Numa reação precipitada aos resultados do PISA 2022, dois dos nossos liberais de serviço coincidiram num adjetivo: «descalabro». Assim se expressou o habitualmente ponderado Alexandre Homem Cristo: «PISA 2022. Descalabro. Resultados de Portugal são os piores desde PISA 2006 (...)». Quase se limitando a citar, diz Rui Rocha, da Iniciativa Liberal: «As avaliações do PISA 2022 são um descalabro. A gestão socialista fez os resultados retrocederem praticamente duas décadas. Piores resultados desde 2006 (...)».
Não fora tanta a pressa e talvez Homem Cristo e Rui Rocha tivessem podido constatar que se trata de uma queda generalizada e «sem precedentes» ao nível da OCDE. E que traduz, no essencial, o impacto da pandemia nas escolas e nas aprendizagens. De facto, como assinala o IAVE no Relatório Nacional, o desempenho global na OCDE caiu em média, entre 2018 e 2022, «15 pontos a matemática e 10 pontos a leitura», quando «em duas décadas de estudo PISA, a pontuação média da OCDE nunca flutuou mais de quatro pontos a matemática ou cinco pontos a leitura entre avaliações consecutivas». É isto, «que torna os resultados do PISA 2022 tão singulares».
Analisando o relatório PISA 2022 com a devida calma e ponderação, estes nossos liberais poderiam constatar, ainda, que depois da melhoria gradual dos resultados dos alunos portugueses, que permitiu uma aproximação progressiva às médias da OCDE, na primeira década deste século (sim, na tal «década perdida», segundo Crato), Portugal passou a estar alinhado com os valores da organização. E isso que, como mostra o mapa aqui em cima, sucede no PISA 2022: a descida de Portugal no PISA, entre 2018 e 2022, acompanha o ritmo de descida da OCDE, sem diferenças estatisticamente relevantes.
Coisa que não sucede, já agora, nos sistemas educativos de insuspeitos países do norte europeu, em que as quebras de valores médios do PISA, entre 2018 e 2022, vão além dos -14 pontos registados em Portugal e na média da OCDE (como sucede no caso da Alemanha, França, Países Baixos, Finlândia ou Noruega).
Na verdade ninguém quer saber do Pisa. Os 20% q se poderiam interessar já têm os filhos em escolas privadas. E isso é que preocupa a IL e o Chega. Investem em colégios e os vossos estudantes/filhos afinal não são "excelentes".
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