provenientes de apenas três cereais: trigo, milho e arroz. Para um exemplo concreto desta normalização alimentar repare-se na maçã: das 8000 variedades existentes na Europa há 100 anos atrás, menos de 90 são ainda mantidas comercialmente no século XXI.
As tendências que conduziram à actual situação de erosão genética e agrícola não aconteceram por acaso ou coincidência: são o fruto de uma estratégia bem intencionada mas mal direccionada que promoveu as monoculturas, os inputs baseados em combustíveis fósseis, a uniformização da paisagem e uma industrialização que depende de maquinarias complexas ao mesmo tempo que
exclui as pessoas. Os resultados, insustentáveis, estão à vista: segundo um estudo da Universidade de Essex, só no Reino Unido a agricultura custa anualmente à sociedade britânica cerca de 3.8 mil milhões de dólares, ou seja, 377 dólares por cada hectare cultivado. Este é o valor das externalidades, que não são incorporadas no preço final dos alimentos nem são reembolsadas à sociedade, e incluem factores como o custo da eliminação de pesticidas da água de beber, a reparação dos estragos causados pela erosão do solo e o combate à poluição do ar de origem agrícola, entre muitos outros. Os valores para Portugal não estão calculados mas estima-se que atinjam a mesma ordem de grandeza.

Só com a protecção e promoção da diversidade agrícola será possível alimentar a população mundial em crescimento. Basta lembrar que uma das últimas grandes fomes europeias, que conduziu à morte de dois milhões de pessoas na Irlanda do sécula XIX, foi causada por uma praga que destruiu toda
a cultura de batata - já na altura dependente de uma só variedade, sensível ao fungo em causa.

A introdução de plantas geneticamente modificadas na agricultura - acelerada no passado mês de Setembro pela decisão da Comissão Europeia de aprovar para toda a União 17 variedades de milho transgénico - vem acelerar as tendências redutoras da agricultura intensiva actual e assim pôr em risco a segurança alimentar de centenas de milhões de pessoas. Vale a pena atentar no exemplo da
soja transgénica: existe uma única variedade difundida em todo o mundo, semeada neste momento em mais de 40 milhões de hectares - e se esta variedade se revelar, inesperadamente, sensível a alguma praga como aconteceu à batata na Irlanda?

Portugal tem de proteger as variedades tradicionais (de plantas e animais) que ainda lhe restam como seguro para a sua própria segurança alimentar futura.
Nesse sentido o Banco Português de Germoplasma Vegetal é uma das iniciativas a apoiar decisivamente, abrindo-a à interacção natural com os agricultores portugueses - as plantas transgénicas, por outro lado, e considerando que já contaminaram os centros de diversidade mais fulcrais do planeta, têm de ser simplesmente proibidas enquanto se mantiverem uma tecnologia incontrolável.

Sem comentários: