terça-feira, 19 de julho de 2005

Um País Insustentável

Aproximam-se as campanhas para as autárquicas...já se sentem os motores a roncar por parte dos partidos mas é preciso muita exigência e maior participação de todos os munícipes e cidadãos, ao fim e ao cabo. Quando li este artigo do Prof. Carlos Cupeto neste sábado no Público (que reproduzo na íntegra), encontrei muitas afinidades daquilo que penso sobre as causas da insustentabilidade e o desnorte em que nos encontramos.

Depois de muita insistência por parte de ONG e de conclusões retiradas em Seminários, Congressos e Colóquios promovidos por várias entidades universitárias para que os Governos apostassem na formação de clusters e Comissões de estudo de problemas socioambientais, lá se formaram a muito custo as primeiras Comissões e Plano Nacionais Estratégicos. Contudo, tem-se assistido, ao longo destes últimos 10-15 anos, a um hábito insustentável: formam-se várias Comissões/Planos sempre que há um novo governo ou cor partidária. Voltam-se a investir em novos pareceres técnicos, investem-se em reuniões de trabalho, papeladas e até publicações e depois com a passagem para nova cor partidária os Planos/ Comissões de Estudo do Governo anterior ficam metidos na gaveta. PARA NO FIM FICAR TUDO EM NADA.

Esta situação de não continuidade, de caminhos curva-contra-curva e sem impacto positivo na correcção de comportamentos mais sustentáveis por parte de todos os cidadãos, é extremamente desesperante e realmente INSUSTENTÁVEL, derrubando qualquer premissa e boas intenções que estão na base das ideias originais e reais da maioria das pessoas que estão à frente das ONG e da Investigação e Ciência em Portugal.

Houvesse um tratamento mais sério do ordenamento do território, com mais apoios, contratação de técnicos licenciados e formação de pessoas e AUTARCAS para aderirem (abraçarem) a estas ideias como:


e a estes projectos/princípios


Que nestas campanhas rejeitássemos novas demagogias, em que os candidatos já estão piscar os olhos aos amantes e vigilantes da Natureza ( veja-se o PS a falar do Parque Oriental, veja-se o Rui Rio a falar das ciclovias,...) e a nível nacional outra vez o TGV,o choque tecnológico, os parques eólicos, blah, blah blah

Houvesse maior compreensão, compaixão e mais cuidado pelo Vivo e por mais respeito para com os cidadãos excluídos.
Neste aspecto quero registar um excelente texto do Pimenta Negra 

PORQUE RAIO TEMOS QUE SUPORTAR UMA ESCRAVIDÃO DO CONSUMISMO, ESPECULAÇÃO IMOBILIARIA E DA PETROLEODEPENDENCIA???

PORQUE TEIMAMOS EM PADECER??

ARTIGO ORIGINAL
(in: Público, 16 de Julho de 2005)

Portugal Insustentável

Por Carlos Alberto Cupeto, Professor na Universidade de Évora

Director da Tterra - auditoria, projecto e técnicas ambientais, lda.

O tema é recorrente e todos se habituaram a usa-lo.

Provavelmente estamos só a viver o início de uma profunda realidade
insustentável.


Todos, nos mais variados contextos, usam e abusam da expressão "desenvolvimento sustentável". Pelo menos desde a Conferência do Rio, em 1992, já lá vão treze anos, que o assunto merece atenção séria e, em Portugal, continua-se a muito falar e a pouco ou nada fazer. Depois de vários momentos de legitimas expectativas estamos novamente no ponto de partida (Resolução do Concelho de Ministros nº 112 de 30 de Junho de 2005), vamos configurar a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável. Esta é uma prática comum em Portugal e o próprio Ministro do Ambiente, Nunes Correia, em 1996 viu o seu Plano Nacional do Ambiente metido na gaveta pelo governo socialista. Cerca de dez anos depois a prática continua a fazer escola. Sócrates seguiu o mesmo modelo -"vamos recomeçar e agora é que vai ser". Quanto custa ao país este faz de conta?

Agora, em 2005, vamos ter uma nova equipa de trabalho, certamente com uma cor mais rosa, e reavaliar tudo. Fazer uma Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável é o primeiro e grande objectivo. Tudo o que o antecedeu é papel.

Papel no lixo, papel muito caro ao país. Quanto mais se fala em economia de recursos mais meios se desperdiçam. Em matéria de "sustentabilidade" provavelmente, tudo, ou quase, pode e deve ser questionado e permanentemente monitorizado mas pior de tudo é nada fazer. Assim é em Portugal. Da água à energia, passando pela floresta ou pela paisagem Portugal constitui, cada vez mais, um exemplo de insustentabilidade.

O actual tema da energia, leia-se petróleo, é excelente para demonstrar a insustentabilidade de Portugal. Portugal vive o pesadelo da falta de fontes de energia próprias. Neste contexto a margem de manobra de Portugal é cada vez menor e é no sector da energia que mais se sente o carácter periférico do país.

É assumido que a causa dos principais problemas de sustentabilidade (despovoamento do interior, impactes económicos, sociais e ambientais negativos, etc.), a diferentes escalas, está directamente relacionada com a produção, distribuição e utilização da energia. A não sustentabilidade do consumo da energia - cerca de dois terços da energia produzida é desperdiçada nos processos de transformação - a bem da nossa qualidade de vida, deve, a curto prazo, estar condenada. O Governo apontou, com, pelo menos, dez anos de atraso, as energias renováveis, designadamente a eólica, como uma forte aposta estratégica. Depois de casa arrombada trancas na porta, apetece dizer. Por outro lado alguns especialistas começam a questionar, credivelmente, esta opção como verdadeiramente alternativa. Basta pensar que toda esta indústria assenta no, incontornável?, petróleo.

A história da ascensão e declínio das grandes civilizações da humanidade, assentes inicialmente no consumo de madeira, depois de carvão, tem sempre a mesma causa e conduz sempre ao mesmo resultado. Porque razão vai ser diferente com o petróleo?

Entramos então numa conjuntura que aponta inequivocamente para a necessária utilização racional da energia. Mas o que fazemos para isso? Nada. Ou melhor, escrevemos Estratégias Nacionais de Desenvolvimento Sustentável.

Quando se consome mais do que se produz e, ainda por cima, se consome mal o resultado não é bom. Provavelmente estamos só a viver o início de uma profunda realidade insustentável.

O modelo da nossa economia baseia-se na linearidade que carece da injecção contínua de quantidades crescentes de energia não renovável, gerando quantidades crescentes de resíduos. Em oposição a alternativa configura-se em modelos circulares onde o consumo de energia e matérias primas é racional e, em grande escala, os produtos residuais são reciclados e reutilizados. Esta, a diferentes escalas, em todos os sectores, deverá ser a opção de Portugal. Não há alternativa.

O grande desafio da sustentabilidade tem de ser planificar e gerir um pais de baixa energia. Entretanto, enquanto for possível, vamos continuar a assistir ao duplamente caro exercício de escrever estratégias de sustentabilidade.

Portugal é de facto um país insustentável. Falta só saber até quando?

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